Mapeamento eternamente em constrṳ̣o РBate-papo com o Grupo Vilavox

Bate-Papos   |       |    3 de novembro de 2009    |    0 comentários

Grupo Vilavox – Salvador – Bahia
Cláudio Machado e Gordo Neto

1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?

Cláudio Machado: É uma pergunta… Na verdade, a gente hoje tá trabalhando sem uma estrutura financeira fixa. O que acontece é que de vez em quando, aquela velha história de sempre, o grupo consegue passar num edital, enfim, também busca através da realização de oficinas na cidade também extrair daí algum dinheiro, mas a gente ainda não tem uma estrutura que mantenha os seis integrantes do grupo de forma constante. Porque bilheteria, de fato, ainda não rola. Na Bahia a gente tem muitos editais públicos do Estado, acho que os principais são os que o estado promove mesmo, mas, além disso, tem os federais e os festivais.

Gordo Neto: A gente ganhou o Myriam Muniz em 2006 e montou um espetáculo, viajou com Caravana Funarte com esse mesmo espetáculo, são dois exemplos de editais federais.

Cláudio: Os editais Estaduais são muitos, mas tem o edital de manutenção de grupos que foi criado há pouco tempo, mas tem sempre o de montagem…

Gordo: Basicamente no estado, tem montagem, circulação pelo estado da Bahia, manutenção de grupo que foi uma chamada pública em 2007 e vai se transformar num edital agora em 2009, ou seja, 2008 não teve – vai lançar ainda esse ano. E você tem editais transversais, por exemplo, ocupação do Pelourinho com espetáculo de rua, tem alguns outros que o teatro pode estar.

Cláudio: E de teatro, por exemplo, que é pra uma única apresentação realizada num teatro do estado.

Gordo: E a prefeitura voltou, depois de muitos anos parado, com uma Lei de Incentivo, com um valor global anual ridículo, que não tem absolutamente nenhum significado. Olhe, eu posso estar sendo leviano, mas eu tenho certeza absoluta que não passa de 500 mil reais. O Fomento de São Paulo, por exemplo, você pode inscrever, pelo que eu soube, um projeto de até 600 mil reais. Então, você imagina, a manutenção da gente, por exemplo, em 2007 foi 80 mil pra um projeto de oito meses. Agora a gente já aumentou bastante isso, mas o maior valor é 180 mil até um ano, então estamos melhorando um pouquinho.

2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?

Gordo: A gente circulou praticamente nada, e eu estou falando isso, também assim… o Vilavox, esse grupo que é de 2001, a gente só fez uma circulação por cidades do Nordeste, seis cidades, entre elas, uma no interior da Bahia e cinco em cidades do Nordeste entre capitais e outras cidades do interior. A relação da gente com a cidade, com Salvador, não tem muita, porque a cidade de Salvador não se relaciona, os grupos não tem o costume de fazer intercâmbio, de fazer eventos em conjunto, então a gente tem pouca troca na cidade e isso é um grande problema. A gente tentou, por exemplo, com a manutenção insinuar um pouco isso, conseguiu fazer uma coisinha ou outra, mas foi muito mais até pra fora do que dentro, então a gente levou o Vertigem, o Sérgio e o Beto pra dar uma oficina, levou o diretor musical do Galpão, o Latão foi pra lá, a gente aproveitou e eles deram uma oficina, fizemos 16 leituras dramáticas, convidando atores de outros grupos ou atores “avulsos”, por assim dizer. Então isso é pra vocês perceberem que é um movimento que a gente tem e que eu tenho a impressão de que esse movimento se deu porque eu tive uma relação anterior justamente com o teatro feito pelo Brasil todo e que isso me fez pensar que isso era uma falta tremenda dentro da cidade.

Cláudio: Só pra complementar, eu acho que tem uma questão do trabalho que é… a gente faz parte do Teatro Vila Velha, a gente é um dos grupos residentes do Teatro Vila Velha, onde se produz um teatro não-comercial, acho que como expressão do grupo na cidade eu acho que tem um pouco essa força de estar lá produzindo um teatro que não tem o menor compromisso financeiro, de ter uma renda, a gente tem compromisso com a política, a gente tem um discurso muito mais por esse viés, do que uma pegada mais comercial.

Gordo: A presença da região na obra, eu particularmente acho que não tem muito. O penúltimo espetáculo montado, O Canteiro de Rosa, é baseado em contos do Guimarães e Guimarães inevitavelmente tem uma relação com sertão, pega ali Minas Gerais, Bahia, Goiás, talvez, então tem uma coisinha ali de alguma parte da Bahia, mas a gente não é, por exemplo, como o Bando, o Bando de Teatro Olodum, que é do mesmo teatro, eles fazem um teatro que reflete…

Claúdio: …os pensamentos e a situação social local…

Gordo: …as questões do negro e tal e, digamos, com uma pegada mais, por exemplo, com muito tambor, com muita música mais “baiana”, por assim dizer. Então, a gente não tem isso, a gente não está se relacionando com a cidade nem muito fisicamente e nem muito nos temas ou nos propósitos de encenação que a gente tem hoje.

Cláudio: Eu acho que não é uma preocupação do grupo, esse, de fato, não é um foco. Talvez, claro, outras pessoas de outros lugares assistindo ao grupo vão identificar muito mais Bahia nos espetáculos do grupo do que a gente imagina, mas de fato essa não é uma preocupação, não é um foco do trabalho.

3. Fator agregador: qual o fator agregador/ definidor/ de união do grupo?

Gordo: Ó… a gente tá em crise, como muitos também devem estar, exatamente nesse sentido de tentar entender o que é esse elemento agregador, nós somos um grupo muito heterogêneo, inclusive de vontades e desejos, e eu acho que isso ainda é muito discutido. Tem um elemento que a gente elegeu – não sei se é isso, mas enfim – a gente meio que elegeu como uma coisa que acompanha a gente e que, de fato, na publicação – a única que a gente tem – o tema é esse, nos espetáculos a gente acha que ela ta presente em todos, que é a musicalidade em cena. Como o grupo nasceu como um coro performático, inevitavelmente a música teve uma presença, mas absolutamente distinta: você tem um espetáculo com música ao vivo, com uma banda de rock tocando praticamente o tempo todo, você tem um Guimarães em que a música ta muito mais no texto e tem canções também, mas cantadas só com voz, enfim, a gente pegou isso, elegeu isso e acho que não é sacanagem nossa, tem alguma coisa que eu acho que dá essa liga. E tem uma segunda coisa que é ter três atores desses seis que estão desde o começo, e a gente ter um diretor musical em todos os espetáculos que a gente montou, que é um cara muito forte. Esse diretor musical, o Jarbas, a mão dele é muito forte nos espetáculos que ele faz com a gente e com qualquer outro, então acho que o que dá a liga da gente é isso.

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