A Refeição

Críticas   |       |    15 de maio de 2007    |    0 comentários

Nada mais que um texto

Chegando ao Sesc Santana, temos a sensação de um espaço a ser ocupado. A unidade inaugurada há cerca de dois anos conta com 3 piscinas (sendo uma semi-olímpica), uma academia, área de exposição, dois maravilhosos cafés e, claro, a razão de estarmos lá, um super equipado teatro. E isso é só o que pudemos ver num sábado de noite.

Esse teatro abrigou a montagem de A Refeição, texto de Newton Moreno que foi motriz da associação com a Cia. Livre, para a produção do espetáculo VemVai, o caminho dos mortos, analisado aqui na semana passada. Segundo Cibele Forjáz, diretora de VemVai, depois de ler A Refeição, o primeiro impulso foi pedir para Newton Moreno que a deixasse montar o texto. No entanto, o dramaturgo já tinha “prometido” o texto para a diretora Denise Weinberg.

Essa sensação de “todo mundo quer Newton Moreno” é compreendida quando o espetáculo se inicia. A dramaturgia de Newton mais uma vez nos leva para aqueles mundos imaginários que já conhecíamos da montagem de Agreste, cujo texto ele também assina, e que agora tem um foco central: o canibalismo. Tipássim, gente comendo gente, não no sentido figurado.

Definitivamente não é dos temas que mais apetecem o público, mesmo assim o Sesc Santana estava metade cheio para a penúltima apresentação da peça. Apesar de todos os recursos disponíveis, a diretora Denise Weinberg optou por uma montagem sem firulas. Tudo se passa no centro do palco: três histórias, uma dupla de atores em cada, três tipos de canibalismo.

A direção definiu marcações quase minimalistas. A terceira história, por exemplo, acontece sem os atores darem um passo sequer, o que é uma tristeza, pois o texto suscita imagens que vão muito além até do que propunham Agreste e VemVai (e ambas tinham imagens magníficas). Fica a sensação de que não houve tempo suficiente de preparo dos atores, o que deu margem para a busca de saídas fáceis pelo elenco.

A iluminação e a cenografia, apesar de bonitinhas, não ajudam a construir um conceito, uma idéia central, um ambiente. Isso, aliado a uma atuação que tende para o naturalismo de tão mínima, dá margem para que fiquemos só com a lembrança do texto. Enfim, o que era pra ser o pontapé inicial para a peça, acabou sendo tudo que faz valer a ida até Santana para apreciar o espetáculo.

2 dedos e uma língua devorados em cena

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