As Noivas de Nelson
Destruindo Casamentos
Fotos: Rogério Nunes/Clix.
– 1, 2, 3 e uolllhhhullll!!! – o elenco grita em unÃssono, enquanto uma das atrizes vestidas de noiva joga, de costas, o buquê para a platéia, ao final da peça.
– Eeeeeeee! – novo unÃssono quando uma pequena na platéia, toda risonha, pega o arranjo de flores na mão.
– Você está acompanhada? – pergunta um dos atores. Depois da moça responder entusiasmada e um tantinho encabulada com aquele sim com a cabeça, o foco se volta pro rapaz ao lado dela que agora a abraça meio surpreso, também risonho e encabulado.
– Ahhh – continua o ator, enquanto outro se encaminha para a platéia, segurando uma garrafa esverdeada – Então o acompanhante leve para casa um presente dos nossos patrocinadores, uma garrafa de Sidra Cereser!
Não sei bem o que significa para uma pessoa pegar um buquê em uma peça chamada As Noivas de Nelson, depois de acompanhar cinco histórias envolvendo casamentos fracassados, e ainda levar para casa junto com o namorado uma Sidra Cereser – aquela que o Raul Gil anunciava em seu programa de calouros. Se o casal levar em consideração que Nelson Rodrigues já disse que a famÃlia é o inferno de todos nós e lembrar dos contos curtos vistos durante a apresentação – escritos pelo dramaturgo/jornalista para o jornal carioca Última Hora, na coluna A Vida Como Ela É – acho que não vão ficar muito felizes e, pior, não conseguirão nem ficar embriagados, já que Sidra Cereser não embebeda ninguém.
Se, lendo o nome da coluna que Nelson escrevia entre 1951 e 1961, você se lembrou daquele quadro do Fantástico de mesmo nome, narrado por um José Wilker de óculos vermelho e jeitão garboso (seja lá o que isso signifique), acertou. Aliás, na peça, entre as cinco histórias apresentadas, uma delas me lembro de ter assistido na TV anos atrás com o Caio Junqueira no papel principal. Só que no espetáculo, em vez de Wilker, a narração das historinhas fica por conta dos próprios atores/personagens, de forma intercalada.
Entre uma historieta e outra, durante o blackout ouvÃamos a voz de Nelson Rodrigues falando suas frases. Nem sempre o grupo conseguia encaixar o que ele dizia com o que era visto em cena, fazendo com que tal opção, à s vezes, parecesse apenas uma tática para entreter enquato eles mudavam de figurino pras próximas cenas.
O fato é que por mais que se proponha uma perspectiva de conexão entre os contos – todos têm casamentos frustrados – essa fórmula de usar histórias curtas escritas por Nelson já foi tão usada, seja no teatro ou na TV, que você sai da apresentação com a impressão de ter visto um pouco mais do mesmo. Tá certo que algumas produções são mais bem trabalhadas do que outras, mas todas tendem a trazer a mesma estrutura e estilo narrativo fiel ao autor – narrados por Wilker ou não.
As Noivas de Nelson trouxe boas sacadas, como repetir umas quatro vezes a mesma cena de casamento – com aquelas tias se abanando em leques (sempre presentes nas montagens rodrigueanas), ora dando suspiros de admiração, ora chorando o péssimo negócio. Já que casamento é tudo igual mesmo, nada mais irônico do que a repetição – a única coisa que muda, é a maneira como o casamento vai afundar. Os atores também são ponto a favor, com destaque para os olhos arregalados de assombração de Vladimir Camargo. Os atores conseguem passar – de uma história para outra – de moço afeminado para amigo macho, de filha meiga para esposa feia, e assim por diante.
Antes de vir para na Mostra Nelson Rodrigues, do Centro Cultural São Paulo, o espetáculo tinha sido destaque no Fringe, no Festival de Curitiba. Mas já que uma das frases do Nelson que mais gostam de parafrasear por aÃ, inclusive pelos comentários da Bacante, é “toda unanimidade é burraâ€, o leitor fica convidado a assistir e tirar suas próprias conclusões. Se não gostar, poderá assistir as outras tantas peças roduigueanas em cartaz (veja AQUI, AQUI e AQUI mais ou menos) na cidade.
2,5 batatas! no espeto
deixem o nelson descansar!!!
Otima sua materia Leca…. observadora voce comentou minuciosamente uma fracao de um icone da damatrurgia brasileira, usando o mesmo tipo de humor e sarcasmo que eram comuns nas obras de Nelson Rodrigues…. sacada esperta com comentarios inteligentes. Parabens Alessandra.
Crioulos e Ceife
[…] A peça “noivas de Nelson” é bastante famosa no cenário teatral. Leia uma resenha crÃtica sobre […]
[…] As noivas de Nelson Elenco: Aline Volpi, Ana Paula Castro, Anamaria Barreto, Basilides Ortega, Edivaldo Zanotti, Marcelo Peroni, Marici Nicioli, Rosangela Torrezin, Vladimir Camargo, Vivi Masolli Classificação etária: 12 anos […]
Lindo, maravilhoso espetáculo,Parabéns ao elenco