Congresso Internacional do Medo

Críticas   |       |    15 de fevereiro de 2009    |    4 comentários

Com a palavra Рo p̼blico

Meu nome é Emilliano Freitas e fui convidado a esse Congresso Internacional do Medo, por meio de uma amiga que no msn me informou da presença do Grupo Espanca na Mostra Nacional de Teatro de Uberlândia- 5ª Edição – SESC-ATU – Etapa Nacional.

Para alguém cujo maior medo é ser assaltado, trazer à tona uma conclusão sobre o evento em que estavam presentes cinco palestrantes de diversas lugares do mundo, que nunca tinha ouvido falar antes, divagando sobre as questões acerca de nossa existência na Terra, é terrível. Fico pensando se isso é pior que ser assaltado, afinal minhas palavras podem não ter o poder da síntese e as reflexões propostas às vezes não agradarão alguns. Porém, quando a coragem de publicá-las vier à tona, tenho ainda esperança de que alguns medrosos guardarão suas angústias e, ao invés de utilizar o espaço dos comentários para dizer o quanto são antagônicos os pensamentos desse que vos escreve com relação aos deles, repartirão suas aflições apenas com os peixinhos de seu aquário, onde as pedras são de plástico e posso alimentá-los jogando a ração na superfície da água.

Pior que o medo dos pensamentos alheios, é aquele que sentimos antes de um espetáculo considerado por muitos de “não tão bom quanto os outros do grupo”. Impossível não querer mais efeitos simbólicos-farbulescos-plásticos de abacates caindo do teto, lama entrando por todo o palco, um amontoado de gelo num chão roxo, onde personagens não se entendem enquanto, na poltrona, meus olhos ficam vermelhos. O medo de se decepcionar com a comida da nova namorada, seu avô não agüentar o tratamento médico, a cerveja da lata de 260ml não ser tão gostosa quanto a de 340ml, com a falta das mãos falantes de Grace no palco ser grande, e a espécie não se perpetuar.

Geralmente quando espetáculos de fora da cidade vêm se apresentar, as pessoas perdem o medo do teatro proporcionando bilheterias esgotadas, fato esse comum apenas com espetáculos cômicos. Vai ver que por isso o público respondeu com longas e altas gargalhadas a qualquer estímulo vindo do palco. O riso vai se tornando uma espécie de passatempo para a primeira parte regada a falatórios aparentemente banais, e vai sumindo quando a platéia ganha coragem de encarar sua posição de espancada e não de ganhadora de beijinhos.

Não acompanhar todo o diálogo e paralisar o pensamento diante de uma luz verde misturada com um leve azul que delineia corpos negros, antes tão brancos, é doído. Me dá uma angústia fazer parte do público decifrador de signos (por ora indecifráveis) numa tentativa de transformar tudo em conceito, porque estamos no século XXI e todos somos espectadores emancipados, e no final teremos que refletir com os amigos se o suco de morango que escoa do filtro é o sangue do parto, ou o sofrimento humano. É importante manter-se com coragem, e distante, focar o líquido vermelho escorrendo no canto do palco, sem ligar se precisa ou não de significado.

As posições éticas com seus conceitos de vida e morte e morais de histórias são sucumbidas por poesia corajosa. Melão disse: “(Grace) É norteada, também, pela busca – até o momento bem-sucedida – de poesia em cena”.

Ia dar um black-out agora e só voltar amanhã pra concluir qualquer coisa com palavras bem bonitas, que encheriam essa página, mas seriam tão vazias como uma mensagem de “petetê” que recebo todos os dias no meu email, cheia de imagens de crianças africanas dizendo o quanto minha vida é boa. Seria uma bonita fuga, mas o silêncio me deixa com menos vergonha, e as expressões dos atores que recebem palmas com os rostos cheios de horror, como se a bofetada que acabaram de dar doesse da mesma forma em suas faces, é mais cativante que um pôr-do-sol com uma frase do Paulo Coelho (que agora vou deletar da minha caixa de emails).

02 peixinhos vivendo fora d’água fria

Leia também a crítica de Maurício Alcântara para esta montagem.

'4 comentários para “Congresso Internacional do Medo”'
  1. Uma amiga ao final da peça me falou:

    “Acho q n consegui entender direito.”

    “é q algumas coisas nao são mesmo para entender. oq vc sente vc pega e guarda pra vc.” – eu lhe respondi

    obrigada por me citar. bjos amigo

  2. Pois é Paulinha, não sei se é uma questão de entender ou de sentir. Às vezes a gente entende tudo, mas não é tocado por nada. Outras vezes, escutamos de artistas que não é pra entender, apenas pra sentir, e no final não sentimos nada. Pode ser que a obra não conseguiu abrir o canal para sentirmos algo (ou a gente não abriu esse canal pra obra). Quem entende?

  3. Paulo luis disse:

    eu não entendi…
    e não gostei!

  4. […] do risco, quando um ator uberlandense perguntou pra Grace do porquê fazer um espetáculo como Congresso Internacional do medo, de difícil digestão, após dois sucessos catárticos como Por Elize e Amores Surdos. Fiquei com […]

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