Mapeamento eternamente em construção – Bate-papo com Teatro Máquina
Teatro Máquina – Fortaleza/CE
Representante: Joel Monteiro
Na Bacante:
CrÃticas:
O Cantil (por Paulo Bio Toledo)
O Cantil (por Astier BasÃlio)
1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?
O nosso financiamento assim… O grupo ainda não sobrevive de si, não sobrevive do grupo. Então a receita acaba sendo… Tendo uma demanda razoavelmente pequena. Tem aumentado com o tempo, mas ainda hoje é uma receita pequena. Então pra montagem de espetáculo a gente se sustenta muito em editais municipais e estaduais e pra manutenção de grupo é o que esses editais vão dando de segurança pra gente porque a gente também deixa uma parte pro grupo. E aà cachês de apresentação, cachês de festivais, a gente sempre vai deixando uma reserva pro grupo e o grupo vem se mantendo nisso – essa só a parte administrativa, mas pagamento de pessoal a gente não tem ainda. E agora a gente tá com a sede, a gente tá no mesmo espaço do Grupo Bagaceira, eles já tinham há um ano e meio e a gente entrou agora e por conta disso as despesas vão aumentando e a gente tá indo atrás de outras coisas assim de manutenção de grupo mesmo e de manutenção de pessoal. A Lei Rouanet é uma complicação no Nordeste. Eu acho que em qualquer lugar que não na mão de 3, 4 produtores – não é nem na mão do eixo Rio-São Paulo – são 3, 4 produtores… É muito difÃcil. A gente consegue aprovar, mas não consegue captar. E alguns produtores de Fortaleza tem aparecido agora com essa proposta de projetos aprovados em Lei de isenção fiscal – porque a gente também tem uma estadual, que é a Lei Jereissati – e com projetos mais preocupados com a manutenção do grupo, têm aparecido agora, a gente tem conversado com eles e isso tá começando por perÃodo muito pequeno, manutenção por seis meses no máximo um ano e isso tem começado agora assim… Mas ainda é uma realidade muito diferente. Isso não acontece muito em Fortaleza, não.
2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?
Falando assim de um contexto especifico que é o teatro de grupo e falando também de outro contexto especifico que é uma região, uma região sócio-polÃtica do Brasil eu acho que a gente tem duas questões aÃ: que é a questão estética e a questão polÃtica. Em relação a questão estética a gente não tem muita relação com a nossa região, com a cultura de nossa região. A gente tem partido de um processo por de uma busca de conceitos mais voltados à poética brechtiana e daà isso não tem muito espaço pra cultura nordestina, isso não dá muita brecha pra cultura nordestina e agora o grupo tem se interessado muito pela dança contemporânea, pela performance e como essas linguagens entram dentro do teatro e como o teatro entra dentro dessas linguagens, mas assim esteticamente não tem uma relação muito intima com a cultura nordestina, com a região nordeste. Politicamente a gente tem uma instância de circulação mais facilitada dentro da região por conta de grupos amigos e também por conta de um movimento chamado “A Lapada†que é um movimento de teatro de grupo que tem a preocupação polÃtica e a preocupação estética pra que os grupos possam trocar sua estética e suas polÃticas também. E a gente tem feitos intercâmbios teóricos e práticos nesse sentido e quando a gente consegue circular, por exemplo pelo interior do estado, a gente também consegue ter uma movimentação dentro da região assim. Pelas capitais da região Nordeste não é tão frequente, mas a gente também consegue por conta da possibilidade desse movimento e aà quando a gente vem pra um evento como esse que acaba conhecendo o trabalho do pessoal da Bahia, do Sergipe, do PiauÃ, do Maranhão e quando a gente passa também por esses Estados circulando com festivais com mostras a gente consegue se relacionar com eles, entender o que eles estão fazendo principalmente politicamente também e ver o que esta acontecendo em nossa cidade e fazer os links… A gente tem uma sede só que ainda ela não funciona como um espaço, pois estamos chegando nela agora. Ela está funcionando como um pouso pra gente e também ela tá abrigando as reuniões do movimento “todo teatro é polÃtico†que é um movimento que tá em ebulição lá em Fortaleza e aà eu acho que a gente acaba construindo uma espécie de publico. A gente… por onde a gente vai passando, por questões de afinidade, a gente vai construindo um publico. Lá em Fortaleza a gente tem um publico, o Grupo Bagaceira também tem um publico, até porque o mercado também é muito pequeno então a gente acaba se relacionando dessa forma mais direta, quem vê teatro geralmente , na nossa cidade, geralmente, são quase sempre as mesmas pessoas, então a nossa relação com a população acaba sendo essa… a relação que a gente tem com o nosso público, que já é um público especifico.
3. Fator agregador: qual o fator agregador/ definidor/ de união do grupo?
O grupo foi montado em 2003 pela nossa diretora Fran Teixeira. E aà a Fran tava vindo de SP; terminando o mestrado dela na ECA. E aà a tese de mestrado dela era no ensino da poética brechtiana era sobre trazer a critica dentro da obra brechtiana e aà ela resolveu experimentar praticamente os conceitos que ela tinha estudado no mestrado. E aà montou o grupo, montaram uma adaptação do Quanto Custa o Ferro? Que é um texto do Brecht. E ai depois o grupo foi se interessando por trabalhos menores que a gente chama de esquetes. Lá em Fortaleza a gente tem um campo fértil pra isso porque a gente tem festivais de esquetes. O Grupo Bagaceira é um grupo formado dos Festivais de esquetes, a partir dos Festivais de esquetes e esses festivais são espaços de experimentação mesmo é onde a gente tá livre pra experimentar tudo o que a gente quer. E aà essas experimentações que a gente foi fazendo com esses pequenos trabalhos eles foram definindo a linha que o grupo vem seguindo hoje esteticamente. E teoricamente a pesquisa que a Fran vem desenvolvendo a partir da poética brechtiana também vem acompanhado essa pesquisa teórica do grupo. Eu e o outro ator, o Edivaldo Batista, a gente já tem uma produção teórica acadêmica a partir da pesquisa da Fran, que também passa pela pesquisa do grupo, e a pesquisa da Fran acaba sendo o cerne do grupo, mas aà agora a gente tá estendendo isso pra pesquisas individuais e como isso se insere dentro do que o grupo vem produzindo. As peças didáticas do Brecht tem sido um ponto de partida pelo o que elas oferecem de aspecto performativo e é aà que entra performance, que entra a dança contemporânea, entra o teatro pós-dramático e a pesquisa do grupo acaba partindo disso, a partir da poética brechtiana no que ela seve a gente não como conceito – a gente não está muito preocupado com o aspecto conceitual brechtiano mas no que ele pode oferecer pra gente enquanto forma de teatro. Como os elementos que ele usa conceitualmente como, por exemplo, a repetição que ele usa pra que a pessoa perceba várias vezes e perceba outra vez a mesma cena e pense naquilo ali, a gente usa a repetição como forma, a gente tem espetáculo que é só a exaustão da repetição, do gesto. A gente usa mais como forma do que como conceito. E aà isso tem sido a principal linha de pesquisa do grupo, a partir da pesquisa da Fran as nossas pesquisas vão se desenvolvendo a partir da poética brechtiana. Não tendo um ranço teórico com a estética brechtiana mas o que ela pode oferecer pra gente. E ai a gente entra em outras coisas… A gente acaba utilizando elementos… O Leonce e Lena, por exemplo, nosso segundo espetáculo, é um texto de um dramaturgo alemão Georg Büchner, um autor muito importante pro Brecht, é um autor do romantismo alemão, mas a gente usa o texto como pretexto para uma encenação de jogo. O que o Brecht coloca como jogo e repetição a gente usa como forma. O espetáculo parece um jogo, a marcação do cenário é um campo de futebol, os atores usam patins, usam elementos esportivos. Então a gente usa todos os conceitos que ele tem a intenção de usar teoricamente a gente usa como forma, como estética mesmo (…) pra falar dos mais diversos temas. Não tem nenhum tema especÃfico. A gente fala do que a gente tá querendo fazer, do que a gente tá querendo experimentar. Por exemplo, o grupo agora tá querendo experimentar a exploração gestual e a gente tem pensado em usar um texto do Tchekhov, que é um texto bastante verborrágico, mas que tem muito pano pra manga pra construção gestual e aà a gente acaba quebrando as coisas assim: o que se faria convencionalmente como palavra a gente vai fazer como gesto, não que o texto seja suprimido, o texto não vai ser suprimido, mas tem uma construção gestual que é o ponto de partido do espetáculo, que geralmente não seria.
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