Há um mês – Dia zero – Ou quando a cidade fica me devendo uma.

Blog   |       |    11 de fevereiro de 2010    |    0 comentários

Avião atrasado. Pouso às duas. Chego ao albergue bem no centro de Santiago às 3h40 da manhã do dia 06.

Minha reserva não aparece no sistema do albergue.

Um moleque com cara de músico do Inti Ilimani me diz que tenho que ir pra um quarto single e pagar três vezes o que sei que devo pagar.
Fico puto. Saio com a mala caminhando pela Praça Itália procurando outro hostel.
Um cara estranho me grita qualquer coisa do ponto de ônibus.

A rua está escura, decido voltar ao ponto de ônibus.
O mesmo cara estranho me grita:
“Me chupa la pija”.

Não entendo e protagonizo uma cena bem Mister Bean:
Vou até eles (está com um amigo) e pergunto onde fica a Rua Pío Nono.
Eles me avisam que andar por aquela hora na Praça Itália é perigoso.
Pergunto se há algum café onde possa passar a noite.
Eles me convidam pra tomar uma cerveja com eles.
Penso, “o ser humano é uma coisa espantosa”.
Sigo e vou parar num apartamento bem no centro.
Um deles sai a comprar cocaína.
Penso, cada um na sua. Nada em comum.
Fico conversando com esse que vou chamar de senhorita 1.

Ele me explica que era um travesti e que tem medo que seu amigo cobre alguma coisa em troca por eu passar a noite bebendo com eles.

Digo que vou-me, então. Ele diz não ser necessário.
E a conversa segue.
Entendo cerca de 47% do que eles dizem com um espanhol santiaguino horrível.

Carreiras e mais carreiras de cocaína, cerveja, maconha.
Me oferecem e penso, não vou fazer essa desfeita.

A senhorita 2 sai de novo. Volta com mais cocaína e uma terceira senhora. Essa velha.

Pergunto sobre o Santiago a Mil. Eles dizem que sabem do que se trata.
Me indicam assistir La Negra Ester, sem nem saberem do que se trata.
Influência da televisão.

O final da noite é tenso. Cobram moralmente o preço de eu estar ali:
“Nunca he visto un brasilero desnudo”

“Qué tipo de calzonzillos usas? Boxer?”

“E a ti, que te encanta? Los pololos, las pololas?”

“Ah, te gusta las chicas. Acá tienes trés pára ti”

“Oye, déjame pegar tu penne. Muy rápido, así… no pasa nada”

“Ay, yá te vas? Me siento un vacío”

Eu também. Fujo com a senhorita 1, que pareceu mais amistoso e ter entendido o caso.
Eu estava errado. O assédio moral continua no apartamento dele.

São quase nove horas. Deixo de diplomacia e saio, noite virada, mala na mão, a caminhar.
Frente do Palácio de La Moneda. Um estrangeiro com cara de suíço está procurando uma casa de câmbio.

Encontro meus amigos brasileiros no centro e sigo pra casa de quem vai me receber nos próximos dias.
Fim do mais longo dos dias da viagem. Santiago começa a mil.

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