Próximo Ato 2009 – Primeiro dia: Começando a terminar…

Blog   |       |    4 de novembro de 2009    |    2 comentários

Hoje – que já é ontem porque passou da meia noite – aconteceu a abertura do Próximo Ato 2009, a sétima ediçao do projeto bancado pelo Itaú Cultural que se define como “programa anual de reflexão teórico-prática sobre teatro contemporâneo”. Iniciado em 2003, foi em 2006, com a entrada de Antonio Araújo, José Fernando Azevedo e Maria Tendlau, que o evento ganhou uma formatação conceitual mais voltada ao teatro de grupo ou à prática dos chamados coletivos teatrais. Houve, também, ao longo do desenvolvimento do projeto, edições regionais, realizadas em Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Brasília e Belém.

De hoje-ontem, 3/10, até sábado, 7/10 acontece o terceiro e último encontro nacional do programa nesta fase especificamente voltada ao trabalho de coletivos teatrais. A grande novidade deste ano, acompanhada de mudança estruturais, é a presença de representantes de todos os estados brasileiros: são pelo menos dois representantes por estado (ou seja, 52 fazedores de teatro), além de outros 80 grupos paulistanos convidados.

Outras duas novidades são a presença do grande, mítico, reverenciado ou, como diria Iná Carmargo Costa, “jesuíta” alemão, Hans T. Lehmann… e da Bacante, que vai cobrir todas as etapas do encontro. A programação completa você pode consultar aqui ó ou pegar uma pessoalmente no Itaú Cultural.

Primeira noite ou não tinha espumante

A moda agora é vinho e de preferência derrubando a taça no chão. Nas rodinhas, vale comentar as Satyrianas, a apresentação especial da Cacilda! do Zé Celso, a apresentação do Ói Nóis no Dops e tudo mais que vier à mente, mas o mais especial é a diversidade de sotaques em que os comentários são feitos. E fazer bagunça ou conversar sério em meio a essa diversidade é outra coisa. Nada como ouvir: “Ó, a culpa do barulho é desse povo que vem de Cuiabá”, “É nada! Culpa dos de Recife!”… e por aí vai…

Falando sério ou como se escreve Borriaud?

A abertura não contou só com canapés, empadas e brigadeiro no copinho. A primeira conversa foi com o crítico de arte Nicolas Borriaud. Bem humorado e com francês pronunciado bem devagar – o que deixou a tradução simultânea muito boa – o moço revelou: “nenhuma criança diz que quer ser crítico quando crescer… eu queria…”. A gente da Bacante não.

Para muito além disso, fez um panorama da história recente da arte e teceu críticas à idéia de “pós-tudo”. Uma avaliação, em geral, bastante voltada a questões européias, mas que deu conta de temas que também estão quentes por aqui, tais como a capacidade de uma obra de se construir com base na mistura de muitas outras colocadas em um novo contexto; o papel político da arte; o embaçamento da fronteira entre produtor e consumidor de cultura; e a relação entre ética e estética na obra de arte.

Não vou desenvolver cada tema, mas gostaria de comentar alguns.

Para começar, Borriaud comenta que hoje vivemos uma vida repleta de roteiros prontos em relação aos quais somos obrigados a nos posicionar para viver. A partir dessa concepção, o papel da arte seria o de decorar tais roteiros para relativizá-los, transformá-los e mostrar, no limite, quão frágeis são as estruturas que aparentemente nos aprisionam a ao “sistema”.

Quanto à reutilização de obras em novos contextos, tema recorrente em sua fala, ele propõe uma diferenciação entre a apropriação de uma obra, que pressupõe a existência de uma autoria que é “desrespeitada”, e a idéia de comunismo formal, que parte do princípio de que tudo é de todos. (Quer um bom exemplo desse lance de “tudo é de todos”? Ó: http://rede.metareciclagem.org/)

E, finalmente, sobre o dilema ética-estética, ele deixa claro que é essencial um posicionamento ético que direcione a prática, mas afirma que mesmo os artistas que usem a ética como material, serão “julgados” por sua estética, pois ética sozinha não basta. Ele fecha esse raciocínio com uma citação que o google remete a inúmeros autores e que, portanto, já virou ditado: “Não se faz boa literatura com bons sentimentos”.

'2 comentários para “Próximo Ato 2009 – Primeiro dia: Começando a terminar…”'
  1. Marco Bonachela disse:

    E ai pessoal da Bacante?
    Tenho acompanhado o twitter de vcs.
    Faço parte do Colaborativo Permanência (PE), que está sendo representado por Carlos.
    Queria elogiar a iniciativa deste relato Juliene, que, mais pessoal sem esquecer das formalidades, nos aproxima um pouco do que está rolando por ai!
    Bom Proximo Ato!
    Postem mais!
    Abs.

  2. Juli =) disse:

    Oi, Marco!

    Vamos postando tanto quanto possível… o Próximo Ato é um evento muito puxado, são poucos dias e programação bem intensa, mas vamos atualizando por aqui, ainda que de maneira bem resumida.

    Um grande abraço!

    Juli =)

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