Coçando o Saccro

Críticas   |       |    25 de junho de 2007    |    0 comentários

Em foco: Jesus, os cientistas e a TV. Haja foco!

Foto: Alexandre Cobra / Montagem: Adonis Comelato

Coçando o Saccro é uma peça pra dar dor de barriga de rir. O elenco que segue o consagrado estilo Clube do Bolinha, é composto por um monte de mulecotes abusados. As esquetes trazidas por eles brincam principalmente com religião e ciência e são de provocar problemas intestinais em todos os públicos (ok, aqui talvez possamos excluir as velhinhas dos teatros da Brigadeiro). Essa tal ousadia “unânime” tem cara de grupo iniciante, que dá a cara pra bater e ainda se diverte com isso. Mas, neste caso específico, iniciante em termos: o Olaria Grandes Bosta está exercendo sua função laxante, por meio do riso, há mais de seis anos.

Vamos à história. Bem, não vamos. Não espere por um eixo central, um fio condutor, uma linha narrativa. Não. Só o que você vai encontrar é o diabo/demo/cuzaruim, numa tentativa de ligação entre os pedaços de encenação. Apesar de muito divertido, o chifrudo não consegue cumprir plenamente essa função e a montagem fica meio “descolada”, no sentido de cola mesmo. Tipo Tenaz.

Relevando a falta de acabamento das cenas, que parecem ser feitas sem muito perfeccionismo (o que, aliás, pode ser proposital, num tom desleixado que combina, de fato, com o que é mostrado), é imprescindível ressaltar a capacidade criativa dos caras. Tomando a TV como referência – tanto sua linguagem quanto alguns de seus programas – o Olaria consegue tirar algum proveito de quadros tristes de tão malfeitos, como o Teste de Fidelidade, atração que compunha o programa do caricato João Kléber, da Rede TV. Mais impressionante do que isso, o grupo consegue deixar engraçado um dos grandes favoritos a programa de comédia mais sem graça de todos os tempos: a Escolinha do Professor Raimundo . Peço perdão a quem gosta do Chicão, mas a transformação do professor que ganha pouco em füher caiu como uma luva.

A maior parte das cenas é completamente apoiada em preconceitos já consolidados na sociedade. Nessas, vale zoar gays, japoneses de pinto pequeno, judeus, nerds. No entanto, quando você pensa em começar a xingar os atores de segregacionistas malditos, eles apresentam um preconceito menos comum, tão limitado e generalista quanto os outros, claro, mas muito original quando recriado naquele contexto: o preconceito contra os advogados, numa improvável cena de uma célula eucarionte que resolve sair de casa para se formar em Direito. Dessa forma, expõem e riem dos critérios sociais bizarros que geram os preconceitos mais radicais e utilizam com leveza o potencial crítico imensurável do que é risível.

Sacadas como as citadas acima somadas a efeitos simples e inteligentes, como um “rewind” numa cena em que Judas está lavando roupas no rio, nos obrigam a voltar as atenções ao trabalho do Olaria e torcer pra que eles continuem criando e consigam basear seus vôos criativos em temas menos batidos. E aí, depois de muito praticar, quem sabe eles consigam parar de rir de si mesmos. Mas, claro, só enquanto estiverem em cena.

3 feministas e 0,5 evangélica protestando juntas na entrada do teatro

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