Árvores Abatidas ou para Luiz Melo

Críticas   |       |    1 de abril de 2009    |    3 comentários

Críticas… (há batidas) Ou para Nelson de Sá

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Foto: Henrique Araujo / CLIX

Monólogo, já viu né? Ou o intérprete tem culhão pra segurar a onda ou já sentamos na plateia com menos um. Ok, isso é preconceito. Tá certo que é. Mas confesso que eu jogo fora o danado do preconceito depois do terceiro sinal e me prendo ao que me é dado.

Rosana Stavis não tem culhão , mas segurou a onda pra valer em Árvores Abatidas ou para Luiz Melo. Que maneira superficial de falar sobre uma peça, meu Deus! É puro gosto pessoal o que eu expressei aqui. Acho que a crítica tem que ser mais do que isso: achei, gostei. A direção é do Marcos Damaceno, que montou o espetáculo em sua própria casa em Curitiba. Pertinho do Largo da Ordem.

O espetáculo foi uma adaptação do romance do Thomas Bernhard. A narrativa se passa em Viena. A impressão que eu tive foi a de ser apresentado a uma Viena regional – nossa! nunca imaginei que isso fosse possível. Daí que o espetáculo linkou a trama, os personagens com figuras carimbadas da cena teatral de Curitiba. Se você é daquele leitor de crítica que não dispensa uma sinopsesinha, aí vai: conta a estória de uma mulher que fica na antesala da mansão de um famoso casal de artistas que dá um jantar pra o “grande ator do teatro nacional que faz até telenovelas” e reúne a inteligência local para saúda-lo. Ou seja, uma descida aos infernos do mundinho intelectual, desta e de qualquer outra província do Brasil. É só mudar as moscas…

A mim me interessou, sobretudo, flagrar ainda os resquícios de provincianismo – dos quais me sinto PhD haja visto morar em uma – engendrados na cosmopolita Curitiba e expostos a nu nessa corrosiva peça. Principalmente porque pela manhã na entrevista coletiva do Festival de Curitiba, o presidente do evento , Leandro Knopfholz, ao responder a uma pergunta de uma repórter local, achou a questão “superada, que em pleno século XXI, pra mim essa discussão já foi”. É uma pena que eu tenha perdido a pergunta, quando cheguei na sala, acabei só ouvindo a resposta mesmo, tipo: “o que é regional? O Grupo Galpão tá trabalhando com uma diretora francesa, e daí? Eles são ou não são mineiros”.

Opinião semelhante tem “grande-crítico-do-teatro-nacional-que-escreve-até-sobre-política”. Ele, num post sobre Árvores Abatidas, acha Curitiba cada vez mais parecida com São Paulo (escreveu a caminho de lá), “do trânsito, das pessoas apressadas, do mau humor”.

Bom, como esse ano não rolou van para transportar a imprensa e eu andei a maioria das vezes a pé ou de ônibus. Acho que, por esta razão, ao menos no que se refere a trânsito, não saquei essa “sãopaulização”. Já em relação aos outros quisitos: pessoas apressadas, mau humor… relativo demais, né? Essas questões aí, as duas últimas, não tem geografia que dê jeito – mau humor há aqui e algures- e cada um vê conforme os olhos ou os óculos. Acho foda esse tipo totalização conceitual. O “grande-crítico-do-teatro-nacional-que-até-escreve-sobre-mídia” disse, naquele estilozão ambíguo de morde-e-assopra, que Árvores Abatidas era “um exemplo (mais ) assustador (do que os stand-up comedy de Curitiba, citados no período anterior do post)” de “(…) esgarçamento (que) transforma agora o que era teatro em subproduto de “Zorra Total” e não, como foi na verdade, o contrário.

Para que as observações do “grande-crítico-do-teatro-nacional-que-até-dirigiu-peça-da-Kane” não sejam turvadas, recomendo como imprescindível a leitura do próprio post aqui. Mas eu falava sobre como é foda a totalização de juízos de valor. Como os desse tipo: “Para quem vem de fora, mais parecem rancores, mau humor, mesquinharia seletiva”.

Eu, do mesmo jeito que o “grande crítico”, vim de fora. Não fui consultado, por ele nem por ninguém, sobre qual seria a minha opinião sobre a peça, se me era “mesquinharia seletiva”. Ninguém (aliás, registre-se, eu nunca vi o tio Nelson) chegou pra mim com uma prancheta de pesquisa pedindo minha opinião, como o pessoal da assessoria do Festival de Curitiba que me entregou, a mim e ao restante da imprensa, a lista para eleição dos “melhores”.

Quero já adiantar que ainda estou com a folha em branco. Não votei porque não vi tudo (até o momento que vos escrevo e mando esse texto à Bacante). Nem se visse tudo votaria, a que me propus ver, não acho que as peças sejam nadadores correndo em raias disputando medalhas – até porque até eles não precisam de votação, né?? Eles vão, nadam e tá acabado, se chegar primeiro, chegou. Desse tipo de modelo tô fora. Também não tenho informações, mas não soube de ninguém, de fora, que tenha sido entrevistado por Nelson de Sá, para ele formular esse juízo de valor pessoal e transferi-lo a todos os espectadores que são de fora e que viram a peça.

24/03/2009, 17:48:07 : [Marcos Damaceno] [Curitiba]
Oi, Nelson. Mas eu juro que não há uma opinião pessoal sequer. Só retrato os comentários gerais da classe. Eu, pessoalmente, amo o Felipe e o Melo – que são meus ídolos – e todos os artistas desta cidade (e não estou sendo irônico). A gente fala mal, mas a gente de ama e se diverte. Abraços Damaceno

RESPOSTA:
Pode ser outro o propósito, Damaceno, mas a sensação ao acabar a apresentação foi bem negativa. abs (e parabéns à Rosana)

'3 comentários para “Árvores Abatidas ou para Luiz Melo”'
  1. anônimo disse:

    Mas esse Nelson entende tanto de teatro quanto minha finada vózinha. Vide o que ele fez com a tadinha da Sarah Kane

  2. andrea bernardes disse:

    Fora a fotografa dele que entra em qualquer peça faz 10 cliques e nem sabe do que se trata ou o que apeça ta falando.

    Voces sabem porque a Lenise Pinheiro faz isso???É muita vontade de ser a melhor em quantidade????

    A nossa sorte é que o melhor fotografo de teatro nao faz isso!!! O meu tio!

  3. an disse:

    Cara, Ainda não vi Árvores Abatidas ou Para Luiz Mello, mas
    vi a montagem de Psicose 4.48 que o tal de Nelson dirigiu e não entendi porcaria alguma, achei até que o texto é que era uma merda. Bem… dois anos depois assisti o mesmo texto com a Rosana Stavis. Porra… quanta diferença. Aí sim, pude ver o quão genial era a senhorita Kane. E a Rosana Stavis então… puta que pariu… vai ser boa assim lá no inferno.

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