II Fórum de Cultura Digital Brasileira

Blog   |       |    17 de novembro de 2010    |    0 comentários

Acabou hoje o II Forum da Cultura Digital Brasileira (15 a 17/11), evento agregador de iniciativas, experiências, pensamentos em rede.

A Bacante participou (representada pelo Fabrício no palco; por mim, pelo Emilliano Freitas e pelo Maurício Alcantara na plateia e por Astier Basílio e Paulo Bio Toledo nos pitacos durante a semana anterior) no feriado da República (que a gente ainda nem efetivou direito) da mesa Teatralidade Digital (dá pra assistir um trecho no Vimeo, ó).

Mediada por Rodolfo Araújo (próximo à Bacante já tem um booom tempo…), a mesa teve a participação do grupo GAG- Phila 7 (representado por Rubens Velloso) e do Teatro para Algúem (representado por Lucas Pretti no palco e Nelson Kao na plateia atrás da máquina fotográfica).

Contamos ainda com as presenças especiais de Valmir Santos, compartilhando vinho, salada, massa e ideias; e de duas senhorinhas dormindo na penúltima fileira da Sala Petrobras da Cinemateca Brasileira (aliás, pensa num lugar foda…).

Cumprindo, segundo o mediador, o objetivo de levantar mais perguntas do que respostas, foram muitas as questões que a gente discutiu – bem de leve, bem na superfície, mas é preciso começar, né? – sobre as relações possíveis entre o teatro e a rede, seja no âmbito da realização da produção teatral em si, seja no âmbito da realização do diálogo crítico e artístico que buscamos aqui nesse coletivo.

Passamos pela urgência do nosso fazer – lembrando que, conforme avisou Jorge Grespan em encontro na sede da Cia do Latão, se o capitalismo incorpora muito rapidamente as nossas tentativas de lutar contra ele, então… temos que criar novas tentativas ainda mais rapidamente. E, conforme comentaram Lygia Clark e Hélio Oiticica, talvez estejamos tomando a “sopa do vampiro” – tem que tomar rápido, se não, coagula. Passamos também pela multiplicidade de possibilidades que vão além de fazer teatro na Internet, pela ideia de presença que no nosso tempo já se mostra expandida e, finalmente, graças à única pergunta do público possível, passamos pela questão do endereçamento, ou seja, falamos de público

Pra quem, afinal, fazemos essas iniciativas de diálogo entre teatro e Internet? Quem está a fim de ver isso? Nós sabemos? O teatro convencional sabe para quem se direciona? É importante saber? Devemos falar sobre isso ou endereçar a obra é apenas uma atitude de comercialização da arte e ela deve ser feita para o ser humano de maneira geral? Não devemos falar sobre isso ou não endereçar a obra é uma atitude de artista isolado do mundo material e das questões materiais específicas dos seres humanos específicos que o cercam?

Aqui, na Bacante, a gente vai falar de público e de endereçamento… mesmo que não tenha ninguém pra ler.

Relações improváveis ou Tenho que falar disso ainda que seja tarde

Foto: Fabrício Muriana

Muito bem. A Bacante não cobriu a Mostra Lino Rojas de Teatro de Rua como ela merece (portanto, se quiser saber mais, apesar de a mostra ter acabado dia 14/11, veja aqui).

Mas, pelo menos, o Ésio a gente viu. O palhaço Zabobrim se apresentou na Mostra com a peça Circo do Só Eu, apropriação de diversos números tradicionais do Circo.

E o Fórum com isso?

Na conversa depois da peça, perguntaram ao Ésio sobre os números, de onde vieram, etc. Ele comentou que quando um palhaço pega o número do outro, ele precisa se apropriar, fazer com que o número se torne dele, senão nunca vai funcionar. Em seguida, provocaram: “Então, se a gente pegar um dos seus números que você apresentou aqui e usar num espetáculos, tudo bem pra você?” E ele afirmou categoricamente: “sim!” e se disse contra a ideia de direito autoral sobre o pensamento e a criação, lembrando que só criamos conhecimento hoje a partir de outros conhecimentos básicos aos quais, na maioria das vezes, tivemos acesso gratuitamente. É, minha gente, creative commons.

E, finalmente, pra acabar de falar o mínimo…

Depois da conversa com Ésio, o representante da Cooperativa Paulista de Teatro, Osvaldo Pinheiro, assumiu o microfone pra divulgar um manifesto contra os ataques sofridos pelos programas de Fomento às artes em São Paulo que, apesar de serem modelo para todo o país, vivem sendo alvo de tentativas de fragilização. Desta vez, o ataque veio por meio de um decreto do nosso … prefeito municipal.

A mobilização é grande e o “grito” é: “Já caiu, já caiu, o decreto e o Calil”, demonstrando o desapontamento com a posição do Secretário Municipal de Cultura, que desviou de qualquer responsabilidade sobre o decreto e não apoiou sua revogação – objetivo das manifestações da categoria artística.

Pra saber mais, dá uma olhada na reportagem da Leca no site da Cooperativa.

E, pra terminar, segue o manifesto:

NOVO MANIFESTO DOS GRUPOS E MOVIMENTOS
EM DEFESA DA ARTE E DA CULTURA

As Leis de Fomento às artes na cidade de São Paulo são referências exemplares na discussão das políticas públicas de cultura no Brasil. O exemplo mais eloqüente é a Lei de Fomento ao Teatro, aprovada no final de 2001, que recusa o modelo mercantil de produção, circulação e fruição dos bens culturais.

Mais de uma centena de núcleos artísticos (milhares de fazedores) receberam recursos para desenvolver seus projetos de pesquisa e criação. Dezenas de novos espaços culturais foram abertos e milhões de pessoas fruíram dança e teatro em toda a geografia da cidade.

Hoje, justamente pelo acerto destas iniciativas inspiradas em valores radicalmente democráticos, as Leis de Fomento estão sendo atacadas pela atual administração da cidade de São Paulo.

O último ataque às leis de fomento vem na forma do decreto municipal 51.300, que dentre seus ditados, aumenta a carga tributária dos projetos fomentados e converte os trabalhos prestados em convênios. Estas mudanças enquadram os grupos de dança e teatro em um mar fiscal burocrático que padroniza e estrangula seu pleno desenvolvimento. O decreto cria prerrogativas capazes de aniquilar os fomentos, ou no mínimo distorcer suas características até tornarem-se irreconhecíveis.

Estes ataques se dão com o aval da autoridade que deveria zelar por sua plena aplicação. O secretário de cultura Carlos Augusto Machado Calil se apresenta como títere de interesses escusos que desfere constantes golpes às leis utilizando toda sorte de recursos técnico burocráticos.

Seja por sua própria intenção ou por covardia de enfrentar outros setores do governo, o Secretário age contra os interesses dos trabalhadores artistas e do povo desta cidade.

Nós, trabalhadoras e trabalhadores das artes unimos forças e buscamos:

– A aplicação das leis de Fomento ao Teatro e Dança para a cidade de São Paulo em sua inteireza, sem acréscimos controladores (por meio de editais ou decretos) instituídos ao sabor de interesses políticos, partidários, econômicos, fiscais, jurídicos, burocráticos;

– Imediata supressão do decreto municipal nº 51.300;

– Que o poder legislativo zele por suas atribuições democráticas não permitindo que o poder executivo converta-se num super poder que ignorara as resoluções da câmara;

– Um(a) secretário(a) de cultura que seja sensível parceiro(a) daqueles que produzem cultura ;

РAmplia̤̣o das verbas dos Fomentos;

– Aprimoramento do fomento a dança com o intuito de possuir dotação orçamentária própria estipulada em lei;

Quem não se mexe, não sente as amarras que o prendem!

Movimento de Teatro de Grupo de São Paulo
Mobilização Dança
São Paulo 10 de novembro de 2010.


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