Mapeamento eternamente em construção – Bate-papo com a Cia Carona
Companhia Carona – Blumenau – SC
Representante: Pepe Sedrez
1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?
O grupo não vive da bilheteria como a maioria dos grupos, acho que quase todos. Nós fazemos teatro de pesquisa então os nossos espetáculos têm cada vez menos espectadores por culpa nossa mesmo. Porque a gente procura limitar, não sei de onde vem essa minha idéia de achar que teatro pra menos gente é mais interessante, eu acho… Eu me acho ridÃculo mesmo por isso… É uma questão. Mas o financiamento vem… Nós temos uma sede em Blumenau no Teatro Carlos Gomes, um teatro privado, mas que abriga nossa sede e lá nós temos há 5 anos uma escola de teatro, que acaba dando algum retorno, alguma verba para os atores da companhia que são professores na escola. Além disso, apresentações contratadas e editais, como Myriam Muniz, como o edital recente Artes Cênica na Rua, da Funarte, e temos projeto aprovado já pela terceira vez na Lei Rouanet, vamos ver se dessa vez a gente consegue captar porque nas outras duas não captamos. A Lei Rouanet ainda traz aquela alegria de ter o projeto aprovado, mas nos não chegamos ao momento maior da captação pra poder realizar o projeto. Temos Lei Estadual de Santa Catarina também, ela é muito complicada, uma Lei em que o governo do Estado arrecada primeiro o dinheiro de imposto que a empresa paga para depois repassar ao proponente do projeto aprovado e há casos, não é o nosso caso, de grupos lá em Santa Catarina que esperam há um ano o repasse, o dinheiro entrou na conta do Estado há um ano e não foi repassado ainda para os legÃtimos donos. O grupo faz o projeto, é aprovado na Lei Estadual, capta depositando na conta do governo e depois deve voltar, deveria pelo menos voltar, e ainda fica 20% para o governo para um Fundo Estadual de Cultura. É uma Lei que incide sobre o imposto estadual, o ICMS, então parece que a gente virou cobrador de impostos do governo, eu já falei: “olha, isso vai dar vÃnculo empregatÃcio, eu quero receber alguma coisa, hein? Isso dá CLT”. E aà temos uma Lei Municipal também, mas ela tem recursos muito poucos, a verba é muito baixa, embora acabe sendo uma alternativa para grupos produzirem pequenos projetos como edição de algum livro, uma exposição, workshop mesmo… Então ela tem acontecido assim. São as formas que nós temos de financiamento.
2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?
Há na verdade esses dois nÃveis de relação, sim. Embora eu não faça exatamente um espetáculo falando dos costumes e maneirismos da minha cidade ou região, mas de qualquer forma as questões que nós levantamos e abordamos acabam sendo muito pertinentes à nossa cidade, pelo menos esse é o retorno que o público nos dá. O nosso espetáculo mais recente chama-se Volúpia, que trata de sexualidade e de tabus, nós ficamos receosos de estrear na nossa cidade, que é uma cidade de colonização germânica e muito hipócrita, uma sociedade muito fechada com relação a sexo, muita coisa ainda é tabu, e pelo contrário, nós temos briga por ingresso. Talvez a gente tenha acertado e esse tiro saiu pela culatra, porque esse povo reprimido tá querendo ver essas coisas que nós estamos discutindo e é um fato, os espetáculos da nossa companhia, que vai completar 15 anos semana que vem, a gente já tem um público que quer assistir os nossos espetáculos. Fora isso, a nossa mostra dos alunos nós fazemos na escola, temos uma mostra semestral dos trabalhos produzidos durante o semestre letivo. A nossa última foi a cena contemporânea com o olhar sobre a cidade, então as pesquisas e trabalhos dos alunos foram justamente por aÃ, foi ver a nossa cidade com outros olhos e geraram oito pequenos espetáculos que falavam dessas questões – desde crianças, adolescentes e adultos, nós separamos assim, eram oito turmas que fizeram e uma turma de clown, e eles trabalharam sobre esse mesmo tema com a liberdade de criação de cada turma, claro. Nossa relação e nosso vÃnculo polÃtico são muito fortes também, nós estamos muito presentes, eu sou diretor e criador do grupo e já fui por algumas vezes conselheiro de cultura da cidade, já fui presidente da Federação Catarinense de Teatro, atualmente sou vice-presidente dessa Federação. Nós nos organizamos agora em Blumenau, há cinco anos nós realizamos uma temporada blumenauense de teatro que é um evento muito simples, nós nos reunimos e antes de criar uma Associação que já tivemos e já se desfez há muitos anos, quando nós nos sentamos com o poder público local pra discutir o que querÃamos, nós pensamos: “nós queremos apresentar os nossos espetáculos, é a primeira coisa, nós queremos trabalhar juntos. Nós queremos organizar, não vocês, vocês apóiam dando o espaço, e a organização é toda nossa, toda independente, cobramos bilheteria e…”. Então, todo mês em Blumenau tem uma semana de teatro de um mesmo espetáculo de grupos da cidade. Com isso, começaram a surgir mais grupos, nós temos um curso na universidade também que começou a gerar mais grupos, tem grupos que saÃram da nossa escola, e hoje nós temos 15 grupos de teatro em Blumenau, já é uma realidade um pouquinho melhor, claro que as coisas não são fáceis, é muita luta e apresentar muito pra ganhar uma bilheteria muito baixa ainda, como eu disse não dá pra viver de bilheteria, mas dá pra ter público, nossa média nesse semestre que encerra agora é de 53 espectadores por seção e a gente considera esse número bem bom, bem significativo pra cinco noites de teatro no mês. A gente tem percebido que outros grupos, inclusive a Cia. Carona, têm feito espetáculos em pequenas temporadas também e têm tido público em função dessa divulgação que a própria temporada traz. Nós estivemos presentes na Conferência Municipal de Cultura, vamos pra Conferência Estadual, elegemos novos conselheiros de cultura vindos do núcleo de teatro. O núcleo de teatro em Blumenau hoje é o segmento mais organizado da cultura, isso é reconhecido pelos outros segmentos, então parece que a gente tá começando a entender melhor quem nós somos e isso vem dessa idéia de trabalhar juntos na temporada blumenauense, um trabalho de muita doação, mas a gente se reconhece primeiro trabalhando juntos e agora então fundamos a nossa associação blumenauense de teatro, agora a gente já trabalha juntos, a gente já sabe como é que é cada um, cada um passou a respeitar mais o trabalho do outro, porque havia muita desavença, que é comum em cidades do interior, não só do interior, em cidades maiores também, mas começar a entender e respeitar melhor o trabalho de cada um, isso fez muita diferença.
Este grupo não respondeu à terceira pergunta porque a entrevista foi interrompida.
Olá, agradeço a dedicação e empenho de vcs. Gostaria de responder à terceira pergunta, já que não tivemos tempo de concluir a entrevista e também, se possÃvel, revisar algumas questões nas respostas já postadas. Me explico: por se tratar de entrevista gravada, quando transcrita, aparecem algumas imperfeiçoes linguÃsticas. Então gostaria de poder revê-las. Obrigado.