Cia do Tijolo – Parte 1

Bate-Papos   |    e    |    7 de janeiro de 2012    |    0 comentários

Esta entrevista é muito importante no projeto da Bacante. Não só porque a transcrição foi a mais trabalhosa de nossa história (mais até do que essa do grupo Clows de Shakespeare), mas principalmente porque a ideia de conversar com todos os integrantes da Companhia do Tijolo em 2010 surgiu puramente do mesmo desejo que fez surgir a própria Bacante: o desejo de conversar sobre trabalhos artísticos em teatro que nos encantam e nos despertam. A peça Concerto de Ispinho e Fulô – que volta ao cartaz no dia 10/1/2012, no Sesc Pompeia, depois de uma longa temporada no Brasil (pelo Proac) e na Dinamarca  – marcou a união de criadores que já passaram por diversos outros grupos de São Paulo e é um exercício de trabalho colaborativo que encanta, ao mesmo tempo, ética e esteticamente. Uma obra em que conteúdo e forma políticos e poéticos trabalham juntos, no mesmo sentido. A experiência de assistir ao trabalho (pelo menos quatro vezes) nos despertou a vontade de entender e compartilhar qual a pequena-grande história de sua construção.

Abaixo, publicamos a primeira parte de uma longa, longa conversa que reuniu Fabrício Muriana e Juliene Codognotto (da Bacante), Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Karen Menatti, Thaís Pimpão e Rogério Tarifa (da Cia do Tijolo) e pizza e cachaça madrugada adentro.

Aproveitamos para agradecê-los tanto, tanto.

Parte 1 – Um grupo que nasce de muitos

(Alguém diz pra deixar o gravador com o Dinho)

Dinho Lima Flor (ator): Eu adoro… pra falar e pra tirar foto é comigo mesmo…

Juli (Bacante): Pra começar do começo, depois a gente vai pra questões especificas, acho que a primeira coisa importante a se falar é como se formou a Cia, principalmente tendo em vista que vocês são de outras companhias. Como ficou a continuidade do trabalho nas outras companhias, a relação disso com os outros atores das suas outras companhias, enfim, e também por que surgiu essa relação entre vocês e como foi…

Rodrigo Mercadante (ator): Tá… Bom, ela foi formada pra fazer esse trabalho do Patativa. O Dinho queria fazer uma peça, porque ele ficou lá no Ceará um tempo com o Cacá Carvalho, aí ele trouxe as coisas do Patativa, e ele queria fazer ou um monólogo, um sarau ou alguma coisa ele queria fazer.

(risos, bagunça, elocubrações sobre fazer “alguma coisa”)

Rodrigo: Aí a gente começou a estudar, estudamos, estudamos, a gente não sabia direito o que fazer… aí a gente resolveu fazer um show. Vamos pegar as poesias, a gente fala, eu falava algumas que eu adorava… chamamos músicos, pegamos um monte de músicas que a gente achava que tinha a ver com aqueles poemas e montamos um show, fizemos lá no Sesc Pompéia. Depois chamaram a gente pra inaugurar o teatro Patativa do Assaré, em Juazeiro do Norte, com esse show, chamado Cante Lá que eu Canto Cá. Aí a gente foi agregando gente no show. Karen, Fabi, eu, Aloízio sanfoneiro, Mauricio, passou Zé Cláudio, Ju Vieira, passou um monte de gente… até o Rogerinho entrou no show… mas aí a gente falou: “vamos criar uma peça”, que era isso que o Dinho mais queria. “Quem vai dirigir?”. Aí a gente pensou no Rogério. Claro que a gente pensou em um monte de gente… mas uma pessoa que tivesse alguma identidade com a trajetória da gente, porque se é um sonho do Dinho, depois passou a ser meu também… enfim, não vamos chamar qualquer pessoa, com o risco de ficar uma linguagem completamente diferente da gente, porque aí a gente vai passar raiva. Aí a gente pensou no Rogério que já era da São Jorge (Cia São Jorge de Variedades), estudou comigo, é meu amigo há muito tempo, a gente tinha visto O Santo Guerreiro (O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado), achamos que tinha tudo a ver. Chamamos, ele topou, ajudou a gente a fazer o projeto e aí o projeto foi aprovado no ProAC e começamos a ensaiar…

Rogério Tarifa (diretor e ator): Mas antes de ser aprovado a gente já tava fazendo algumas coisas…

Rodrigo: A gente começou a se encontrar… enfim… a Lizette fazia parte…

Dinho: Foi uma coisa muito apaixonante… quando o Rogerinho se aproximou… depois a Thais… a gente ensaiava o show na casa da Thais Pimpão que morava com o Ju Vieira, que fez o primeiro show, que foi o do Sesc Pompéia. Aí como a Karen também já era, já fazia coisas com a gente… é uma união… são todos amigos, que são próximos, que são talentosos, éticos, valorosos… e têm uma identidade de trabalho artístico, que têm um pensamento que anda em conjunto. E aí toda essa trupe chegou e foi muito… a coisa que eu mais gosto nesse começo é que de cara houve uma identificação muito forte com patativa, porque o Rogerinho sacou uma coisa bem legal antes… antes de a gente ser premiado pelo Proac, o Rogerinho propôs alguns encontros, então a gente fazia encontros na casa da Karen, na minha casa, na casa da Pimpão…

Alguém: da Fabi…

Dinho: … da Fabi… a gente foi se revezando em casas. E embora o Rogério não conhecesse muito o Patativa e quase ninguém conhecia de fato o Patativa – quer dizer, conhecia de nome… mas eu era a única pessoa que estava já na estrada, porque há dois anos atrás como eu estava com o espetáculo O Homem Provisório, com a Casa Laboratório, a gente fez o espetáculo no Crato, Juazeiro do Norte, Nova Olinda, que são cidades muito próximas a Assaré… e a gente foi pra Assaré, a gente passou uma tarde deliciosa com um grande poeta chamado Geraldo Alencar, que é primo do Patativa, um grande poeta que está e que foi transplatado dos rins, e a gente… ele até deu uma entrevista maravilhosa. Voltando, então, eu passei por tudo isso, e eu fui no Memorial do Patativa que é uma casa incrível, com toda a história do Patativa, com toda a documentação dele, com os móveis… e eu comprei um livro dele chamado Aqui tem coisa… e eu falei nossa que coisa linda… como me toca essa poesia singela, simples e profunda. E aí eu comecei a comer o Patativa, comer a literatura do Patativa, viver, vivenciar… e eu já tinha mais essa estrada… e o bacana é que as pessoas foram chegando e foram se apaixonando de fato pelo Patativa e não foi gratuitamente, não, não era porque “estou num projeto, então, ai, eu tenho que gostar desse cara”. Não. Foi paixão mesmo, tanto que você olha o elenco todo, todo mundo fala que a gente é muito apaixonado em cena, que a gente ama muito o que a gente vive, o que a gente faz em cena, porque a gente gosta desse velho, a gente aprova a poesia dele, essa poesia dele repercute no corpo, na nossa vida… e na nossa vida porque o Rogerinho foi demasiado feliz, e pensou como o Patativa se alimenta do sertão pra falar do mundo, a gente se alimenta desse concreto que é uma espécie de sertão, São Paulo, e a gente vai falar do mundo a partir desse nosso sertão, desse nosso quintal, dessa nossa área. E aí foi quando a gente começou a ir pra casa do elenco, dos participantes, e trabalhar depoimentos. Depoimentos, claro, que tivessem a ver com coisas que o Patativa falava… Patativa falava de dor, discriminação, do ódio à intolerância, e ao mesmo tempo da beleza da natureza… ele fala que a natureza é o natural, então por exemplo miséria não é da natureza, não é natural isso, a natureza, o natural, é o homem ser ético, ser bom, ser integrado, isso é o natural, agora tudo que não faz parte disso não é natural, é artificial, ele fala, é artificial. Então, a gente foi trabalhando essas coisas, o que era mais forte do Patativa, a gente foi trazendo isso presente pra gente, fazendo essa ponte e repercutindo diretamente na nossa história.

Rogério: Quanto à formação da Companhia, tem uma coisa engraçada, que a gente desde o inicio a gente não pensou em formar o grupo, era uma ideia de fazer esse espetáculo com pessoas que a gente queria trabalhar. Aí eles me chamaram, a gente já se conhecia… pessoal do Ventoforte, a gente tem uma proximidade, mas não tinha ideia de formar um grupo. Tanto que no programa oficial tem um texto do Rodrigo que ele fala um pouco isso, que não é um grupo, que talvez a gente vá formar um grupo… mas ao mesmo tempo, tem duas coisas… uma que como todo mundo é de formação de grupo, então o trabalho é naturalmente o trabalho específico de teatro de grupo, não tem como. Ele é do Vento há 10 anos, eu sou da São Jorge há 10 anos, o Dinho do… a gente não vai chegar e, porque é uma reunião nova, tratar de uma forma que a gente desconhece, é quase… uma democracia mesmo, essa questão de construir as coisas junto, né? Mas aconteceu que todo mundo, quando a gente começou a apresentar, começou a sentir assim… apesar de a gente não ser um grupo, todo mundo tratava a gente muito como um grupo. Uma coisa muito louca assim. Acho que isso acabou que quem vê o trabalho, vê que é um trabalho de grupo, vê que é um trabalho muito aprofundado, com uma pesquisa… um trabalho… que tem na base esse conceito de teatro de grupo mesmo. Então é muito engraçado que no nosso programa tem uma coisa de dizer que a gente não é um grupo, mas ao mesmo tempo é a Companhia do Tijolo… Não tem como a gente não ser um grupo hoje em dia… Isso também porque o trabalho deu muito certo. Como o Dinho falou a gente se apaixonou pela obra e a gente gosta muito de trabalhar, tem um respeito muito grande entre a gente. Ao mesmo tempo, como a gente está… eu tô há 10 anos na São Jorge, Rodrigo tá – o que? – há 8, 7 no Vento… então ao mesmo tempo fazer trabalhos que dialoguem com outras pessoas também, pra quem é de teatro de grupo, é bem interessante porque traz um ar, traz uma outra… Hoje é engraçado, porque eu sou muito da São Jorge – já dirigi, já… já fiz de tudo na São Jorge – mas ao mesmo tempo é como se eu tivesse esses dois grupos, são dois grupos muito fortes, eu me sinto muito Tijolo e muito São Jorge. E é bonito… ter essas duas convivências.

Juli (Bacante): E como é lá? (Nos outros grupos)

Rogério: Lá é muito tranqüilo porque… teve uma coisa que foi engraçado, que na verdade é uma piada… porque a São Jorge foi indicada ao prêmio Shell pelo Quem… (Quem não sabe mais quem é, o que é e onde está precisa se mexer) na categoria especial Montagem e pesquisa de espetáculo. E o Patativa foi indicado na mesma categoria. (Comprove as indicações aqui) E eu tinha dirigido o Patativa e tinha feito a direção de arte do Quem. Então, naturalmente, a gente ficou brincando com essa situação, né? Mas com relação a dentro da São Jorge, com os trabalhos fora, é sempre muito bem-vindo, assim. Porque também com o passar do tempo, quando a gente vai ficando mais velho, é natural isso acontecer… porque há dez anos, uma pessoa ir fazer outro trabalho ou faltar um dia pra outro trabalho trazia um monte de crises. Hoje você percebe que a vida é assim, que na verdade, o trabalho que eu faço na São Jorge e o trabalho que eu faço aqui é quase uma continuação do que a gente acredita no teatro e na forma de fazer. Então não tem problema, tem muito acordo, tá todo mundo muito feliz… as pessoas transitam, né?

Dinho: A Patrícia, que é atriz da São Jorge e esposa do Rogerinho tá fazendo o Concerto de Ispinho e Fulô nessa temporada (TUSP – 2010) e tá fazendo Quem…. Então as pessoas transitam, porque são pessoas que tem pensamento igual, parecido, de grupo, de estrada, se compreensão do que é… do que a gente pensa que é… teatro. Então, a gente não teve problema, pelo contrário… Agora com o Ilo (Krugli)… como o Ilo já é mais de um… tempo onde o tempo era o fechamento do grupo… no sentido de o grupo ter que estar lá fazendo as coisas… ele tem um certo ciúmes, mas um ciúme que eu diria que é…

Rodrigo: É muito engraçado.

Dinho: Karem e Rodrigo que podem falar mais isso… É um ciúme gostoso, carinhoso…

Rodrigo: É um ciúme muito engraçado, porque ele ficou muito enciumado no começo… mas era um ciúme que… ele tá muito disposto a ajudar sempre. No começo, a gente chamou ele pra fazer revisão de dramaturgia. Só que ele tava mandando um projeto também pro Myriam Muniz (inclusive tá até ensaiando agora) e ele não quis, porque ele achou que como ele era o cabeça do Vento, se vissem o nome dele em outro projeto, poderia ter problema, então ele preferiu não. Mas ele sempre esteve muito próximo, a gente guarda material no Vento… a gente…

Rogério: Ele foi assistir o Patativa umas 40 vezes!

Rodrigo: Ele assistiu 5 vezes… ele se emociona… ele dá palpite…

Dinho: Tem um pouco dele ali…

Rodrigo: Eu acho engraçado porque tem muito da São Jorge e muito do Vento. Eu vi a São Jorge nascer, quase fiz um trabalho lá, sou amigo do elenco todo, então sou muito próximo da história da S Jorge. E é como se fosse… pega muito do trabalho do Vento e tem muito São Jorge, é uma junção engraçada, mas é uma terceira coisa da gente ao mesmo tempo, já é uma terceira coisa.

Rogério: Mas sabe uma coisa legal… essa coisa da gente ser um grupo agora… é um grupo que surge já com a gente numa idade mais avançada e com uma maturidade diferente.

Karen Menatti (atriz): É isso que eu ia falar, porque a gente também já tá desenvolvendo um trabalho nesses grupos há muitos anos, então queira ou não começa a misturar nossa linguagem com a linguagem desse grupo.

Rodrigo: Lá no Tijolo existe um espaço maior (pelo menos pra mim)… porque no Vento é a história do Vento, são 35 anos de história nas costas de cada um. Ao mesmo tempo o Tijlo é um viés onde usando isso tudo da pra desenvolver uma coisa mais pessoal, dentro de tudo que eu aprendi, que eu passei… é como se lá (na Cia do Tijolo) eu achasse um canal onde eu pudesse fazer muito próximo do que eu desejo pesquisar, desenvolver na minha vida, porque não tem 35 anos de história por trás, não tem uma linguagem consolidada, a gente tá buscando alguma coisa… então isso é muito bacana.

Rogério: Além disso, eu acho que… primeiro que a gente já se conhecia muito, a gente é muito amigo, há muito tempo e depois que no trabalho a gente tem assim… tem uma coisa profissional… no bom sentido… sabe? E eu fiquei muito contente com o trabalho. E eu acho que isso vem um pouco dessa reunião nesse momento. Mas é normal isso também, se a gente tivesse saído da EAD e falado “vamos formar a Cia do Tijolo”, eu e você quando a gente tinha 20 anos, seria outra coisa. Seria tão bonito quanto… mas seria outra. E hoje a gente se encontrando… parece que todo mundo tá sentado, sabe? Não no sentido de acomodado, mas no prazer do trabalho legal, assim, sem crises no lugar negativo – sabe aquelas crises que não levam a nada? – mas só crises boas que levam pra frente.

Rodrigo: Uma das cenas que eu lembro do Ilo, que passou rápido, que eu acho que é uma coisa de geração assim, mesmo, que eu não ouvi só dele, depois a gente foi num debate no Teatro X, como é que o nome do moço do Teatro X?

Karen: Paulo Fabiano?

Rodrigo: O Paulo Fabiano usou a mesma frase… se bem que o Paulo Fabiano é mais jovem, né?

Karen: Mas é o mesmo tipo de pensamento no teatro…

Rodrigo: É… que o Ilo falou “não se cavalga dois cavalos ao mesmo tempo”. Vc lembra disso? Aí eu fiquei pensando muito nisso. É uma outra história, a gente talvez viva um outro momento mesmo, que eu não sei muito bem qual é. Aqui cada um não cavalga dois, a gente cavalga…

Rogério: 50!

Rodrigo: É muita coisa. Cada um de nós faz muita coisa.

Dinho: Mas eu entendi o que o Ilo quer falar…

Rodrigo: Eu também entendo o que o Ilo quer falar…

Dinho: É porque nesse caminho que a gente faz, que a gente trilha, nessa construção de pensamento do que é teatro, que aí somos irmanados com a São Jorge, com vários grupos, que são muito parecidos na discussão e na pesquisa… se eu sair do Vento e for pra São Jorge, claro que tem suas diferenças de grupo, mas é como se eu saísse de uma janela…

Karen: Na mesma casa e entrasse por outra porta, né?

Dinho: Isso. Ou o mesmo bairro. Nesse sentido, do mesmo bairro, com a mesma linguagem, com a mesma… aí é outra história. Às vezes quando ele fala pode ser outro sentido… você quer cavalgar uma coisa de pesquisa e ao mesmo tempo quer fazer uma coisa super fútil e quer comungar com isso e que as coisas não se batam e as coisas realmente chocam. Mas também claro que pode ser um pouco ligado… eu sinto… porque ele fica muito feliz, inclusive.

Karem: Muito feliz!

Rodrigo: Ele fica feliz mesmo, de verdade, com o maior orgulho da gente…

Dinho: Ele fez até desenhos…

Karen: Ele vem dar opinião…

Rodrigo: Ele fala “vou falar isso pro Rogerinho”, vem e fala…

Dinho: Ele acha o baile uma das coisas mais lindas do mundo, ele adora aquele baile. Aquele povo chegando com as coisas na cabeça… ele fala assim “o homem trouxe o mundo na cabeça”, antes da fala as pessoas carregavam coisas, carregavam pedras, eles fala isso, é muito bonito, carregavam pedras pra deixar num canto. E comigo tem muito a ver porque meus pais, meus avós, há cem anos, carregavam potes, carregavam água e levavam pra casa. Então essa coisa de carregar o mundo… ele fala isso lindamente do baile. Só pra concluir, hoje em dia eu sinto que o Ilo tem um pé no próprio trabalho do Tijolo.

Rodrigo: Ele vai dirigir o próximo com o Rogério…

(Surpresa. Risos)

Rodrigo: Vai fazer como ator…

Rogério: Eu ia falar que me veio agora… o Vento tem quantos anos?

Karen: 36.

Rogério: O Ilo tem quantos anos?

Karen: 69

Rogério: Quando ele fundou o Vento ele tinha 35 anos. É engraçado que quando você pensa nesses grupos parece que ele foram fundados quando a pessoa tinha 18, entendeu… A geração nossa… a São Jorge, a gente era novo, o Latão… as pessoas eram novas quando fundaram. Agora, você pega o Folias, por exemplo, o Folias tem 12 anos, o Maia morreu com 57 e ele fundou junto com o Marco Antonio que deve ter uns 50. Eles fundaram com mais de 40 anos. É muito louco pensar isso, né? A diferença que é fundar um grupo com 40 anos, de fundar um grupo com 19, 20 anos.

Rodrigo: Mas são duas referências muito fortes pra gente, tanto a São Jorge, quanto o Vento, né?

Thaís Pimpão (atriz) : Quando ele foi assistir, uma coisa que ele comentou muito também foi o depoimento que eu faço de Maringá, né? De falar que eu não tenho a menor vontade de morar em Maringá de volta, do porquê que eu saí de lá… e é muito louco porque o Ilo é uma pessoa que… você fala “da onde veio o Ilo”, né? De onde ele é? E as pessoas diretamente ligam ele a Buenos Aires e ele não tem o menor prazer de voltar pra Buenos Aires ou dizer que é de Buenos Aires… então tem essa identificação dele em vários momentos da peça.

Rodrigo: Vocês lembram disso? Nessa hora que a gente pergunta “você é de onde?” pra escrever, eu falei “de onde você é?”, ele falou – da a possibilidade dele falar, ele dispara: “No, no, porque não quero falar que eu sou de Buenos Aires… vc sabe que eu sou de Buenos Aires, mas sou de tantos lugares…” Aí eu falei: “Só deixo o meu Ventoforte no ultimo pau de arara”. Ele ficou louco com isso, porque é a terra dele, o que ele construiu.

Karen: Pois é, aquele ciúme que ele tem… eu acho que é um pouco essa coisa quase ingênua… porque ele é um homem que agrega, ele vive o que ele prega, ele mora naquele teatro, a casa dele é o quintal do teatro, as peças que ele faz são sempre pensando nessa coisa do brincar… então eu acho que ele vive isso. E aí quando ele fala dessa coisa dos dois cavalos, pode ser porque talvez a nossa geração – não sei se é bem uma questão de geração ou de personalidade – não tem isso… você não vive, não mora onde você trabalha, vc não… Ele VIVE aquilo. E quando ele vê as pessoas saindo dali pra fazer outros trabalhos deve bater isso… são parceiros que estão ali, saindo.

Rodrigo: E tem influências também da Casa Laboratório…

Dinho: Na Casa Laboratório pra mim é o oposto do Ventoforte no sentido da estética, mas na significância é altamente parecido… o Cacá trabalha o ator na sua experiência, sua vivencia e ele fala isso: “vc tem todas as suas impressões na sua espinha, seu DNA tá aqui na sua espinha, você precisa trazer isso em cena”, e ele não maqueia em nenhum momento. E o Ilo também fala muito: “é você que tá falando”. E aqui também, em alguns momentos do espetáculo… acho que eu nem te falei, Rogerinho, mas isso é uma coisa que me alimenta muito, a gente tem que ir se alimentando pra quando chegar no final do espetáculo você estar alimentado. Então, a gente se alimenta desde o primeiro momento, quando eu dou o tijolo pro público e ele constrói aquele muro… e depois vai passando pelo confronto entre poesia popular e erudita, que elas se comungam, que elas dialogam – claro, tudo dialoga! – até chegar no final do espetáculo e eu estar completamente alimentado, digamos grávido de tudo isso que passou, porque é uma travessia, né? O Cacá fala disso, a gente vive uma travessia em cena, uma travessia verdadeira. Então, as coisas tem muito a ver. É claro que são metodologias diferentes, mas o cunho, o cerne é muito forte e muito verdadeiro. Então, tem sim essa rebarba da Casa Laboratório…

Rodrigo: Que também é muito forte na Fabi que é uma figura muito importante do grupo que não está aqui agora… ela teve um filho agora… ela é uma figura…

Dinho: Que fundou junto conosco… acabou de ganhar o Teo, o Teo tem 15 dias de vida, mais ou menos? Ela fazia a prostituta do Homem Provisório. A gente saiu junto da Casa Laboratório, eu, ela… eu e o Major, que tá no Ventoforte… e tá também na São Jorge… é uma safadeza, né? (risos) Então, a gente saiu junto da Casa, em seguida a Fabi saiu… e a Fabi é uma figura altamente inteligente, imprescindível pro processo… ela é muito sensível, inteligente, clara… ela pesquisa, ela vai junto, ela compra o projeto, propõe o tempo todo. É uma grande companheira. Ela sim é formação da Casa Laboratório…

Thaís: E ela é a única do elenco que não passou pelo Ventoforte, né?

Dinho: Nem pela São Jorge… ou seja, ainda é cabaça.

(risos)

… continua…

(E enquanto não continua, vale ver um vídeo com entrevistas dos artistas realizado durante a temporada da peça no Centro Cultural São Paulo e acompanhar as novidades do grupo no blog http://concertodeispinhoefulo.blogspot.com/ )

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