O Texto no Teatro Contemporâneo 1

Blog   |       |    15 de agosto de 2008    |    2 comentários

Uma semana depois do encontro com Reinaldo Montero, consigo postar minhas impressões sobre o primeira palestra com tema O texto no teatro contemporâneo, promovido pelas Dramáticas em Cena com verba do Fomento municipal.

No primeiro encontro, Reinaldo apresentou um texto dramatúrgico como provocação do diálogo sobre o tema. Já lembro relativamente pouco do que foi discutido. Até anotei, mas o papel se foi numa lavagem de roupa. Há algum registro, Marici?

Um dos pontos mais interessantes foi quando Reinaldo relatou que, em Cuba, você pode se formar dramaturgo e ganhar um título. Aí você pode enquadrá-lo e colocá-lo na parede, porque ele não serve na prática pra nada. Em Cuba os atores têm salário fixo, estando ou não trabalhando. Os dramaturgos não.

“Como faz um dramaturgo, então?” perguntou alguém da platéia. “Bate na porta dos diretores e grupos pra mostrar o seu trabalho ou se integrar de alguma maneira”, respondeu Montero. O sea, com ou sem formação, dramaturgo tá sempre na merda. Ou na Globo, que dá quase no mesmo.

Hans-Thies Lemann é a expressão mais citada nos dois primeiros encontros. Sim, ele é o autor do Teatro pós-dramático, mas já é praticamente uma expressão, quase como uma tag da conversas. O Reinaldo ressaltou que as experiências apontadas por Lehamnn como pós-dramáticas são muito específicas e aconteceram em poucas apresentações de poucos teatros da Europa. Ou seja, são radicais sim, mas servem para pensar movimentos, mais como exceções do que como regra.

Rodolfo Garcia Vazquez, diretor e fundador dos Satyros, perguntou a Reinaldo de que maneira a dramaturgia pode dar conta de detalhes do cotidiano, cenas mais próximas do dia-a-dia. E Reinaldo respondeu que havia um homem de nome William, que escreveu muitas peças e que alterou os rumos do teatro mundial, sendo que só em uma das suas muitas dramaturgias ele falava do seu tempo e do seu lugar. Disse ainda que é um papel que o jornalismo deixou de fazer esse de relatar detalhes esquecidos do cotidiano, não um trabalho dos dramaturgos.

Ainda sobre o “periodismo”, o dramaturgo não poupou críticas à edição feita por Audrey Furlaneto de uma entrevista com ele, para uma matéria publicada na Folha de São Paulo. Constato, no entanto, que a pergunta que motivou as primeiras críticas de Montero foi equivocada. Um fulano (nomenclatura para quem não era identificado na platéia) relatou que Audrey teria escrito que Reinaldo afirmou não ser mais possível fazer um teatro político, o que seria uma grande cagada. Mas essa afirmação de Audrey não consta na matéria. Apesar do erro na pergunta, a resposta de Reinaldo nos comprovou que, como foi definido na Grécia, somos animais políticos, mesmo que muitas vezes “los políticos son los mas animales”. E o teatro é essencialmente político.

Se você participou do encontro, deixe o seu relato. O meu, assim como a edição de Audrey, é bastante parcial. Com mais vozes, podemos dar conta de registrar esses encontros que podem ser de grande relevância pra um início de discussão pública da cena contemporânea.

'2 comentários para “O Texto no Teatro Contemporâneo 1”'
  1. Medea disse:

    Toda obra tiene un trasfondo politico, desde siempre. En el caso particular de este autor, al que he estudiado profundamente como parte de mi tesis doctoral, soy de la opinion que su obra teatral y literaria tienen una alta dosis de contenido politico. Basta leerse con detenimiento su premiada obra “Liz” estrenada por el grupo Os’ Satyros para descubrir que es una reflexion sin mas sobre el amor, y el poder, si el poder absoluto, ese que corrompe absolutamente. Si vamos a sus novelas, tanto “As Afinidades”, publicada en Brazil por Cia de Letras, como “La Visita de la Infanta” publicada en Sevilla por la Editorial Doble Jueves, nos remite a un texto cargado de conflictos existenciales y marcadamente politico expresados por personajes con serias convicciones sobre la vida y el devenir y que constantemente se miden y se juzgan y se prejuzgan. De manera que no entiendo muy bien de que trato la discusion reciente pues no pude asistir por causas imprevistas, pero creo que la obra habla por el, mas qwue los entrevistadores de ocasion.

  2. Juli disse:

    Essa montagem de Liz os Satyros estrearam em Cuba mesmo e ainda não está em cartaz aqui, mas estará em breve.

    Quanto ao teatro político, continuo pensando numa idéia mais abrangente de “político”, que está longe de se deixar restringir aos partidos, à TV Câmara e às peças do Juca de Oliveira. Talvez não faça mais sentido fazer teatro panfletário, mas aí já é outra discussão, não?

    Finalmente, sobre o debate, acho que a discussão central continua sendo “onde entra o texto nessa joça que a gente chama de teatro contemporênao?” – ele vem prontinho (do gabinete do dramaturgo), ele se constrói coletivamente, ele se constrói coletivamente e depois se arremata em gabinete, ele desaparece?

    Uma última observação: sem dúvida, o mais engraçado é a posição da Marici de dramaturga procurando seu lugar – no melhor dos sentidos. O desespero de querer defender a importância do dramaturgo na cena, presente ou não na sala de ensaio, as dúvidas sobre a formação de um dramaturgo, etc. É muito legal ver que quem está organizando os debates está realmente interessado neles, porque acredita que podem contribuir para o seu próprio fazer artístico. E ela tem sido uma mediadora perfeita, é preciso dizer. Daquelas que, com gentileza, faz a discussão andar.

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