A Javanesa
A Mulher é mais legal que o Homem
Fotos: Vania Toledo
A Bacante ainda não tinha ido ao teatro Jaraguá – que não fica no bairro do Jaraguá, mas bem perto da lanchonete Estadão, do metrô Anhangabaú e da praça Roosevelt – então fui incumbido da tarefa para esta minha resenha de estréia (que meda).
Leopoldo Pacheco já havia acertado anteriormente com Pólvora e Poesia, do mesmo Alcides Nogueira e com o mesmo diretor Márcio Aurélio – o que os fez ganhar o Prêmio Shell de Melhor Espetáculo em 2001. Agora, a parceria é repetida em A Javanesa e, por isso, concluà que valia conferir a história: um homem e uma mulher se conhecem e vivem uma história de amor por 30 anos. Os dois não sabem seus nomes; ele a chama de “Javanesa”, porque ela vive cantarolando a canção La Javanaise, de Serge Gainsbourg, e colhe flores chamadas “saudades”.
A Javanesa sempre vai embora e sempre volta. O homem começa o espetáculo, prenunciando à platéia sua dor – o que nos deixa curiosos. Em geral, os problemas dos monólogos são as duas saÃdas existentes para justificá-los: ou a personagem conta a história à platéia, ou é esquizofrênica e conversa com o ar. Exatamente o que o texto de Nogueira e a direção de Aurélio colocam Pacheco para fazer: ele conversa com a platéia e com o ar.
Entretanto, o que poderia soar estranho de inÃcio e, à s vezes, tedioso, acaba tomando um contorno muito interessante quando Pacheco deixa de interpretar o homem e nos apresenta a mulher. Com ela vêm todas as respostas para os diálogos esquizofrênicos da primeira parte da peça (o rilise definia esse jogo de diálogo como “plano e contraplano cinematográficos” – ok, adotemos). A mulher interpretada pelo ator não tem recursos extravagantes. Um cachecol, postura leve e o tom de voz um pouquinho agudo já fazem um ser feminino. Assim, deste monólogo em diante, tudo ganha sentido.
O único empecilho reside no tal “plano e contraplano” que se estende demais. De primeira, é inventivo, mas depois dos dez minutos do segundo ato (no qual Pacheco interpreta a mulher) se torna um exercÃcio já gasto. O espectador sabe que vão ser esclarecidas coisas do primeiro ato e o frescor da novidade se perde. Entretanto, a interpretação do ator não deixa a peteca cair e é aà que reside a força de A Javanesa.
A mulher é a ode à liberdade. Seu mistério é o que mantém a chama do amor aceso durante anos. Se ficasse ao lado dele para sempre, provavelmente os rumos seriam os já conhecidos por milhares de casamentos por aà – como bem já sabiam aquela sua vizinha fofoqueira e Nelson Rodrigues. A paixão desenfreada do homem é o que justifica a loucura daquela mulher, e por isso é tão correto ser um monólogo, contidos em um só o yin e o yang: ela subverte a ordem e sempre renova a energia; ele mantém para si a força da espera, das saudades e do desejo contido, sabendo que o “para sempre” terá de se transformar em “para agora”. E como nos diz a canção La Javanaise: que essa história de amor dure o tempo da canção. E que ela seja cantada para todo o sempre.
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Uma parceria de sucesso imperdÃvel, Alcides Nogueira e Leopoldo Pacheco atuando com Direção de Márcio Aurélio, só podia dar em Quê? Claro, um tremendo sucesso! Abs aos queridos colegas… Paulo Ascenção – Ator e Diretor