Calabar – Breviário
Mete a mão no Chico
Foto: David Boaratob
Subverter os espaços da Unidade Provisória do Sesc Avenida Paulista, a meca cult do teatro paulistano, é uma treta. Pense num lugar pra ser revirado do avesso a cada montagem, com pé direito de não mais que quatro metros para público e atores se disporem. Espaços cênicos onde se chega de elevador. A própria idéia de transformar esse prédio em teatro é quase utópica. Tudo tem que ser adaptado já que ali funcionava um prédio administrativo. Lembro-me dos atores de VemVai, o caminho dos mortos comentando que perna de pau ali não entra e os percalços por que passaram. Mas a atual montagem de Calabar consegue nos recepcionar de uma forma bastante criativa dentro dessas limitações impostas. Ainda no elevador ouvimos a cantoria do que podemos chamar de um pequeno bloco de carnaval, dando o tom do deboche que a peça sugere. No entanto, o que é grata surpresa na chegada, não se mantém ao longo do espetáculo.
Seqüência de um trabalho iniciado em 2005, quando Heron Coelho dirigiu leituras dramáticas de alguns textos do teatro brasileiro no Sesc Ipiranga, Calabar é a segunda montagem saÃda do projeto Em cena: Ações. Nos mesmos moldes de figurino, cenário e música que encontramos em Gota D’água, esta montagem estende o experimento cênico e mostra que tudo que é bom [tende a] dura[r] pouco.
O argumento presente no programa e no rilise da peça – de que Heron procurou uma abordagem brechtiana (e aqui encontramos o distanciamento e outras apostas que se realizam) para dar espaço ao ator – não consegue justificar a escolha por se manter o mesmo formato. Desde o inÃcio da peça (sobretudo na recepção do público, em que os atores invadem o espaço dos elevadores) esperamos que tudo não seja igual a Gota D’água. Domingos Fernandes Calabar é personagem complexo da história do Brasil: mameluco (Ãndio+português, pra quem bebia nas aulas do cursinho) catequizado por jesuÃtas que foi pro lado dos laranjas na invasão holandesa e, portanto, tido como traidor pela história oficial. Só a idéia da traição relativizada, presente no texto original de Chico Buarque e Ruy Guerra (escrito em 73 e censurado em 74), já seria desculpa suficiente para uma auto-traição de formato. Uma traição ao que se espera.
A ausência de uma recriação expõe ainda mais as fissuras do espetáculo como o desnÃvel muito claro entre os atores em termos de preparação e, à s vezes, no trabalho do mesmo ator para personagens distintos. Há uma reapropriação no sentido de editar o texto, mas ainda há excesso de respeito com relação à s músicas originais, e a peça parece não terminar nunca. Uma das atrizes incorpora muy brechtianamente este problema e diz “duas hora de peça” conseguindo tirar risos da platéia, pra na seqüência soltar a voz em mais um tema. A festa final com a música Não Existe Pecado ao Sul do Equador – lembrando a frase de um visitante sóbrio da nossa revista – tem o mesmo efeito de um solo virtuoso de todos os instrumentistas da big band à s 05:30 da matina, quando ninguém mais quer saber de after-hours.
2 tentativas frustradas de fazer o público subir ao palco
Confira também o texto de Frans Leonard Schalkwijk, sobre Calabar.
concordo com vc!
fiz um texto sobre essa peça no meu blog tb.
por tamanha indignação com a peça, acabei sendo detalhista até demais.
Palavras não faltaram.
http://www.discutindoteatro.blogspot.com
beijos ( mais especiais para a Leca e pro Mauricio. saudades)
Eu posso estar enganado, mas acho que o link que coloquei depois da cotação é o mesmo que você colocou pro seu blog.
Veja lá.
Prezado FabrÃcio
muito pertinente sua crÃtica.
são com observações assim que um diretor ainda incipiente como eu se constrói e se forma.
muito obrigado.
já mudei muita coisa. você me sinalizou muitos pontos.
e conto com sua presença, na última apresentação, para que você comente comigo – claro, se quiser e puder – os problemas e as possÃveis melhoras.
atenciosamente
Heron Coelho
Ah, e fiquei fã da revista!!!
abraços
Heron
Caro Heron
Não sei muito bem a razão de você ter colocado o blog da Maria Alice Vergueiro no campo website. É uma divulgação aleatória do blog dela? Seria alguma piada que não entendi? Normalmente sou lento pra piadas.
Não acho que seja uma questão de melhoras, ou de definir o que é bom ou ruim. Mas gosto da idéia de rever a peça depois de toda a temporada completa e acho legal saber que você repensou o espetáculo depois do meu comentário de crÃtico incipiente, ou iniciante. Vocês pretendem levar pra outros estados?
Fazemos assim: eu te adiciono no gtalk (comunicador do gmail), e falamos por lá. Se não der certo, mande um email no último final de semana de Calabar que apareço por lá. Abraço e apareça por aqui.
Pô FabrÃcio! O texto que vc manda conferir não é de Franz Leonard – dele é só a nota em rodapé. O texto é de MarÃlia Ferreira, que entende de te-ato mas muito pouco de Brecht, e acha que o autor da trilha é Ney Matogrosso. você se deixou contagiar por referências erradas. Não que eu tenha gostado da montagem, muito pelo contrário. Mas os erros de Heron são outros, e sérios.
Oi Sérgio
Essa referência ao final da página é um projeto nosso de colocar outras crÃticas que dialoguem com o mesmo espetáculo. Tá meio capenga, pq há pouca publicação crÃtica no Brasil (você bem sabe) e por conta da presença de macunaÃma na nossa tradição de escrita. Mas não vamos inverter a ordem. Primeiro escrevi esse texto aqui acima, depois é que encontrei o texto linkado. Os paralelos são muitos (até me assustei), mas não concordo com diversos pontos da MarÃlia. Fiz questão de manter o nome errado do Franz Leonard pra aumentar a desinformação do leitor desavisado (como eu fui). Sobre os erros especÃficos do Heron, gostaria de saber sua opinião. Na verdade saber o que você considera erro nesta montagem. Se você citar, aqui ou no teu blog, dê um toque pra eu dar uma olhada. Creio que o Heron tb gostará de saber (isso se o comentário aqui acima for realmente dele).
Abraço e vamos marcar outra cerveja.
Ah, FabrÃcio, é que eu não tenho blog, então como eu faço o da marialice, com ela, de quando em quando (inclusive fizemos o disco, se quiser eu te mando um), e por isso uso esse endereço.
meu e-mail é heroncoelho@gmail.com
vamos nos falando.
antes de mais nada, sou um aprendiz.
dirigi apenas duas peças na vida, e produzo alguns discos e dirijo shows musicais (o que é bem mais simples).
foi tudo muito difÃcil nessa montagem.
e é muito importante ouvir o que vocês, crÃticos atentos, têm a dizer.
quero enxergar os meus erros, e essa é uma função essencial de todo processo de aprendizagem.
muito obrigado pela atenção
vou ler o que vc achou da peça do paulinho pinheiro, estou ansioso.
abraços
Heron Coelho
cara, vai caça o q faze vei!!!!
É sempre bom relembrar os primeiros episódios de simpsons.
Valeu pelo comentário, punheta.
Esse diretor é completamente equivocado e violento. Inclusive nessa montagem de Calabar,agrediu fisicamente boa parte do elenco,com direito a muita pancadaria,os que sobreviveram não mais se relacionam com o diretor atormentado.
Depois de várias tentativas em manter uma carreira,onde falta sensibilidade cênica, ética, respeito e verdade com os profissionais que “IAM” na viagem egocentrica desse enganador.
Sua última tentativa foi tentar, chegando a anunciar OPINIÕES, baseado(segundo ele)no musical de 1964,quando nas vésperas da estreia ele agride atriz do elenco, iluminador e joga sujo com os poucos( que restaram) e todos percebem o risco que corriam ao associar suas imagens ao nome Heron Coelho.
Diretor de uma peça só(onde na verdade os méritos de direção cênica de Gota d’Ãgua são todos da brilhante Georgette Fadel, que se recusa terminantemente em executar qualquer outro trabalho com Coelho, tamanhas agressões sofridas)o cartaz do então “incipiente” diretor se construiu e se solidificou, permitindo a quem ainda possa se interessar, perceber seu caráter hoje completamente formado. Aos desavisados:CORRAM.