Mapeamento eternamente em constrṳ̣o РBate-papo com Cia 4compalito

Bate-Papos   |       |    3 de novembro de 2009    |    0 comentários

Cia 4compalito – Belo Horizonte – MG
Representante: Júlio Vianna

Na Bacante:

Críticas:
Quixote

1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?

A gente atualmente não tá trabalhando com financiamento. Nosso último espetáculo foi o Quixote, a gente montou com o Fundo Municipal de Cultura e ano passado a gente não captou nenhum por projeto de lei. Então, o nosso sustento vem do trabalho mesmo, de renda de apresentação, oficinas. Bilheteria é mais complicado, é mais quando viaja, vende apresentação, faz festival.

2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?

Até dois anos atrás a gente não tinha sede, trabalhava com permuta e essas coisas. Aí de dois anos pra cá a gente locou uma sede, num bairro bem bacana de Belo Horizonte, bem residencial, bem bairrinho mesmo, gostoso, então a gente entrou, a gente já é reconhecido lá pela comunidade, no início tem um estranhamento, mas depois tem um envolvimento. Mas a gente ainda não conseguiu efetivamente desenvolver uma atividade com o bairro, que é um desejo nosso. No ano passado, inclusive, a gente previu isso… Quer dizer, não exatamente. A gente desenvolveu um projeto de pesquisa vinculado a bares, universos de pessoas que freqüentam bares e alguns dos bares que a gente trabalhou foram bares do bairro Concórdia, que é onde a gente está alocado. Mas em termos de troca até hoje foi só o que a gente conseguiu fazer. Mas existe uma demanda interessante, porque muitas pessoas no entorno nos pedem oficinas, cursos e, ocasionalmente, quando a gente tá ensaiando, vez ou outra a gente chama de “meia porta aberta”, a gente brinca com isso, porque esse local que a gente alugou é uma loja grande, não é bem um galpão, é uma loja e, como a ventilação não é muito boa, só tem janela no banheiro, a gente às vezes deixa a porta semi-aberta embaixo, pra ventilar enquanto a gente ensaia e geralmente aparece alguém pra assistir. Então a gente até levanta um pouquinho a porta, eles até pedem, às vezes, a gente tá ensaiando, eles batem: “dá pra levantar um pouquinho?”. Ocasionalmente, né? Não é rotina, mas é bem interessante e a gente quer muito, inclusive a gente vem discutindo esse ano como a gente pode fazer essa troca com a comunidade, a gente já pensou em fazer um curso livre… Indiretamente a comunidade acaba nos alimentando, você começa a ter uma relação de vizinho mesmo com eles, de troca de açúcar, mesmo, de pegar a escada emprestada, de alguém falar: “ah, peguei sua correspondência”, porque a porta tava fechada e não passou, então essa relação é gostosa. E ela cria uma coisa no teatro que é bacana que às vezes, dependendo do jeito que a gente trabalha, da rotina, a gente perde um pouco o que essa relação mais familiar – não é familiar – é uma relação de cotidiano, de rotina – não na criação, que na criação a gente foge disso – mas uma relação cotidiana positiva, isso que eu falei mesmo, de trocar açúcar, de conversar com as pessoas sobre outras coisas, de trombar com o seu vizinho na padaria, de comer ao lado dele, isso é bacana. A relação com o entorno hoje é mais essa, mas gente tá com projeto nesse ano pra fazer um curso livre e a idéia é pegar especialmente moradores do bairro e da região e também no nosso próximo processo a gente abrir mais ainda. (…) Com relação aos grupos, na verdade a gente sempre participou e procurou ter uma troca com grupos, seja em formatos de redes, circuitos, movimentos, nosso grupo participou durante 3 ou 4 anos de um movimento que a gente criou em Belo Horizonte chamado Circuito Off de Teatro e a idéia realmente era uma rede de troca e discussão, reflexão artística, mas também na esfera política, na esfera das relações sociais. Mas essa rede, por exemplo, era muito local, era BH e grande BH, vez ou outra tinha alguém do interior, mas o foco realmente era BH e grande BH. E a gente também participou do Redemoinho durante 3 ou 4 anos. No Redemoinho a troca se efetivava mais, tanto em termos de sudeste, quanto de Brasil. Essas redes elas facilitaram essa questão de troca. Quando a gente viaja acaba também trocando com grupos que a gente conhece, mas ações efetivas no Sudeste, por exemplo, a gente praticamente não tem, tirando esses movimentos.

3. Fator agregador: qual o fator agregador/ definidor/ de união do grupo?

Essa é uma boa pergunta, ontem inclusive no grupo de discussão a gente conversou sobre isso. Não é uma pergunta muito fácil, é uma das questões, mesmo. Eu vou tentar agora pensar sobre isso, porque eu não tenho uma resposta, até porque existe uma questão muito pessoal e individual, cada um tem um motivador. Se a gente pensar em termos de chão, base, tem o desejo óbvio de fazer teatro, mas fazer teatro coletivamente. O diferencial pra mim é existir uma continuidade, isso já muda tudo, uma continuidade de convívio, de crescimento artístico, estético, avanço e desenvolvimento ético também, do que a gente acredita, o que a gente quer fazer, o que a gente tá fazendo, por que a gente tá fazendo isso. Quando se trabalha em grupo essa discussão ela é contínua, ela não pára, né? Mesmo que às vezes você não fale diretamente sobre isso, mas você tá falando indiretamente sobre isso o tempo todo. E essas pequenas conquistas como uma sede, um espaço seu, começar a ter um reconhecimento das pessoas do seu trabalho, começar a ter um referencial bacana, ter feedbacks, positivos, negativos, mas trocando o tempo todo com o que as pessoas pensam, porque você tá mexendo com o público. Eu acredito que isso é muito mais possível, a possibilidade de isso acontecer é muito maior com um coletivo trabalhando do que com ações isoladas, como produções, porque numa produção as pessoas acabam vinculadas a um outro desejo, mesmo que seja você que esteja puxando o carro chefe da produção, porque aí é um desejo seu e as pessoas têm que ir te seguindo. E no coletivo, não, não tem como acontecer isso, sempre a questão é do grupo. Eu acho que isso é a diferença. Eu particularmente sempre quis ter um grupo, nunca me vi trabalhando em produções isoladas, praticamente nunca trabalhei, só bem no início da minha carreira profissional, nunca me interessei por isso, sempre quis desenvolver algo coletivo.

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.