100 Shakespeare

Críticas   |       |    3 de setembro de 2007    |    2 comentários

Coleção Shakespeare, versão Pocket

Fotos: Lu Bortoletto e Doro Neto


Em cena, 43 bonecos de diferentes tamanhos e tipos esperam parados (não, isso não é um pleonasmo) pelo início da peça. No centro, quatro grandes caixas começam a se mexer e a produzirem batidas ritmadas, como se os bonecos dessas caixas quisessem se manifestar e ganhar vida. A partir daí, todos são bonecos e atores, de variados materiais – entre panos, madeira, gesso, carne e osso – contabilizando 47 (43+4) deles… muita “gente” no palco, né?

O espetáculo em questão é 100 Shakespeare, da companhia PiA FraUs, que reestréia no Espaço Parlapatões e presta uma homenagem a um dos fundadores do grupo, Beto Lima, falecido em 2005. A partir de nove obras do dramaturgo inglês, os quatro atores utilizam várias técnicas de manipulação de bonecos para criar releituras das cenas desses textos (se você ficou curioso, eles são Hamlet, Mercador de Veneza, Romeu e Julieta, Macbeth, Otelo, Sonho de Uma Noite de Verão, Rei Lear, Ricardo III e Titus Andronicus). Tudo isso em uma hora.

Está aí o grande problema da montagem. Por mais que a intenção do grupo seja a de passar rapidamente pelas obras, fazendo uma espécie de panorama geral, as representações acabam ficando superficiais. É realizada praticamente uma cena rápida de cada um dos textos, parecendo mais um show de bonecos do que uma peça teatral. Lembra, em partes, aquele show de sombras do Oscar deste ano, em que os artistas formavam imagens de vários filmes, com a composição dos corpos. (ver AQUI!!!).

Contudo, a companhia executa bem aquilo a que se propõe: se o sentido é encenar uma parte que seja representativa de cada obra, eles fazem isso de uma maneira muito eficiente. Não apenas encenam um trecho das peças, mas dão uma interpretação pessoal ao sentido delas. Por exemplo, Hamlet procura a própria cabeça perdida, fazendo um paralelo ao mesmo tempo com sua loucura e com a famosa passagem em que segura um crânio e profetiza o batido ser-ou-não-ser (esta frase, aliás, não é dita nesta cena, e eles brincam com esse senso-comum). Em outro momento, Desdêmona, a mulher de Otelo, vira exatamente aquilo que seu marido imagina, e protagoniza até uma cena de sexo oral com um rapaz da platéia. Não sei se ela era boa, o rapaz provavelmente estava constrangido com o ato. Afinal, não é sempre que se tem a oportunidade de fazer um “carinho” desses em um personagem shakespeariano.

Para aqueles que conhecem os textos do dramaturgo fica mais prazeroso assistir a peça, porque se compreende melhor o sentido dado para cada uma das obras. Quem não conhece, não entenderá algumas metáforas, mas verá um espetáculo de bonecos de qualidade. Entre os estilos, os atores chegam a manipular bonecos até com o quadril (pra quem prefere algo mais erótico, troque a última palavra por “sexo”, “virilha” ou “púbis”… não que sejam sinônimos). Em outros momentos, usam recurso de luz negra, dando um ar mais sombrio, ou luz branca, para dar um aspecto fantasmagórico.

Esse teatro de bonecos para adultos, tem tudo o que uma boa trama de Shakespeare e uma novela mexicana precisam ter: sexo, orgia, sangue, batalha, intrigas, romance, morte, manipulação e pipas (???).

43 bonecos-atores + 4 atores-bonecos

'2 comentários para “100 Shakespeare”'
  1. Maria Clara disse:

    ai, comecei ler a crítica mas parei. prefiro o encantamento da surpresa. estou louca para ver essa peça. espero que consiga nesse final de semana. depois eu leio a crítica. beijoaté! 😉

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.