O Amargo Santo da Purificação

Críticas   |       |    28 de outubro de 2008    |    17 comentários

Santos Amargos

Foto: Claudio Etges

“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como ele de fato foi”. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. (…) O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”

Walter Benjamin. Sobre o conceito da história.

“Necrofilia é amor ao futuro”

Heiner Müller

Anjos.

A famosa metáfora do anjo da história do pensador alemão Walter Benjamim, inspirada no quadro de Paul Klee, retrata um anjo que observa o passado amontoado de entulhos e destroços da civilização, mas não pode parar, é incessantemente puxado, pelos ventos do progresso, ao futuro.

Heiner Müller dialoga com a mesma metáfora. Entretanto, seu anjo olha à frente. Observa o futuro “represado, esmagando seus olhos”. Mas a pilha de destroços é mais rápida que ele, e o comprime no instante. Entre o passado e o futuro. Esmaga-o. Até que “um renovado rufar de poderoso bater de asas se propague em ondas através da pedra e anuncie seu vôo.”.

O olhar para a História pela Tribo Ói Nóis Aqui Traveiz é a propagação na pedra, que prenuncia o vôo.

O Amargo Santo da Purificação.

A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz possui 30 anos de história (impossível seria começar de outra maneira); surgiu dia 31 de março de 1978, simbolicamente, na véspera do aniversário do Golpe Militar. Um grupo provocativo, que aparece questionando os paradigmas normativos da arte. Nesses 30 anos, tal inquietação só fez crescer, com pesquisas estéticas e atuação política cada vez mais aprofundada – sem repertório museológico (e sem DVD comemorativo da sua ascendência ao sucesso), mas com reminiscências de passados sobre si mesmo, com incansável auto-questionamento sobre sua produção teatral.

O Amargo Santo da Purificação é o novo espetáculo da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz – faz parte da vertente do Teatro de Rua do grupo (outras vertentes de atuação são o Teatro de Vivência, a Escola de Teatro Popular, as Oficinas Teatro como Meio de Discussão Social, etc.). Fragmentos da vida particular e política do revolucionário brasileiro Carlos Marighella são levados à luz ensolarada da cena de rua.

Domingo à tarde.

Faz muito sol, e calor. Ao longo da peça, o público cresce e se renova: famílias que divertiam seu domingo na praça, jovens que jogavam futebol, muitos meninos montados em bicicletas, crianças, o público especializado de teatro (em menor número é claro, devido, acredito, à distância do Campo Limpo – um pouco além do aconchegante antro SESC e afins – mas isso é outra discussão), bêbados, vendedores de sorvetes gritando e toda a sorte que se pode encontrar em qualquer praça das periferias do planeta – ademais, a ilustre viúva do protagonista: cabelos brancos e um relógio de pulso com uma brilhante estrela vermelha no centro.

Um conjunto de cenas passa a ser apresentado. Não contêm em si uma linearidade clara, nem um ponto de referência histórico pedagógico. Fragmentos da história pessoal e da política nacional brasileira são cantados e alegorizados com corpos dinâmicos, ativos, presentes, grandes objetos de cena (como o carro do progresso, uma máquina enorme acinzentada sobre rodas cuspindo som e fumaça) e intensas musicalidades africanas, brasileiras, italianas. O evento chama demais a atenção.

Uma mãe, com duas crianças de olhos vidrados, questiona: “eles deviam por o significado das coisas” (e ri para si mesma) – ficariam lá, os três, até o fim. Perto deles, um grupo de meninos sem camisa em bicicletas (desses que deixam a nós, habitantes do centro privilegiado, um tanto temerosos); estacionaram ali rindo uns para os outros; de todos destaca-se um, mais alto, sério, quieto, bonito, posição central, parece que cada passo que os outros dão, antes olham para ele; o grupo gera a sensação de iminente intervenção provocativa na peça – mas ficam ali, parados. Uns saem, cansam-se, voltam ao futebol. Mas ele, o do centro, fica. Olhos frios, expressão impassível. Quando o espetáculo muda de lugar (já próximo do fim) eles perdem a posição privilegiada, ainda circulam um pouco em volta, mas resolvem ir embora. Ele pedala mais lentamente; já ao longe, olha para trás, mantém o olhar por 3 segundos e segue.

Dialética da revolução.

Carlos Marighela representa na história recente do Brasil um paradigma do herói político e humano. Um mártir da luta armada contra o autoritarismo do regime militar, não-afeito à normatização da luta ou à burocratização das organizações partidárias comunistas: foi sujeito da sua própria história. Postou-se na frente de qualquer tipo de poder e desafiou-o.

Por outro lado, entretanto, Marighela representa também a figura do herói digerido pela complexidade do capitalismo contemporâneo: motivo de filmes atuais de caráter pouco crítico e com circulação e financiamento proporcionado por grandes corporações privadas – as mesmas que antes apoiaram o poder autoritário militar, algoz de Marighela. Ou ainda, sua figura pode, com facilidade, representar a personificação do herói individualizado que carrega os valores da coragem, da perseverança e da moral edificada – valores comumente utilizados a favor da ideologia de mercado.

Mas, pela dialética da figura histórica, surge um teatro que ressuscita esse morto individual na figura de mil, de um coletivo (como a própria práxis de funcionamento do grupo, nesses 30 anos de existência). Que problematiza o presente (pontualmente, pela referência à questão atual da abertura dos arquivos da ditadura) que re-significa o olhar à história e ao teatro, enquanto procedimento. Apoteose crítica da luta, da utopia, da paixão e da resistência. Um teatro afirmativo e estético, que des-individualiza o mito. Que se propõe enquanto síntese fragmentada.

Sobre meios e formas.

Altamente relevante é a forma do espetáculo. A fragmentação, a teatralidade popular, a musicalidade constante, a justaposição de tempos e estímulos e a relação com o público – oposta à tendência geral do teatro de rua (brincadeiras com as pessoas, relação direta, piadas e pegadinhas, etc), mas afirmando uma proximidade imanente da presença, do ardor da realização e, mais importante, do olho no olho – propõem um experimentalismo estético que sublinha a manifestação teatral enquanto encontro (principalmente em locais “em crise”, como as periferias das grandes cidades) em consonância com o conteúdo abordado: um mito brasileiro da resistência humana contra a opressão.

Resta-nos entender esse Marighela como sujeito, e não objeto, de nossa história de passividades generalizadas. Como libelo pela retomada do olhar sobre as contradições históricas da ditadura militar que gerenciou o Brasil por tantos anos (1964 – 1985) – e sobre períodos igualmente obscuros como o Estado Novo getulista. Como a “abertura da clareira, em meio ao bosque” – tanto em termos artísticos quanto políticos. E como esperança, na luta contra inimigos que “não tem cessado de vencer”.

Foto: Fabrício Muriana

Epílogo.

Última cena: balões de liberdade e esperança são soltos ao ar. Em São Paulo, na Praça do Campo Limpo, eles logo se enroscaram na fiação elétrica, com ímpeto e força soltaram-se e seguiram por mais um pouco, mas um novo emaranhado energético os fisgou e ficaram ali, poucos metros de onde saíram, esfregando na nossa cara que a sensação de felicidade esperançosa dura pouco e que a luta é mais dolorosa que romântica e infinitamente longa. Por outro lado, ironicamente, os balões tornaram-se, ali enroscados, o vestígio vivo da esperança num lugar esquecido que por mais longos anos cumprirá sua rotina, sem qualquer sombra de teatro.

1.109km de distância entre Porto Alegre e São Paulo

'17 comentários para “O Amargo Santo da Purificação”'
  1. Kiko Rieser disse:

    Muito bom, Paulão!!!

  2. Paulo disse:

    Caraca, a exaltação de um bandido com o dinheiro público? Vocês não têm vergonha na cara, mesmo. Exploração da ignorância do povo é coisa de gente sem escrúpulos. Marighella foi autor daquele livro que prega o banditismo descaradamente, chamado “MANUAL DO GUERRILHEIRO URBANO”. Todos aqueles que participam disso são cúmplices morais de todas as vítimas que esse monstro covarde lhes tirou a vida. O lugar de vocês é na lata de lixo da história.

  3. Paulo Bio Toledo disse:

    A lata de lixo da história deve ser sempre revirada meu caro xará.
    Se não vamos reproduzir, eternamente, a ignorância e estupidez, como no teu comentário.

  4. Astier Basílio disse:

    Concordo em g̻nero, n̼mero e grau com voc̻, Paulo РPinheiro.

  5. Juli =) disse:

    Oi? Lata de lixo? Que perigoso…

    Ei, Astier, acredito que vc concorda sobre o banditismo e o dinheiro publico, apesar de divergir de vc. Mas, puts, sobre a lata de lixo acho um pouco demais. Não porque o Paulo Pinheiro tenha dito que lá é o “nosso” (meu, do Paulo Bio, do Ói Nóis) lugar, mas pela simples admissão de que exista esse tal lugar: a lata de lixo da historia.

    Ei, Paulo, você leu esse livro do Marighella que você citou?

  6. Paulo Bio Toledo disse:

    dizer que o Marighella é um bandido é o cúmulo da ignorância
    da estupidez e da perversidade. Comparar a luta de guerrilha, a luta revolucionária com o simples crime é o discurso mais cruel e repetido da história. Moralismo intra-venal. Hipocrisia calcificada na estreiteza do pensamento.

    é o mesmo que dizer que Zumbi foi um assassino. Ou que todo negro escravo que assassinou seu feitor é um bandido amoral.

    pura retórica, parente do “ditabranda”,

  7. Astier Basílio disse:

    “O Tiro: A Razão para a Existência do Guerrilheiro Urbano

    A razão para a existência do guerrilheiro urbano, a condição básica para qual atua e sobrevive, é o de atirar. O guerrilheiro urbano tem que saber disparar bem porque é requerido por este tipo de combate.

    Na guerra convencional, o combate é geralmente a distância com armas de longo alcance. Na guerra não-convencional, na qual a guerra guerrilheira urbana está incluída, o combate é a curta distância, muito curta. Para evitar sua própria extinção, o guerrilheiro urbano tem que atirar primeiro e não pode errar em seu disparo.

    Não pode desperdiçar suas munições porque não tem grandes quantidades, por isso tem que economizar. Tampouco pode recarregar suas munições rapidamente, porque é parte de um grupo pequeno na qual cada guerrilheiro tem que se cuidar sozinho. O guerrilheiro urbano não pode perder tempo e deve poder atirar de uma só vez.

    Um fato fundamental, que queremos enfatizar completamente e cuja importância fundamental não pode ser subestimada, é que o guerrilheiro urbano não deve de disparar continuamente, utilizando todas suas munições.

    Pode ser que o inimigo não esteja disparando precisamente, e esteja esperando que as munições do guerrilheiro hajam gastado. Em tal momento, sem ter tempo para recarregar suas munições, o guerrilheiro urbano enfrentará uma chuva de fogo inimigo e pode ser aprisionado ou morto.

    A pesar do valor do fator surpresa que muitas vezes faz com que seja desnecessário o uso de suas armas, não pode ser permitido o luxo de entrar em combate sem saber atirar. Cara a cara com o inimigo, tem que estar em movimento constante de uma, posição a outra, porque o ficar em uma só posição o converte num alvo fixo e, como tal, muito vulnerável.

    A vida do guerrilheiro urbano depende de atirar, na sua habilidade de manejar bem as armas de pequeno calibre como também em evitar ser alvo. Quando falamos de atirar, falamos de pontaria também. A pontaria deve de ser treinada até que se converta num reflexo por parte do guerrilheiro urbano.

    Para aprender a atirar e ter boa pontaria, o guerrilheiro urbano tem que treinar sistematicamente, utilizando todos métodos de aprendizado, atirando em alvos, até em parques de diversão e em casa.

    Tiro e pontaria são água e ar de um guerrilheiro urbano. Sua perfeição na arte de atirar o fazem um tipo especial de guerrilheiro urbano – ou seja, um franco-atirador, uma categoria de combatente solitário indispensável em ações isoladas. O franco-atirador sabe como atirar, a pouca distância ou a longa distância e suas armas são apropriadas para qualquer tipo de disparo.”

    Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano, Carlos Mariguella: http://www.marxists.org/portugues/marighella/1969/manual/index.htm

  8. Astier Basílio disse:

    Terrorismo

    O terrorismo é uma ação, usualmente envolvendo a colocação de uma bomba ou uma bomba de fogo de grande poder destrutivo, o qual é capaz de influir perdas irreparáveis ao inimigo.

    O terrorismo requer que a guerrilha urbana tenha um conhecimento teórico e prático de como fazer explosivos.

    O ato do terrorismo, fora a facilidade aparente na qual se pode realizar, não é diferente dos outros atos da guerrilha urbana e ações na qual o triunfo depende do plano e da determinação da organização revolucionária. É uma ação que a guerrilha urbana deve executar com muita calma, decisão e sangue frio.

    Ainda que o terrorismo geralmente envolva uma explosão, há casos no qual pode ser realizado execução ou incêndio sistemático de instalações, propriedades e depósitos norte-americanos, fazendas, etc.

    É essencial assinalar a importância dos incêndios e da construção de bombas incendiárias como bombas de gasolina na técnica de terrorismo revolucionário. Outra coisa importante é o material que a guerrilha urbana pode persuadir o povo a expropriar em momentos de fome e escassez, resultados dos grandes interesses comerciais.

    O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.

    “Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano”, Carlos Marighella:

    http://www.marxists.org/portugues/marighella/1969/manual/index.htm

  9. Paulo Bio Toledo disse:

    Valeu Astier, muito legais os fragmentos!

    Mas desconfio que você os usou como os usariam Donald Rumsfeld, Colin Powell ou a querida Condoleezza Rice.

    Mas tudo bem… O legal é você compartilhar material interessante como esse, que nos faz lembrar da ditadura militar, “branda”, brasileira… Fiquei com muita vontade de ler o livro (sempre me impressiono com a disposição de ação prática revolucionária de alguns em nome da guerra contra as classes dominantes. Acho muito bonito. Já ouviu falar de Ulrike Meinhof? se você ficou nervoso assim com o Marighella iria arrancar os cabelos por ela… Ela é fascinante. =))

    uma última dúvida: você leu o livro todo pra achar os fragmentos que achava mais “cruéis” – para provar “como Marighela é malvado” – ou foi assim “ao acaso”?

    abraço!

  10. Astier Basílio disse:

    deixei o link ali pra quem quiser lê-lo integralmente. Não os tirei do contexto. São divididos em tópicos e capítulos. Reproduzi dois tópicos. Engraçado como vc é expert em desviar o assunto. Ou seja: me comparar “Donald Rumsfeld, Colin Powell ou a querida Condoleezza Rice” não altera uma vírgula do que Marighella, mas em vez de discutir do tema, de enfrentar o fato a digressão para o pessoal, para o desvio do assunto, é mais apropriada quando não se tem argumento, como é o que parece ser aqui. Eu não fiquei “nervoso assim” com o Marighella, apenas não acho que o estado não tenha que financiar uma farra de bolsas milionárias; só não concordo que se reescreva a história transformando gente que optou pela luta armada com o intuito de implantação de outra ditatura em defensores da democracia; só não concordo que se escondam os mortos por justiçamentos e as vítimas que a esquerda matou.

  11. Paulo Bio Toledo disse:

    ahah. Não sabia que era expert em desviar do assunto.

    mas o engraçado é que você comentou duas vezes. A primeira você disse “concordo” e daí eu respondi (fugi do assunto?); aí ao invés de responder você me manda um quilo de citação do Marighella. E eu comentei ué. Achei legal os textos e moralista a sua tentativa de “chocar” com eles.

    de qual assunto eu fugi?

    agora no ter TERCEIRO comentário você expôs o que achava.

    e sobre isso eu continuo achando uma cretinisse que insiste em homogeinizar a “violência” dos poderosos com a dos revolucionários, excluídos e marginais.

    como eu disse antes, é como condenar escravos que matam seus senhores.

    é o típico argumento das forças armadas (não viu o general exonerado? ele disse o mesmo que você! igualzinho) pra relativizar seu totalitarismo de manutenção das classes dominantes e da influência dos EUA.

    o pior é que nas entrelinhas de seu texto está escrito o seguinte:
    “antes a ditadura militar do que a “suposta” ditadura de “esquerda””

    sabe quem parece? Chamberlain e Churchill que preferiam o fascismo na Espanha do que a revolução proletária. Ou os lordes ingleses que diziam antes Hitler do que os bolcheviques.

    e no fundo não há nada de espetacular nisso! só expõe o óbvio: fascismo e democracia de mercado são a mesma coisa.

    O fascismo (e seus desdobramentos ditatoriais como no Brasil) são os cães do capital. E é isso que você defende: o capital, que quando necessário, apela aos seus cães!

    O pior são os feitores, como você . Mulatos explorados, mas que defendem com unhas e dentes os privilégios de seus patrões

    e ainda me vêm como essa velha retórica da moral e da paz.

    “A moral não é social, não podemos colocar isso nos mesmos termos. Considero irrelevante a indignação moral sobre o terrorismo, uma hipocrisia” (Heiner Müller falando sobre a Rote Armee Fraktion)

  12. Astier Basílio disse:

    Paulo, tem como me explicar o que significa

    “homogeinizar a “violência” dos poderosos com a dos revolucionários, excluídos e marginais”

    violência pra mim é violência, deve ser combatida e ponto final. Não importa a bandeira em que venha embalada.

    Não existe crime melhor do que o outro. Assassinato de terrorista (por mais que sumam com esses corpos eles aconteceram) e assassinato de militar, eu não faço distinção, acho ambos reprováveis.

    Existe um crime melhor do que o outro? Um que mereça ser exumado e outro que mereça bolsa e financiamento público?

    Quem são os excluídos, marginais?
    Eu os conheço por outro nome, grupos de luta armada.

    Você, o acadêmico da USP, o descordial pelejador, o senhor das complexidades, adora simplificar as coisas quando lhe convém.

    Comparar a relação entre os grupos de luta armada que entraram na ilegalidade, que optaram por isso em escravo e senhores é de um pensamento muito menor.

    E uma perguntinha. Só vou citar um exemplo aqui. Edson Régis. Fundador do suplemento Correio das Artes. Jornalista. Trabalhava como funcionário público de Recife. Estava no Aeroporto de Recife quando explodiram uma bomba que tinha como endereço matar Costa e Silva. Ele e mais outros morreram. Nessa sua categorização entre senhores e escravos esse civil, que foi vítima de ações de um grupo de luta armada, se enquadra como?

    Ele é vítima? Ele é excluído? Ou ele mereceu morrer?

    Você não enfrenta o assunto. Foi isso o que eu quis dizer, faz insinuações, me compara com outras pessoas. Enfrente as perguntas, vá ao texto – eu sei que você entendeu. É mais fácil personalizar as questões do que respondê-las.

    Me comparar ao general exonerado pode ser uma estratégia retórica pra desqualificar meu discurso (eu = ao militar, logo reprovável).

    Eu não entendo o que você quer dizer com “totalitarismo de manutenção das classes dominantes e da influência dos EUA”

    Pq vc tá citando isso?

    Eu não disse “antes a ditadura militar do que a ‘suposta’ ditatura de esquerda”.
    Se você pensou assim, é por sua própria conta. Agora, eu vou falar a minha opinião, não gosto de deixar coisas subentendidas nem de jogar com entrelinhas: Eu prefiro os erros da democraria a qualquer ditatura, seja de esquerda ou de direita.

    Bora voltar pro Marighella Рos textos que eu citei ṣo mentirosos? Ṣo falsos?

    Pq toda essa digressão, falta de argumento?
    Me chame de facista, defensor do privilégio dos patrões, defensor do capital, mulato explorado, seja estúpido e arrogante como é sua marca aqui na revista, mas pq não fiquemos no assunto lá.

    Sobre o que você acha a respeito de democracia, direitos humanos, violência, eu já sei e não me interessam.

    Outro favor. Não pense por mim. Eu não preciso de intérprete. Eu não preciso de guia. Eu não preciso de alguém distorcendo o que eu digo nem tirando conclusões.

    Por esta sua atitude, me sinto provocado a fazer você pensar.
    Releia o que você escreveu para Fábio Leal, em 30 de maio de 2009. Guardadas as devidas situações de contexto, eu praticamento faço minhas as suas palavras em relação a ele:

    ‘Fábio,
    sua atitude reproduz uma operação escrota.
    Recortar um argumento e depositá-lo distante do contexto com o intuito de ridicularizar o interlocutor e diluir seu real significado é uma prática típica dos meios de comunicação de massa (vide as frases da semana na Veja) e muito comum nos instrumentos de poder.
    Ademais, decretar a “implosão” do debate me soa de uma arrogância desmedida e sem a menor justificativa além de sua beleza ferida.
    Se vc se cansou, tchau.
    não me venha com deturpações estúpidas e pedantes.”

  13. Paulo Bio disse:

    Chegamos na “impossibilidade do drama”, certo?

    mas eu gosto destes extremos! daí é que surgem as novas formas.

    Não consegui ver relação alguma entre meu comentário “nervoso” ao Fábio Leal com a discussão de agora: 1. eu não recortei nenhum argumento seu (odeio usar aspas do outro em discussão virtual) e não distanciei de contexto algum, apenas interpretei tuas palavras sob meu ponto de vista (não sei se sabe Astier, mas normamelmente debates funcionam assim); 2. não decretei implosão de debate; 3. tampouco cansei, ao contrário estou super disposto!

    segunda parte

    eu penso que há uma enorme diferença entre “violência”. Não suporto a equalização do fato. Acho hipócrita e moralista.

    Pra mim há a violência do poder, das classes dominates burguesas, uma violência as vezes silenciosa (como na democracia – vide crítica do Mau sobre o Kastelo) as vezes descarada como nas ditaduras do capital. Uma violência que serve à manutenção da opressão de classe, e à anestesiação de qualquer sombra de mudança na divisão de riquezas. Uma violência para manter os privilégios!

    e há uma outra violência. A violência explosiva contra a primeira descrita acima. Uma violência cujos autores dão a vida em nome da transformação, uma violência fruto da impossibilidade (sob o ponto de vista dos agentes) de agir de outra forma frente às configurações de opressão (ou você acha que o Marighela ganhou alguma coisa com sua morte na luta armada? a não ler que ele prevesse o futuro e soubesse da bolsa ditadura pra sua viúva). Uma violência que às vezes explode (Paraisópolis) e às vezes é pensada e premeditada (luta armada, guerrilha etc).

    Se tornamos homogeneas as duas, estamos, a meu ver, dizendo ser amoral a violência por si só, mesmo quando ela vem em resposta a violência dominante, mesmo que a ação violenta seja de libertação e não de manutenção.

    Aí está o moralismo e a hipocrisia. Moralismo pois a condenação é moral e dissolve o debate social. hipocrisia pois a condenação dessa violência (terrorismo) não leva em conta a imensa roda opressora e mais violenta impossível do poder contra qual se combate.

    Heiner Müller numa peça coloca o Charles Masos como presidente dos EUA. Essa é a ironia!

    A democracia de hoje é um dos status mais violentos pelo qual já passamos. Morre-se de fome, frio, sede como nunca em toda a história. E aí está o erro! não “morre-se”, mas “mata-se” de frio, fome e sede!
    Fora a morte por exclusão, a violência da hierarquia, da tecnocracia meritocratica no mundo do trabalho e por aí vai.

    Dizer que violência é apenas o atentado a bomba X é negar toda uma configuração intensamente violenta. E reduzir todo o debate à esfera da MORAL.

    por isso não vejo problema algum nos textos do Marighela. É óbvio que ele diz aquilo – ele está na luta armada!
    vc quer condenar o que?

    é como a Veja que diz que o Che Guevara é uma assassino! Mas porra! o cara tá numa guerra, mata alguém e é assassino?

    não estou dizendo: “uhuu vamos explodir tudo”, mas acho que se não ultrapassarmos a delimitação moral desse tipo de raciocínio não saímos do lugar e toda a história só fica passível de leitura pela MORAL. e a moral engole tudo! engole a política, a economia e a própria história.

    agora, outra coisa é dizer que a violência não é o melhor caminho. Aí o debate é sofisticado. (Fatah vs Hamas). Mas essa retórica de programa de televisão (tadinho do cara que morreu e não tinha nada a ver – que é análogo a quando tem manifestação em sp nem se fala sobre o que é a manifestação, mas apenas sobre o trânsito ocasionado!) não leva a lugar nenhum, mas apenas DEIXA, PARA, MANTÉM tudo no seu velho status quo.

    lidar com essas contradições (para além da condenação MORAL) é que é lidar com as questões!

    qual o assunto que não enfrento Astier?

    Marighela, violência, você, a direita, moralismo ?

    me diz, por favor, pois não faço ideia do que estou “fugindo”

    mas se o que eu penso não “lhe interessa”, como você diz acima. Então não sei por que você insiste em debater, quando na verdade gosta mesmo é de “falar”

  14. Astier Basílio disse:

    Tadinho do cara que morreu.
    (risos)
    Eu gosto de falar?
    (risos de novo)

  15. Paulo Bio disse:

    ué, cansou Astier?

    vc não tava nervoso porque eu tava, supostamente, fugindo do assunto?

    e você agora fez o quê?

    mas se quiser pode voltar a conversa que eu finjo que nada aconteceu. Prometo.

  16. Astier Basílio disse:

    Cara, não fiquei nervoso.
    Nem cansei. Acontece que eu sei onde vai dar a tua estrada. E provocar só comprova isso. Aprendi dia desses que provocar vem do latim, “provocare”, significa fazer o outro falar e, ao contrário do que você pensa, de que seja eu quem goste de falar, eu ouvi e ouvi muito, mas acho que suficiente.
    Você está aí. O que você pensa sobre esses temas estão bem claros.
    Continuo não concordando, fazer o q?
    Mas, sinceramente, não to afim de disputar nenhum campeonato com vc, nem com ninguém. Não gosto de encerrar conversas, mas chegamos numa imbricação que não se resolve. Eu não tenho a menor preocupação de te convencer. Se você acha tudo isso aí que você falou, ok.
    Pensando aqui. Retomar a conversa, pra quê? O que vc quer conversando comigo? Ql é a razão pra gente estar tendo essa conversa aqui? Eu não sei as respostas. Se você tiver algumas compartilhe comigo. Esse papo tá nos levando para onde?

  17. Paulo Bio Toledo disse:

    Mas foi você(s) que começou a “conversa” Astier querido.

    a unica razão pra esse debate é que estou respondendo as “condenações” que você e seu amigo fizeram.

    Não quero te convencer de nada (sei bem de nossos “abismos”). Estou apenas respondendo.

    se quer silêncio comece fazendo-o

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