Lesados e Meire Love

Críticas   |       |    7 de julho de 2010    |    4 comentários

Dossiê Bagaceira

Você vai colocar isso no dossiê da Bacante?
Claro que sim, Rogério.

1ª peça: “Lesados”

Foto: Divulgação

“E aí, o que achou?”
“olha vou confessar uma coisa pra você, Demick”
“Hm”
“Eu tinha visto em Curitiba”.
“Ah, você falou. E o que você achou lá?”.
“Cara, confesso que eu não gostei não”.

Alguns minutos antes. Ou depois.

“Teve umas modificações, não foi Yuri?”.
“Sim. Teve mudança de elenco.
“Foi?”.
“Foi”.
“Quem saiu?”
“Sabe o Cássio?”
“?”
“O ator que faz o Cássio no Realejo”.
“Desculpa, Yuri. Eu não vi Realejo”
“Ah, então. Esse ator, que faz o Cássio, entrou.
“Ah”.
“Então, ele trouxe uma nova energia. Um novo ritmo. Isso acaba mexendo, né?”.
“Vem cá, aquele lance da fotografia, do personagem dele que pega a máquina e tira uma foto, tinha antes?”
“Não é o que eu tô dizendo? Foi proposta dele, não tinha isso antes, não”.

Conversa anterior, com Demick

“Você não gostou em Curitiba não, né?”
“Não, não gostei”.
“Sei”.
“Achei uma coisa meio. Como é que eu digo?”
“Parada?”
“Nem tanto. Mas uma incorporação de Beckett meio que aleatória, sabe? Como se o contexto em que Beckett produziu os textos dele, com aqueles silêncios, fosse uma mera incorporação estética, sem uma relação mais crítica com o nosso tempo, sabe?”.

Um dia depois.

“Amanhã sai texto meu sobre Realejo”
“Ah é? Na Bacantes?”
“Não, no jornal”.
“Mas, você vai escrever lá também, né?”
“Sim. Mas, no jornal você sabe, eu me disfarço. Lá no jornal eu sou uma senhora fina”.
“…”
“Sabe, que eu me divirto mais escrevendo pra lá, né?”
“Olhe, olhe o que você vai escrever lá, viu?”
“Como assim, Rogério?”
“Ah, o Fabrício é meu amigo”.
“Sei”.
“Ele sempre falou bem…  Sim, sabe que a Bacante tá no nosso press kit?”
“É?”
“Sim. Escrito em portunhol. Eu vou trazer o press kit, viu. Eu vou mandar pra você”
“Ah, quero ver sim”.

Mesmo dia, minutos depois. Pra ser lido com um pouco de tinta de galhofa e de ironia.

“Então, comprem o jornal amanhã. Só vai dar Bagaceira. Tem matéria sobre Realejo e tem crítica sobre Lesados”.
“Ah é?”
“É sim”.
“Quero ver se vou apertar sua mão amanhã do mesmo jeito que eu tô apertando hoje”.
“Mas eu gostei”
“Dessa vez, né. Porque eu Curitiba eu soube que você odiou”.
“Foi, mas eu gostei dessa vez”.
“Agora você entendeu, né?”
“Acho que sim. Sabe de quem eu falo na crítica?”
“Não, de quem?”
“De Frank Miller…”
“Ah… começou a entender…”
“De Beckett…”
“Ah…”

2ª peça– “Meire Love”

Foto: Alex Hermes

“Daniel, essa aqui é minha amiga Fernanda. Fernanda Ferreira”
“Oi, prazer Daniel”.
“Ela é do Coletivo Alfenim”.
“Ah, lembro, sim”.
“Eu vi você no Milagre Brasileiro”
“Ah foi?”
“Foi sim.”
“Foi você que pintou meu rosto naquela cena que os atores se aproximam do público e pintam o rosto das pessoas”.
“Ah, desculpa. É que foram tantos rostos (risos)”.
“Viu Meire Love, ontem?
“Vi sim”.
“O que você achou?”
“Ah, eu não gostei não”.
“Por que?”
“Olha, não sei dizer não. É que… sabe… aquele tema”.
“Que tem aquele tema?”
“Acho que um tema daqueles… crianças em situação de rua…. Colocado daquele jeito, engraçadinho… Parece que banaliza a coisa, sabe?”
“Mas, Fernanda, se você de outra forma seria insuportável. Elas são exploradas mas são crianças: se divertem, brincam, se alegram, sonha… Se não fosse desse jeito, com essa moldura de humor, seria insuportável…”
“Não, eu sei…”
“Imagina se eles apresentassem esse tema, de crianças exploradas sexualmente, na praia… um tema que já é pesado… Imagina eles dizendo: ah, sou vítimas… ah, tenham pena de mim…”
“Não, isso eu sei… Mesmo assim… eu não gosto não”.
Silêncio.
“Mas, nada contra os atores, eles são sensacionais. Eu fiz oficina com eles. É incrível como eles pegam as referências todas, de Grotóvksy, Barba, e jogam numa realidade nossa, sabe?”
“Nada contra o desempenho deles”.
“Tá”.

Um dia antes

“Ei, Astier”
“Que foi Demick”
“Tu notasse?”
“O quê?”
“Que tu dizia umas falas da peça antes dos atores dizerem?”
“Foi?”
“Tu não notasse não?”
“(risos) Acho que não. Foi mesmo?”
“Cara, tu tinha decorado trechos do texto!”

Depois da conversa com Fernanda.

“Ei, Tita”
“Fala, Daniel”.
“Tem uma coisa que eu não entendi”
“O que foi?”
“O lance dos sacos?”
“Não entendeu como?”
“Não sei, porque eles sopravam aquilo ali”.
“Cara, tem muitos sentidos ali. Tem umas analogias diretas, por exemplo, o ato lembra, de cara, o lance dos meninos de rua, cheirando cola”.
“Ah sim”
“Tem também o lance do sopro, que é uma metáfora da vida – Gênesis…”
“Quer outra cerveja?”
“Não”
“Sabe o que acho também? O som. O barulho que eles fazem. Já que os atores não se movimentam, que tão ali nas cadeiras…”
“Sem fazer a contracena…”
“é… Então, acho que aquele barulho serve pra marcar umas transições também, né?”
“Bom, a grandeza do signo teatral é essa, né? Condensar vários sentidos, vários significados”.

7 dias na bagaça

Leia também: crítica de Realejo por Leca Perrechil; crítica de Lesados, por Julie Codognoto; Meire Love e Tá namorando, tá namorando, por Fabrício Muriana  a entrevista com o grupo Bagaceira


'4 comentários para “Lesados e Meire Love”'
  1. Rogério disse:

    Adorei!

  2. Talita Talissa disse:

    ótimo ler uma crítica tão inovadora na forma.

  3. Babicha disse:

    Donderdag geraakte bekned dat Oh, phu-lease! Ik weet al twee maanden dat die twee een relatie hebben (we wouden Ides in onze vrijgezellenlijst zetten, maar toen kwam de aap uit de mouw ). Alleen wou niemand het bevestigen.En wie was ook de eerste die het bekned gemaakt heeft? Moraal van het verhaal: WE RULE!Als dat geen fles champagne verdient

  4. Matheus disse:

    A Paz do Senhor, queridos irme3os, sou die1cono na Igreja Batista Humaite1 aqui em Se3o Vicente / Se3o Paulo, ne3o recmebeos os materiais para divulgae7e3o de Missf5es Mundiais, segue o enderee7o:Igreja Batista Humaite1Rua Pastor Ney Angelo Pereira, 80 Pq.Continental, Se3o Vicente/SPCEP 11.348-030Telefone do Pastor da Igreja (Pedro Gone7alves) (13) 3564-1641

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