Tá namorando! Tá namorando!

Críticas   |       |    23 de setembro de 2008    |    5 comentários

Desenhos vivos

Foto: Sol Coelho

A única estréia de todo o Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga caiu nas costas de um grupo que se apresentará em São Paulo, em novembro próximo. No penúltimo dia, o Bagaceira mostrou pela primeira vez o infantil Tá namorando! Tá namorando! e produziu uma certa fissura nos debates do dia seguinte. Obra inacabada, recebeu críticas que mais pareciam dramaturgismo do que o habitual julgamento.

A peça se compõe de quatro histórias, todas relacionadas com a descoberta do amor e da sexualidade pela mulecada (com u). Entre as histórias, uma contra-regra a lá Pernalonga faz as vezes, pra que a dupla de atores possa trocar de figurinos. Além desses três intérpretes, o grupo faz uso de ilustrações e de gravações colhidas com crianças, que contam como foram seus primeiros namoricos.

Esse momento complicado na vida dos pequenos aparece no palco com a leveza de uma coreografia. Nenhuma palavra é falada no espetáculo e a expressividade fica por conta dos corpos dos atores, que procuram um mimetismo impossível com desenhos animados. O resultado é de uma certa estranheza, se pensarmos pelo que encontramos habitualmente em espetáculos infantis. Ou seja, quando for, leve aquele filho, sobrinho ou neto que tem jeito pro desenho – porque ele vai ser estranho mesmo. Ali, ele vai se sentir em casa, assistindo desenho ou jogando video-game – ou seja, o teatro como engodo infantil.

Yuri Yamamoto não precisa de muito esforço pra parecer um desenho, como você pode ver pelas fotos. Já Samya de Lavor, seu eterno par romântico na peça, tem a desculpa ideal para usar toda a técnica que trouxe da dança e compor suas personagens. Antes mesmo dos corpos, a relação do jogo entre os atores e os óculos bizarros que usam foram os aspectos que mais marcaram. Quando esse jogo estiver afinado com a platéia e a coreografia for suficientemente porosa (como diriam na propaganda de scotch-brite) o espetáculo poderá ser apresentado a todos os públicos.

Mas afinal, de que tratam as histórias? É óbvio que não vou contar, pois boa parte das surpresas estão aí. Cito, no entanto, o comentário feliz de Ricardo Guilherme – aquele dos longos cabelos brancos – sobre a quarta história, que, ao inverter a habitual falta de sensibilidade na formação dos meninos e revelar o quanto qualquer característica masculina é tolhida na criação das meninas, possibilita que o público infantil veja no palco um mundo diverso do que encontrará na sociedade.

Pra quem é adulto, dá vontade de relembrar aquele momento em que a gente ouvia Tá namorando! Tá namorando! (recordar os traumas). Pras crianças, que praticamente não apareceram nessa primeira apresentação, deve ser du caralho descobrir que desenho não se faz só com lápis, papel e computador nem se assiste só no programa de uma loira qualquer. Mas só o tempo e a resposta do público vão dizer ao Bagaceira se esse “deve” foi usado corretamente.

4 historinhas de amor (ai que lindo!)

* O Bagaceira vem a São Paulo em novembro com o espetáculo Lesados. Recentemente passaram por aqui com O Realejo, espetáculo de bonecos apresentado na Mostra Latino Americana da Cooperativa Paulista de Teatro. Programador e curador querido – que lê a Bacante e não comenta – não perca a chance de chamar esse povo para uma temporada aqui. Tudo que vi dos caras até o momento é pura pesquisa de linguagem. Sim, é uma propaganda não paga (ainda).

'5 comentários para “Tá namorando! Tá namorando!”'
  1. […] e 2º lugar na votação popular. Respectivamente com Fábulas e Muito Barulho por Quase Nada. O novo infantil do Bagaceira ficou em terceiro […]

  2. Astier Basílio disse:

    crítica fantasma,
    ainda bem q achei, sêo Muiquirana

  3. Angélica Feitosa disse:

    Uma outra coisa que é bem legal nesse espetáculo são os figurinos todos de brechó! Como o Yuri é artista plástico, ele gosta de usar váaaaarias cosias aparentemente simples e que dão um super efeito!
    Legal seu texto, Fabrício, acho que traduz bastante o espetáculo.

  4. […] Tá Namorando! Tá Namorando! […]

  5. Valdez disse:

    Gostei muito do espetáculo. O fotógrafo, Sol Coêlho, soube bem expressar os sentimentos contidos nas cenas fotogafadas. Muito bom mesmo. Parabéns.

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