O Púcaro Búlgaro

Críticas   |       |    31 de março de 2010    |    8 comentários

O teatro parnasiano de Aderbal Freire-Filho

Fotos: Guga Melgar

Não sei onde, mas li que Murilo Mendes disse que a “memória é uma invenção mais do futuro que do passado”. Daí, me aventurar a escrever, algumas semanas depois de ter visto o espetáculo O Púcaro Búlgaro fiando-me só nas lembranças.

Vi o espetáculo no teatro Santa Isabel, Recife, no Janeiro de Grandes Espetáculos.

Borges adorava citar Heráclito, aquele filósofo que disse: o mesmo homem não passa duas vezes pelo mesmo rio; na segunda vez, já serão outros ele e as águas que o banharam. O livro, interpretava Borges, (eu amplio o conceito, “o teatro”) é o rio de Heráclito. Ninguém lê (vê) o mesmo livro (espetáculo) duas vezes. Sempre serão outros o livro (a peça) e leitor (espectador). E mais, cereja do bolo, “até a lembrança da leitura (da encenação) não será nunca a mesma”.

Por falar em lembrar, acho que esta citação foi dita na série de palestras de Borges reunidas sob o título Sete Noites.

Por que Aderbal Freire-Filho resolveu montar, especificamente, aquele texto? Mais: o que ele quis dizer com aquela montagem? Por que aquele texto e não outro? Por que razão, eu, Astier Basílio, casado, brasileiro, 31 anos, devo sair de casa, tomar um banho, comprar um ingresso, pegar um ônibus da Progresso ou Bonfim, quatro horas de viagem, incluindo o percurso Pina-Centro do Recife, e ir passar quase duas horas sentado em um banco para assistir àquela apresentação?

Ok, há um método de trabalho. Chama-se “romance- em-cena”. Sem me meter a esquemismos ou quejandos (odeio essa palavra), Aderbal decidiu não mais adaptar livros, mas encená-los. Impossível não haver abismos. São duas linguagens em conflito. A literatura tem sua natureza. O teatro também. É desse confronto que o encenador tira a energia para encontrar soluções e apresentar seu método.

Quando a literatura sobe ao palco sem meio termo, quem tem que segurar a onda? O ator. “Ator adora texto”, já me dizia o diretor potiguar radicado no Recife, João Dênnys. Os atores não se fizeram de rogados. Havia mais bifes em cena do que a rede pernambucana MasterBoi. E tome textos gritados. E tome ninguém perdendo o fôlego em cena. E tome soluções cênicas de encher a vista nas passagens de um quadro a outro. E tome o teatro tendo de se (ai, odeio essa palavrinha também) “presentificar” em cena já que o texto é quase onipresente, tipo como música de Djavan em shopping. E tome… (ai, palavrinha que não me sai do pensamento) virtuose. E tome aplausos em cena aberta. Dênnis, sempre ele, na saida do Santa Isabel já dizia, enigmático, algo como: “Ai, como adoro ver assim o público amestrado, se entrega todo”.

Enquanto escrevo, lembro do que escreveu Henry Thorau em seu “Perspectivas do Moderno Teatro Alemão” (editora brasiliense, 1984, pg 30):

“Há por exemplo o individualista Rudolf Noelte, um diretor que monta incessamente tragédias burguesas: Ibsen, Hauptmann, O”Neill. Continua fazendo um teatro de 1890, mas com uma qualidade fascinante em se tratando do seu trabalho com os atores. Noelte é um perfeccionista quanto à psicologia dos personagens. É com base nela que cria todos os seus espetáculos. Muitos atores afirmaram que aprenderam muito com Noelte como trabalhar um papel. Lembro-me muito bem da última montagem no Freie Volksbühne: era Elizabeth da Inglaterra, com Maria Schell no papel principal. Noelte decompôs a maneira como a rainha devia se sentar no trono em trinta miniações, que ensaiou com a atriz uma por uma. É claro que isto exige muito dos atores. O espectador, assistindo ao espetáculo, vê apenas um movimento fluente, muito orgânico. Ignora que aquela ação de dois minutos é o resultado de vinte horas de ensaios. Não é raro Noelte ensaiar três horas com um único ator numa fala que não tem mais de duas palavras (…)”

Aí me vêm as perguntas: que teatro se quer fazer quando a forma se sobrepuja ao tema? Quando o que se diz está com menos importância do que o como se diz? Quando o teatro vira as costas para o tempo em que pisa e respira e volta-se para si, para o esmero e para a sofisticação de processos. O que se quer com esse teatro?

***

Já que púcaro significa vaso. E já que o espetáculo versou sobre um vaso do estrangeiro. Para melhor fecho de minha crítica, um poema, do poeta parnasiano Alberto de Oliveira, “Vaso Chinês”. Prestem atenção ao emprego das rimas fortes (classes gramaticais diferentes); a acentuação tônica, cadenciada, com o ritmo incidindo na terceira, na sexta e na nona sílabas, como sói (sabia que iria conjugar esse verbo uma segunda vez) a um bom versejador; veja-se o terceto abrindo-se em parábola, como a dar um sentido ao objeto, “vaso”, descrito; atentem, mimo dos mimos, à solução rimática esdrúxula (quer dizer “inusual”, filhos) com a colocação do gerúndio (“vendo”) acrescido do pronome (“a”) para encetar a rima final com “amêndoa”.

Vaso Chinês

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura –
Quem o sabe? – de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura:

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

Alberto de Oliveira


Para quem quer saber mais sobre o “processo” deste poema, clique aqui.

15 garrafas. 1 guarda-chuvas. 3 perdidos numa noite suja.

(Pequena informação necessária para se entender esta cotação aqui. Em tempo. Saimos, depois do espetáculo, Juli Codognotto, Cristhiano Aguiar, o menos famoso irmão do Frank, eu e Ariane. Dois da área de literatura, uma de teatro e um mesclado. Saimos pra beber. Chovia. )

A Bacante publicou também a crítica de Cristhiano Aguiar para O Púcaro Búlgaro.

'8 comentários para “O Púcaro Búlgaro”'
  1. Carlos Canhameiro disse:

    Sempre prometo q não vou escrever qdo discordo com certa veemência de algumas opiniões, principalmente nas que são sobre o teatro… Mas não cumpro.
    Acho q porque gosto demais dessa peça, e paixões levam à ira muito rápido. É… Gosto demais do Púcaro Búlgaro, peça. O livro desconheço de leitura! Gosto demais do Romance em Cena “do”Aderbal. O Que Diz Molero está entre as peças mais fantásticas q já vi… E assim é!
    Na verdade fico sempre impressionado com a diversidade de opiniões! Onde vejo atores performativos, outros enxergam virtuose… Enfim… Divergências.
    O q me impressiona negativamente é a tendência careta (não consigo fugir da adjetivação) da “crítica” ao querer que o teatro tenha porquês claros e objetivos. Por que essa obra e não outra? O que um artista “quis dizer”com essa ou aquela montagem. O que virou a arte? Teses acadêmicas?! Divago que talvez seja a própria Academia quem esteja gerando essa possível aberração. E dizia o Quintana: “E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.” E tb o Manoel de Barros: “Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem”. E por aí vai…! O Leminski tem um texto ótimo chamado A Arte do Inutensílio! Tem um vídeo dele no youtube falando do prazer do artista em manipular a linguagem… E só isso. Nada além disso.
    Cito artistas pq parece q ninguém mais quer ouvi-los em suas práticas e teorias… E sim o q os acadêmicos pensam sobre eles… Mas isso é mais uma divagação.
    Do mais, esse o parágrafo abaixo é emblemático do q me leva a ira!
    Aí me vêm as perguntas: que teatro se quer fazer quando a forma se sobrepuja “ao tema? Quando o que se diz está com menos importância do que o como se diz? Quando o teatro vira as costas para o tempo em que pisa e respira e volta-se para si, para o esmero e para a sofisticação de processos. O que se quer com esse teatro?”
    A preguiça me toma… Porque é tão tacanho o questionamento em voga, ou melhor, os questionamentos. Porque a primeira pergunta a resposta está na própria pergunta: uai, se quer fazer um teatro que a forma sobrepuja ao tema. E ponto! Só me assusto q ainda queiramos “um tema” em uma peça. Seguindo, a sonoridade da fala é forma e conteúdo que pode ou não estar ligada àquilo que se diz. A palavra é uma coisa… O som dela outro… Enfim… Parece que a critica não consegue ver nada q não seja: sujeito-objeto direto. E se “esse” teatro apontado pelo crítico não quisesse nada, ainda assim, ele falharia miseravelmente em seu querer… Porque o querer do teatro só existe com o que quer aquele que vê… Não é uma porta fechada, uma resposta dada, uma teoria apontada, um tema desenvolvido, uma trama explicada, etc… É sempre outra coisa, que está lá e ninguém sabia. Como a Bulgária!
    Há braços.

  2. O crítico disse:

    Olá leitor
    (vc prefere me chamar de crítico, vou te chamar assim, tá?)
    Você fala que resolveu escrever movido por paixão que, por conseguinte, o levou à ira.
    O leitor, fique sabendo, deixou o crítico feliz.
    Por que razão? Por que fiz você perder seu tempo e redigir seu longo comentário eivado, palavras suas, de “paixão” e “ira”.
    Eu confesso que o meu objetivo era dialogar. Pode se dialogar com “ira” e “paixão”. Eu, que não estou imune as suas sensações preferidas, estou sempre mais para a danada da “razão”.
    Agora para eu não passar gato por lebre e para que o debate se tangencie por um caminho que, sinceramente, eu não vejo muito proveito e seria desperdiçar uma boa oportunidade de um diálogo franco, devo esclarecer umas coisas.
    Vamos lá. É uma das peças de que você mais gosta, não é? Afora o que há de intrínseco, particular, subjetivo e intransferível, isso pouco me interessa. Como interessaria a ninguém se eu dissesse aí em cima a mesma coisa.
    Você, leitor, não disse, mas não imagino que esteja fazendo uma superinterpretação ao notar, nas entrelinhas, que você parte do pressuposto que:
    a) eu não gostei da peça
    b) enquanto que você gosta muito dela.

    Se formos ficar nessa arena, acho que é a conversa fica muito superficial, entende? É discutir sexo dos anjos, sabe? Discutir que o azul é mais bonito que o amarelo.
    Vamos desfazer esse engano?
    Então, quando você contrapõe “virtuose” a “atores performáticos”, creio, que a suposição é de que um elemento é negativo, o meu, e o outro é positivo, o seu. Pois bem, usemos sua terminologia, concordo com você em que os atores são “performáticos”, mas, repara, nada se altera na questão central aqui. É só um malabarismo retórico – não há divergência nenhuma. Quando escrevi sobre virtuose não o foi de forma depreciativa. De jeito nenhum. O que se há de mais belo nesta peça é justamente isso: a performance dos atores.
    Já que você, leitor, abriu o seu coração, cheio de “paixão” e “ira” para defender a peça, devo lhe dizer que, sim, que gostei dela. Mas, como crítico, não imagino que um texto tenda a ser apenas justificativas para amparar meu gosto pessoal ou minha subjetividade. É muito pobre isso, saca?
    Minha crítica é “careta”? Leitor, se a gente ficar no reino da subjetividade eu vou dizer, por exemplo, que acho o supra-sumo do brega esse seu “há braços”.

    Mas, por outro lado, acho, que foi puta revelador a “contra-pergunta” que você coloca. Sim, eu fiz uma pergunta no texto e você questiona a minha pergunta. Mas, antes, eu voltarei ao tema. Eu? Academicista? Desculpa, me chama de qualquer outra coisa, menos disso, porque isso aí eu não sou, nem tenho fígado pra ser.
    Não é de estranhar porque o parnasianismo, escola que preconizava a arte pela arte, tenha durado tanto tempo no Brasil teve uma sobrevida que em nenhum outro lugar do mundo teve. Não é de estranhar que até hoje o espírito de uma arte que baste em si mesma ainda continue.
    Sinceramente, eu não entendo quando você diz que interrogar uma relação entre conteúdo e expressão seja algo acadêmico. Nada menos acadêmico do que reivindicar para o teatro que ele olhe para o seu próprio tempo. Eu não entendi direito qual é a sua opinião a respeito dessa relação (teatro x tempo), mas vou dizer a minha. Um quadro sobrevive ao seu artista; um livro pode falar com uma geração futura – Kafka e tantos outros estão aí para provar isso; um cineasta sobrevive a si; o teatro não; é uma obra de arte que, por natureza, está vinculada diretamente ao seu tempo; impossível um teatro póstumo; impossível um teatro – não falo dramaturgia, falo teatro!, que, mesmo negando-o, não estabeleça alguma comunicação com o seu tempo – alguns preferem olhar para o próprio umbigo deixando de ser um registro para ser um sintoma de uma época; impossível ignorar que teatro é uma obra de arte testemunhada.
    Todo crítico, amigo leitor, começa com o que não tem. A crítica de teatro é diferente de todas as demais. Um crítico de literatura pode, sim, ler os autores de outras gerações; tem a disposição de si todo o acervo da humanidade; um crítico de cinema, seguramente, poderá ver produções de décadas anteriores ao seu nascimento; o crítico de teatro não; terá no máximo um rastro, uma parte desse quebra cabeças que é o teatro; ler uma crítica de, por exemplo, “Roda Viva”, ver até registros, ler o texto, não é, nem nunca será TER ASSISTIDO AQUELE ESPETÁCULO NAQUELA ÉPOCA – por que? Porque essa montagem e o tempo em que ela se realizou são como que sinônimos. Percebe que o lance do teatro com o tempo não é só tese?
    Mesmo bem realizado, bem feito, competente, performático, um teatro que não dialoga com seu tempo para mim é um teatro miserável e morto – mesmo que seja um cadáver bonito, limpo, cheiroso e… performático. Um teatro que não dialoga com o lugar em que está inserido, para mim é um teatro alienado. Eita, a palavrinha agora pode suscitar mil desvios. Sobretudo, políticos. Mas, tudo é político (política do grego significa “andar sobre a cidade”, não é à toa que o “poli” de política é o mesmo “poli” de metrópole). Até negar a política. Até preferir olhar para si próprio, descrever vasos e se esmerar em performances impecáveis. Desculpa, mas, eu acho que “aberração” é esse tipo de alienação, principalmente num cara como você, leitor, que imagino que seja alguém jovem– um jovem póstumo; velho; reverente; contemplativo.
    Você vai citar os artistas, leitor? Parece, né mesmo, que ninguém os cita. Parece que você, caro leitor, não lê minhas críticas. Em vez de uma postura acadêmica, eu raramente cito teóricos, mas sempre cito poetas, artistas.
    Vamos lá. Você cita Quintana, né? Não leve tudo ao pé da letra. Não considere Quintana um poeta metalinguístico, por favor. Lê esse poema aqui, ó:

    “Um poema como um gole d’água bebido no escuro.
    Como um pobre animal palpitando ferido.
    Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na
    [floresta noturna.
    Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição
    [de poema.
    Triste.
    Solitário.
    Único.
    Ferido de mortal beleza.”

    É isso, leitor. Sacou a sujeira com a vida? Como diria Luckacs, toda “citação é uma interpretação”, cite o Quintana que você quiser, vou preferir esse aí. O que me sugere um teatro “ferido de mortal beleza”.

    Manoel de Barros?
    Mais do que arejamento de linguagem, ele mesmo disse o seguinte:

    “Poesia é voar fora da asa”.

    O fato de Leminski ter escrito sobre a “inutilidade” da arte não o fez um artista preso em uma redoma. Poeta mais sujo de seu tempo. Mais sujo de vida do que Leminski não houve (Cinco bares / ,dez conhaques/ atravesso são paulo/dormindo dentro de um táxi). Ele nunca seria um confinado. Um parnasiano. Enquadrado perfeitamente no que Murilo Mendes ironizava nesse belo poema:

    “Minha terra tem macieiras da Califórnia
    Onde cantam gaturamos de Veneza.
    Os poetas da minha terra
    São pretos que vivem em torres de ametista,
    Os sargentos do exército são monistas, cubistas,
    Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
    A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos”.

    “oradores, pernilongos… ” e, acrescento eu, “performáticos” metalinguísticos.

    Não sei se você ainda está lendo, leitor, você diz que a preguiça o toma. Mas, até chegar ao “tem mais não” (expressão final do romance ‘Macunaíma’ que eu gosto até mais do que essa aí “ai que preguiça”), seria bom tocar em outra indignação sua.

    “Só me assusto q ainda queiramos ‘um tema’ em uma peça”

    Bom, quem ficou assustado, sinceramente, fui eu.
    Você quer só forma? Quer só partitura? Quer só performance? Tipo, em vez de assistir a um filme, ver o making of?
    Vem cá, onde você vive? De que planeta você é? Você trabalha?
    Você olhar ao redor? Você vê um mundo aí todo dia acabando e começando de novo?
    Você quer um teatro que ignore isso tudo? Ignore a vida que o cerca? É isso? Que se eu quiser montar, sei lá, a lista telefônica de São Paulo de 1940, por meio de uma série de exercícios de improvisação apenas para comprovar um bom método e uma boa performance, tá bom pra você?
    Pode ser que esteja.
    Pode ser que fique bonito. Limpo. Performático. Eu considero muito pouco.
    Realmente, eu não consigo mesmo entender algumas coisas que você fala, melhor, escreve: .

    “E se ‘esse’ teatro apontado pelo crítico não quisesse nada, ainda assim, ele falharia miseravelmente em seu querer…”

    Falhar? Ter sucesso?
    Se você se baliza por estas categorias, eu não lido com elas. Eu não trabalho no Immetro. Eu não trabalho fazendo aferição. Meu trabalho é fazer perguntas.
    Se esse que ‘teatro não quiser nada’, o que você hipoteticamente defende, quiser só efeitos especiais e conseguir fazê-los eu poderei gostar sim de algo bonito e bem acabado. De algo perfumado. Mas, SERÁ QUE É SÓ ISSO? VOCÊ SE SATISFAZ SÓ COM ISSO?
    Eu não acho que o teatro seja uma porta fechada – pra ensaio e pra montagem de metalinguagens? – não; não disse isso, ao contrário, penso o teatro como uma porta pra rua, escancarada.

    Abração. E espero que você tenha paixão e ira. Sempre.

  3. Paulo Bio Toledo disse:

    excelente

    mas Georg Lukács ou Gyorgy Luckács é um teórico, um grande teórico

    Creio que há preconceitos demais no neo-adjetivo acadêmico. Não que não mereça as injurias muitas vezes, porém cria-se uma homogeneidade unilateral que não é verdade. Em essência a universidade é o lugar do “pensamento livre” onde o conhecimento não necessitaria estar atrelado às leis da Oferta e da Procura. O espaço onde se pode refletir sobre o mundo por uma lógica que não aquela imposta pelos paradigmas da organização político-econômica vigente; ou seja, espaço onde se criam olhos para ler o mundo.
    (claro que na prática pouco se assemelha a isso, no entanto há de se lutar por isso e não conformar-se com a negatividade constante do termo)

    em sp, por exemplo, na universidade eu já deparei-me muitas vezes com raciocínios e pensamentos próximos a sua belíssima argumentação acima, Astier, no entanto na “prática”, na “cena”, entre os “artistas” “anti-acadêmicos” só há Carlos Canhameiros com seus Lehmanns mal lidos debaixo dos braços e pregando o “anacronismo da existência de conteúdo” enquanto estapeiam-se na corrida pelo editais com projetos que gastam linhas e mais linhas em justificar o nada, a “pura forma”, o “não querer dizer”, a “pesquisa minimalista em torno do movimento circular obtuso”. Ao mesmo tempo que gritam “fora acadêmicos”!

    não quero dizer algo como “viva a universidade”, mas acho que a ressalva ao comentário é importante …

    para que o contraponto a uma lógica tacanha não se alinhe a outra de mesmo porte

  4. Carlos Canhameiro disse:

    Ainda com preguiça de ler…
    Daqui a pouco passa… São as férias!
    Entretanto, gostei do meu nome ter virado metonímia… Honra nova para um nome velho! Ah sim, li o comentário do Paulo, que era mais curto… E como sempre, ávido em sua batalha contra não sei quem ou o quê!
    Só para constar porque uso meu nome verdadeiro e sou professor acadêmico (!), não sou anti-acadêmico ou grito “fora acadêmicos”, mesmo correndo o risco de fazer a metonímia vir abaixo. Mas… Pau no cu da Akdimia é sempre o meu mantra preferido!
    Astier, há braços… Não usei o nome próprio (q pode virar metonímia dia desses) por puro desconhecimento da pessoa que carrega o peculiar nome!

  5. Carlos Canhameiro disse:

    Eu li… Com muita preguiça, confesso… Só porque a luta pela comunicação me parece perdida mesmo… Mas continuamos.

    Dia desses, marcaí um café-suco-de-laranja-cerveja-chá ou qq outra coisa e colocamos o assunto sem tantas palavras escritas e bem ou mal interpretadas ou nem isso pq as palavras servem a tantos deuses e nenhum se sente contemplado.

    Vou só responder suas perguntas diretas:

    Você quer só forma? – É possível existir só forma? Desculpe responder com outra pergunta!, mas se existir, quero ver um troço assim.
    Quer só partitura? – Como é isso? Sim, respondi mais uma vez com uma pergunta, mas a limitação aqui é grande. O que seria só uma partitura?
    Quer só performance? – Só?! Você acha pouco?! Eu gosto muito… Mas a gente não quer só comida! Se o Leminski não pode ser um confinado, por que posso eu?
    Tipo, em vez de assistir a um filme, ver o making of? – Sério, alhos e bugalhos, não?! Mas, para não fugir às perguntas, gosto dos filmes e dos making “off”!
    Vem cá, onde você vive? – São Paulo, Capital! De que planeta você é? – Terra, eu acho! Você trabalha? – Sim, tenho uma Cia de teatro (Cia Les Commediens Tropicales) e sou professor universitário.
    Você olhar ao redor? – Quando viro minha cabeça…
    Você vê um mundo aí todo dia acabando e começando de novo? – De certo modo, sim. Por outro modo, não!
    Voc̻ quer um teatro que ignore isso tudo? РEle ignora? Mas quem faz teatro tem o direito de ver como quiser o acordar e o dormir do mundo, ṇo?!
    Ignore a vida que o cerca? – É Possível?!
    É isso? – Pode ser também!
    Que se eu quiser montar, sei lá, a lista telefônica de São Paulo de 1940, por meio de uma série de exercícios de improvisação apenas para comprovar um bom método e uma boa performance, tá bom pra você? – Se eu for até lá e tiver uma centelha de vida, se eu fruir, se eu pulsar, se eu me emocionar, se eu pensar, se eu construir minha história… Enfim… Talvez esteja bom para mim.. Mas não é só estar bom para mim que torna a experiência válida para quem faz…
    Astier, acho tudo mais complexo e ao mesmo tempo mais simples do que isso…

    Mas a preguiça me toma de novo… Sigo o conselho cristão de dormir irado mas não acordar com ela… A minha vai-se em segundos. Já a preguiça…!

    Fica para uma próxima!

    Há braços escorrendo o supra-sumo do brega.

  6. astier basilio disse:

    A luta pela comunicação está perdida?
    Acho que não. Acho que está bem clara.
    Acho que nossas visões de mundo ficaram bem delineadas, bem comunicadas. Não creio haver dúvida entre o que você pensa e o que eu penso, Carlos.
    Quanto a marcarmos, acho ótimo. O problema é que eu moro longe. Na Paraíba. Mesmo que eu com regularidade viaje até São Paulo, talvez esse encontro demore um pouco. Estive por aí mês passado. Mas quando eu aparecer de novo, posso dar um alô e a gente conversar sim.
    Concordo que tudo é simples e complexo, Carlos.
    Até mais.

  7. Lúcio Jr disse:

    genial. a bacante tá matando a pau.

  8. Lúcio Jr disse:

    Vcs tão convidados a visitarem meu blog, ontem tb tem uma diálogo sobre teatro: da arte de chutar, sobre Gerald Thomas e sua “crítica” a teatralidades contemporâneas, de Silvia Fernandes, na Folha.

O que você acha?

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