Alternativo? – Sérgio Sálvia Coelho
Sérgio Sálvia Coelho (jornalista e crÃtico teatral da Folha de São Paulo)
Entrevista concedida para o especial Alternativo?
O que você define como teatro alternativo?
Olha, teatro alternativo é teatro de risco. Não tem a ver com ter pouca verba. Tem gente que tem pouco dinheiro e faz um teatro conformista, tem gente que tem muito e faz uma coisa diferente. Não é porque tem pouco dinheiro, que o artista se condena… “já que não dá pra fazer comercial, vamos fazer alternativo mesmo”. Não é isso. É uma opção de pesquisa.
É mais ou menos como protótipos da indústria automobilÃstica, a equipe que projeta alternativas pro futuro. Então, o teatro alternativo, ao contrário do que se pensa, precisa de mais verba, mais atenção, porque mobiliza mais recursos. E, por isso mesmo, não visa ao lucro, porque o objetivo é criar alternativas para o futuro. Normalmente, quem faz teatro alternativo é apaixonado pela tentativa, muito mais do que querer fazer disso um meio de vida.
Como você vê o teatro alternativo em São Paulo? Há algum grupo, ator, movimento que você relacione com teatro alternativo?
Tem vários. Na verdade, há uma rede de teatro alternativo. O ponto mais visÃvel, a ponta do iceberg é a Praça Roosevelt, mas está espalhado por São Paulo inteira. A primeira coisa que você vê quando um grupo ganha um prêmio, um estÃmulo, em geral, a primeira coisa é conseguir uma sede. A partir daà entram em contato com a comunidade do bairro pra checar propostas e ver necessidades. Hoje são vários lugares assim, entre 50 e 100 lugares, que fazem essa função. Até porque o público pro teatro é de 100 pessoas. Até 30 anos atrás, os cinemas eram pra grandes públicos, em média 500 pessoas. Hoje, as salas são para, no máximo, 200. E ninguém diz que o cinema está decadente por isso.
O contato com a comunidade está relacionado diretamente à busca pelo alternativo?
Não como pesquisa, mas como produto, pois o grande investimento é no sentido do marketing. Nos teatros comerciais você vê coisas como “Você nunca viu uma peça como essa!”. Enquanto no teatro feito num bairro, pra 50 pessoas, você se condena a querer saber o que interessa ao público. Funciona quase como um posto de saúde cultural. Não é venda de produto pronto, é um diálogo, uma construção comum, o que eu tenho pra oferecer e qual é a demanda.
Não é complicado usar o termo alternativo na mÃdia?
Acho que não, por causa do trabalho que vem sendo feito. O Cemitério de Automóveis tem 25 anos, os Satyros estão na praça há mais de dez, então acaba criando uma grife. Às vezes tem grupos ruins que usam a grife e prejudicam a imagem.
E quanto aos jornalistas? Acontece um mal uso do termo?
É usado, muitas vezes, de forma paternalista. Você tolera mais defeitos porque é alternativo… Penso no Felipe Hirsch, que se faz valer do Gerald Thomas. Quando o Gerald fez, ninguém sabia o que era, não tinha apoio nenhum, então ele criou o modo de fazer e hoje o Felipe tem apoio pra reproduzir o que foi feito naquela época, há mais de vinte anos.
Então, alternativo foi o que o Gerald Thomas fez pensando num futuro e está sendo repetido agora, neste futuro?
É.
Um ano hoje. Mudou?
Mais de dois anos hoje. Já não sou crÃtico, sou quase diretor. Buscando nome para meu grupo, dou de cara com esse texto que quase esqueci.
Ops. Mais de dois anos não, porque este blog colonizado marca os dias ao contrário, como os americanos. Melhor assim. Vamos ver em maio que bicho deu.
Agora são três…