Ariano

Críticas   |       |    17 de setembro de 2007    |    3 comentários

Qual é a saída mesmo?

Foto: Guga Melgar

Em Ariano, tudo é muito. Os atores cantam muito, tocam muito, acertam muito, erram muito. Com muita cor, muito bambu no cenário e muitos atores (16 ou 17, se não me engano), Gustavo Paso (diretor e autor) e Astier Basílio (autor) assumiram o desafio de homenagear o escritor Ariano Suassuna (detentor, por uso capião, da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras) no ano em que o rapaz completa 80 anos, na sua busca por alcançar o Paulo Autran. Para isso, colocam como personagem principal – adivinhem! – ele próprio, só que com uns trinta anos, num passeio por suas obras, dialogando ainda com outros textos, como o apropriado Coração de Palhaço.

Só desta homenagem não-póstuma, talvez já seja possível tirar uma explicação para o exagero de que começo falando neste texto. Ariano, em meio à sua obra, é muito. Muito e ponto. Um muito que nem de adjetivo precisa.

Começando do começo: muito tempo esperando pra peça começar… tudo bem que é pré-estréia, mas quinze minutos já tava bom pra eu tomar um suco de abacaxi com hortelã e café, não precisa de uma hora. Quem me lê reclamando tanto nem imagina que esta foi a primeira pré-estréia da Bacante. Finalmente algum louco resolveu convidar a gente para este tipo de evento, desses em que você pode ver a peça antes de todo mundo e ainda ganha comida e bebida como recompensa.

Entramos. Um cenário rico, bege, com clima de sertão, clima de Suassuna mesmo. Muito gelo seco dando efeitinho por baixo das pedras cenográficas. E então, quando os sons da coxia, a fumacinha e aquele monte de bambu estão nos embalando e nos apresentando aquele ambiente todo especial, eis que o Centro Cultural Banco do Brasil resolve que tem que apresentar a peça, contar que tem orgulho em fazê-lo, pedir pra desligar o celular etc. Que merda. Me deu raiva. Até ri de raiva. Ao acender das luzes, não estava mais lá o cenário deserto do sertão. No lugar dele: atores. Muitos deles, a maioria segurando bandeiras semelhantes às das naus portuguesas (lembre aqui da sua aula de história do primário), todos cantando. Um coro muito bem entrosado e muito suave. No alto, no canto esquerdo, uma balança que já havia chamado minha atenção agora está ocupada por um Ariano, sentado nela. E, em meio a alguns exageros, esqueceram de exagerar no uso dela. Ariano não balança na balança. Nem faz nada demais ali. Nem ele, nem ninguém da peça. E, então, o que poderia ser uma ferramenta cheia de significados, se limita a ser uma cenografia bonita.

Logo, conhecemos diversos personagens, universos e lendas criados e recriados por Suassuna em suas muitas obras, filtrados delas com cuidado e carinho, formando uma unidade poética. E poesia não falta. A linguagem é toda linda, do início ao fim. Faltou mesmo foi criatividade nas piadas que o grupo criou para permear as histórias, muitas piadas, pouca graça, pouca originalidade. E o clichê corre solto, em personagens que parecem ter vindo direto d’A Praça É Nossa ou algo que o valha.

No entanto, um personagem vem, não da praça, mas direto da obra O Santo e a Porca pra trazer mais criatividade e arrancar de mim as gargalhadas que ainda não haviam saído. Trata-se de Caroba, que vai se tornar a fiel escudeira do Rei Ariano na busca pelo Reino de Acauã. A simples menina que os tios consideram doidinha, é interpretada docemente e oferece uma sabedoria divertida: “Caroba sabe tudo!”, diz. E sabe mesmo. Ou quase tudo. Sabe, inclusive, nos emocionar quando recebe uma condecoração pelos serviços prestados.

Há que se dizer que, mais do que a intérprete de Caroba, merece destaque o trabalho de todos como um grupo. Cada vez mais, tenho observado atores preparados pra tudo, que sabem tocar, cantar, virar cambalhota e até atuar. É o caso. O programa não me deixa mentir: embaixo dos nomes dos atores, está o nome de seus personagens e, em seguida, os instrumentos que tocam na peça. Isso mesmo, instrumentos, no plural. Não me venha com essa de saber tocar Legião Urbana no violão, o lance é sério mesmo. Pessoal de talento, um talento reunido com generosidade.

Muitas aventuras depois, após enfrentar obstáculos como uma atriz que parece a Solange Couto e um ator que parece o Nerso da Capitinga, entre outros, o personagem Ariano chega, então, ao fim de peça mais brega que eu já vi, com direito a pisca-pisca colorido de Natal, cavalo branco e canto de pai. Tudo bem que é sonho e que a morte do pai de Suassuna tem fortes reflexos em sua obra (o escritor tinha só três anos quando Seu João foi assassinado), mas ficou apelativo e boboca, de modo que considero possível encontrar um desfecho mais interessante, utilizando a mesma figura do pai de um jeito mais criativo e menos piegas. Mas, já prevendo os percalços porque eu passaria ao longo da peça, a própria obra não se cansa de me alertar do começo ao fim (afinal, a frase é repetida umas 500 vezes): a saída é a poesia! E é mesmo, porque se dependesse das piadas e da afinação do ator que interpreta o João Suassuna, não teria escapatória, não.

3 taças de espumante

PS: Já que a resenha toda fala de exageros, não posso deixar de zuar, com todo respeito, a subida dos autores ao palco. Fazer discurso, tudo bem, já é praxe, mas dar uma dançadinha desengonçada com os atores foi um exagero divertidíssimo!

PPS: A comida não tava exagerada, não! Tava na medida certa, viu!

PPPS: O programa da peça é um dos mais generosos que já vi. Trechos bonitos de obras, fotos bacanas e o texto de Gustavo Paso, que diz que não vai contar a peça, nem suas intenções. E não conta. Perfeito. Obrigada por me deixar tentar descobrir.

'3 comentários para “Ariano”'
  1. Achei muita graça da crítica que não critica nada a não ser fazer comentários subjetivos querendo alfinetar e dar um ar de “Bárbara Heliodora” em seu texto (que por sinal elogiou MUITO o espetáculo, que fez 3 temporadas lotadas de público no RJ, SP e Curitiba, por quase um ano sem ter ao menos um ator “famoso”).
    Erros grosseiros: São 10 e não 18 atores
    Não existe gelo seco no palco, a fumaça de gelo seco é rasteira e precisa de uma máquina específica e cara que o patrocínio ralo do CCBB não aguenta.
    Não fez uma sinopse e nem deu “nome aos bois”nem dos atores e nem da equipe, valia apena ler o programinha pra se inteirar da coisa antes de escrever e realmente criticar as interpretações, conceitos e espetáculo com propriedade e não com deboche e superficialidade.
    O ator que faz a cena final do pai (Jorge Luis Cardoso) do Suassuna é professor de canto e prepara a voz de vários espetáculos do cenário carioca e nacional de teatro, na sua maioria musicais, é mais fácil ele saber sobre afinação do que qualquer outra pessoa fora do ramo, me perdoe se for professora de canto e realmente entender, mas acho difícil isso ter ocorrido)
    Enfim…
    Espero que tenham sorte nesse projeto de revista mas que invistam em críticas melhores e que queiram deixar algo construtivo.

    Ass. Leonardo Miranda (ator do espetáculo e designer da peça)

  2. Daniel Queiroz disse:

    Caro-amigo,rsrs(risos)-O-Leonardo-Fechou-com-a-sua-Cara,rsrsr(risos.novamente).

    Vc-ficou-agora-com-a-cara-de-algum-ator-da-praça-é-nossa,melhor,mas-sem-movimento-do-que-a-balança-do-espetáculo-ou-mais-deserto-do-que-o-sertão-de-bambus.kkKKKKK!!!!ADOREI!

  3. Daniel Queiroz disse:

    Ah!!!..Meu..teclado.está.com.defeito.por.isso.escrevo.assim,mas.não.tão.defeituoso,quanto,sua,crítica,e,sua,reputação,depois,dessa:MEU,EMAIL,ESTÁ,AÍ,PRE,QUEM,QUIZER,CRITICAR,OU,SORRIR.KKKKDISSO,TUDO!
    artsacradobrasil@hotmail.com

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