Mapeamento eternamente em constrṳ̣o РBate-papo com o grupo Teatro do Concreto

Bate-Papos   |       |    3 de novembro de 2009    |    2 comentários

Teatro do Concreto – Brasília – DF
Representante: Francis Wilker

1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?

O Teatro do Concreto começou em 2003; até 2007 mais ou menos foi sempre por conta própria, a gente se reunia, não tinha espaço fixo de ensaio, ensaiava onde dava, parcerias com escolas, com faculdades… cada um investia naquilo que podia – uns o tempo e outros alguma grana até pra produção dos espetáculos. Hoje, a gente tem um financiamento do FAC, que é o Fundo de Apoio à Cultura do DF, que foi um projeto que a gente aprovou de manutenção do grupos, e a gente conseguiu aprovar também o Myriam Muniz de circulação do espetáculo, também o Artes Cênicas na Rua agora e um projeto de circulação no FAC também lá do Distrito Federal, que é distrital. Então o grupo tem sobrevivido desse financiamento que é público. Privado, nada, até porque em Brasília isso é super difícil, porque a economia é o funcionalismo público, tem pouquíssimas empresas privadas de grande porte ou que tenham editais específicos lá pro Distrito Federal, é bem difícil. Todos nós do Concreto temos outras atividades profissionais que não são o grupo. Acho que a diferença é que durante muitos anos a gente pagava pra fazer o nosso teatro, hoje talvez a gente não esteja tendo lucro e não possa abrir mão de outros trabalhos, mas a gente já não tem que pagar pra fazer, já foi um passo pra nós super importante. Eu costumo brincar que a gente agora está como classe média…

2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?

Eu acho que o Concreto tem uma especificidade, que nós somos mais de 10 artistas, somos mais ou menos 15 pessoas e cada uma praticamente mora numa cidade satélite diferente, então tem gente do Plano Piloto, do Cruzeiro, de Águas Claras, São Sebastião, Samambaia, Ceilândia, Sobradinho, então o Concreto é o retrato dessa diversidade que é o Distrito Federal, ele não é a cidade tombada e é também, porque ela atravessa todo mundo, mas ele é muito mais que isso. Ele nasce também de uma relação com essas cidades satélites – que eu não gosto de chamar de periferia, mas que não é plano piloto, que não é cidade tombada, que não é a cidade patrimônio. E nasce de uma relação muito forte também de ensino de teatro, de oficina, de dar aula em escola público, então é desse lugar que esse grupo também se coloca e se aponta. Então, dialogar com o Distrito Federal e com a cidade pra nós é político e é estético e tá no nosso trabalho. O primeiro projeto que a gente aprovou foi ano passado, foi o primeiro dinheiro público que entrou no Concreto, foi pra circular com Diário de um Maldito em três cidades satélites. Antes de ir pras cidades satélites, a gente fez um programa de pré-apreciação do espetáculo em escola públicas de ensino médio, então a gente levava um debate sobre qual é a função do artista na sociedade, o que eles tinham de referência de teatro, levávamos algumas imagens do espetáculo pra que fosse discutido com os alunos e aí convidávamos pra assistir o espetáculo, com uma oficina e com entrada gratuita. Eu acho que isso baliza muito o que a gente tem pensado de como estar na cidade, como dialogar com a cidade. E agora a gente aprovou outro projeto também lindo, em que a gente vai circular por 10 asilos do Distrito Federal, com outro trabalho da gente. A idéia também é criar vínculos com as pessoas, a gente quer ser um grupo que pertença a cidade, a gente não quer ficar fechado numa ilha de uma sala de ensaio que não olha pro que tá ao redor. A gente aprovou no final do ano passado o Interações Estéticas também na Funarte, que era residência artística em Pontos de Cultura, e a nossa proposta foi oferecer uma oficina sobre processo colaborativo pra quatro grupos do Distrito Federal, então tinha um grupo de Santa Maria, de outras satélites, então a gente ia pro espaço onde esse grupo trabalhava – que nenhum tinha sede, eles apresentavam uma cena, contavam um pouco como é que eles criavam, aí a gente apresentava uma nossa e compartilhava com eles como é que a gente tava trabalhando essa perspectiva de processo colaborativo e isso resultou num festival de cenas curtas. E, no nosso projeto de manutenção, a gente colocou muitas ações de teatro e como meta a gente colocou: fortalecer o movimento de teatro de grupo local. Então a gente realizou no Cena Contemporânea o primeiro Fórum de Teatro de Grupo do Distrito Federal, que acabou criando uma rede e a gente fez uma publicação que a gente decidiu não fazer só sobre o Concreto, a gente convidou outros dois grupos e isso também é uma forma de dialogar com a cidade. E dois trabalhos que a gente fez… O Teatro do Maldito foi dentro de uma oficina mecânica, a Oficina dos Perdidos, que é um espaço que está sendo desapropriado pelo governo e a gente inclusive também tentou contribuir com essa luta e o outro foi intervenção urbana mesmo nas ruas de Brasília, na rodoviária do plano. Então a gente tenta também atravessar com nosso projeto poético a cidade. E eu acho que isso vai ficar mais radical agora no próximo trabalho.

3. Fator agregador: qual o fator agregador/ definidor/ de união do grupo?

Eu acho que tem uma perspectiva de trabalho coletivo que é muito forte e um trabalho que expressa também uma consciência social, de entender o lugar do artista como o lugar de alguém também que quer dialogar com o mundo, contribuir pra uma mudança, pra uma reflexão, acho que isso mexe muito com a gente, motiva muito, até por todo mundo ter vindo de experiências e vínculos que foram criados em experiências de ensino de teatro, então eu acho que essa dimensão formativa ela também é muito ressaltada. E acho que esse diálogo com a cidade também é muito forte hoje, no nosso discurso, naquilo que nos une, que nos agrega. E essa vontade de estar junto – principalmente em Brasília que é tudo tão cheio de espaço, tudo muito longe – a gente entendeu que a gente queria ficar junto e que isso era uma força, embora seja muito difícil, porque a cidade, até na arquitetura, ela tem uma coisa assim de separar, de ruas largas, de distâncias longas, é difícil você andar a pé em Brasília como você anda em São Paulo. Então, estar junto é uma luta muito grande, mas também acho que é o que nos mantém.

'2 comentários para “Mapeamento eternamente em construção – Bate-papo com o grupo Teatro do Concreto”'
  1. Ana Claudia disse:

    Como podemos traer o teatro do concreto para o Rio de Janeiro. Já existe aqui no Rio?

  2. […] Fonte: http://www.bacante.org/bate-papo/mapeamento-eternamente-em-construcao-bate-papo-com-o-grupo-teatro-d… […]

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