Álbum de Família

Críticas   |       |    9 de julho de 2007    |    0 comentários

As tentativas de montar Nelson

Nelson Rodrigues deve ser o autor mais montado no teatro brasileiro. Normalmente estão em cartaz mais de uma peça do autor. Assim, para analisar uma dessas encenações, não se pode deixar de lado o que já foi feito a respeito da obra dele.

Ano passado veio para São Paulo a montagem carioca de Toda Nudez Será Castigada, dirigida por Paulo de Moraes, que trazia soluções cênicas bem elaboradas, principalmente na mudança de cenário e figurino, e boa concepção estética.

Contudo, a peça resenhada aqui não é a citada no parágrafo acima, e sim Álbum de Família, do diretor Alexandre Reinecke, em cartaz no Espaço Parlapatões. Então por que falar de um outro espetáculo antes? Para mostrar que, apesar da dificuldade de realizar uma boa peça de Nelson Rodrigues que fuja do modelo padrão tantas vezes reproduzido, alguns ainda conseguem um resultado bastante relevante, enquanto outros continuam usando a mesma receita de bolo. O único elemento em comum entre as duas montagens, além do texto de Nelson Rodrigues, claro, é a qualidade dos atores, que conseguem sustentar bem a trama. Fora isso, essa encenação perde muito para a citada anteriormente.

A história mostra uma família – normal se vista através de um retrato de um álbum – mas que na verdade traz todos os distúrbios, incestos, crimes, abusos, obsessões comuns em uma obra rodriguiana.

A recriação de Alexandre Reinecke é bem fiel ao texto, mas não vai muito além dele. A relação com o cenário é confusa: uma porta sem ligações com nenhuma parede no meio do palco, metade de uma janela na lateral, inicialmente podem até ser para demarcar os espaços e cômodos de uma casa. Porém, com a movimentação dos personagens essa impressão não se sustenta, deixando o recurso solto. O pano que envolve todo o palco é meio transparente, mas sua utilização é pouco explorada, e passa a impressão de ter sido utilizada para esconder algumas cenas mais eróticas ao fundo.

Quando os assassinatos da peça ocorrem por meio de armas de fogo, optou-se por não colocar nenhum efeito sonoro, e apenas utilizar recursos de luz. Porém, os tiros mudos trouxeram um aspecto estranho, de vazio mesmo. Em outros momentos, o personagem Nono (Eldo Mendes), que enlouqueceu e vive nas matas, pelado, aparece, dá uns berros e some. Ele repete isso em diversas partes, mais do que o necessário, até em instantes não muito apropriados: em um deles, nem os outros personagens deram muita bola para ele, simplesmente continuaram a dizer seus textos como se nada tivesse acontecido.

O diretor já havia realizado antes outro texto de Nelson, Os Sete Gatinhos, em 2004. Como não vi essa versão da obra, não sei se Reinecke acertou da outra vez. Não é fácil montar Nelson Rodrigues saindo do convencional, mas não custa continuar tentando.

Alguns incestos, assassinatos e cochilos

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.