Heleny, Heleny, Doce Colibri
Heleny, Heleny, me tira daqui!
“Todo mundo gosta de contar histórias. Nós, do Studio 184, também”. Assim, Dulce Muniz, dramaturga, diretora e narradora do espetáculo Heleny, Heleny, Doce Colibri, apresenta a peça a um enxuto público no sábado à noite.
Ok, contar histórias é, de fato, uma boa intenção inquestionável. O problema vem depois, afinal há muitas formas de contar histórias e o grupo escolheu a mais linear e didática, no pior dos sentidos.
O espetáculo está em cartaz até setembro no Studio 184, que fica na praça Roosevelt (sim, ela novamente), no centro de São Paulo. Para contar a história de Heleny, o Studio conta com 10 atores (se não errei na conta) mais 2 crianças, 3 músicos, projeção de fotografias e fomento da prefeitura (segundo fonte do elenco que não quis se identificar). Sim, fomento da prefeitura. Certamente, pela importância do personagem histórico. Só se for.
A escolha desse espetáculo pela Bacante se deu por critério de falta de visibilidade na mÃdia, mesmo caso da peça Mammy vai à Lua, em cartaz no teatro Crisantempo. Triste constatar que a mÃdia tradicional parece ter acertado, certamente sem querer e sem ver, ao não divulgar tamanho fracasso. Provavelmente, Dulce Muniz ou sua assessoria de imprensa mandou mal no release.
Na obra, em si, é visÃvel, desde o princÃpio, o despreparo dos atores, a falta de preocupação em tornar conceitos em cenas, o descuido com músicas, luz, projeções e a inconsistência latente em todas as cenas.
A escolha do tema, a morte da diretora Heleny Guariba nas mãos da ditadura, já exige criatividade adicional pela quantidade de vezes que as artes abordaram a ditadura e seus efeitos na sociedade. Sim, um tema clichê pode se tornar um desafio. Não se tornou. O que se vê é o lugar comum do lugar comum no palco italiano.
À parte o tema, já na apresentação do espetáculo, nos sentimos numa aula de história. Chata. A projeção de fotos reais, que poderia ser uma interessante tentativa de explorar novas linguagens, se perde no meio do caminho pela falta de criatividade no uso do recurso. Fica raso e, novamente, didático.
Alguns aspectos da montagem merecem menção por atingirem aquele ponto especial, em que nos questionamos se existe ali algo muito maior que não conseguimos enxergar (ai, minha miopia!): figurino – all-star, jeans e camisas cinzas para todos, revelando a falta de recursos (?) e a atualidade do tema ditadura, não esquecendo, é claro, dos coletes pretos, que caracterizam os militares (minimalista, não?); música elaborada a partir do que se canta, contando com flauta, violão e bateria, “ao vivo”. Mais uma chance de inovação e qualidade cênica, interrompida, de súbito, pelos Paralamas do Sucesso no playback, demonstrando, vejam só!, como o tema ditadura era atual na década de noventa.
Há que se falar da aparente-entrega-parcial da protagonista, que tem algum carisma, provavelmente vindo de seu charmosinho corte chanel (alguma coisa tem que lembrar os tempos de outrora pra contrastar com os paralamas e os all-star).
Entre os detalhes risÃveis (apesar da tristeza inerente ao tema), está, literalmente, pulando à frente do público: a coreografia. Afinal, trata-se praticamente de um musical. O único detalhe é que ninguém sabe cantar. Nem dançar. E, minha gente, eles tiveram uma coreógrafa. E ela deixou colocarem o nome dela no cartaz.
Uma peça anacrônica. Com fomento.
PS: Depois da peça, já na calçada, Dulce afirma, ingenuamente, entre amigos: “Parei com sexo e drogas, agora só Rock’n Roll”. Será aà a morada dos problemas?
10 pessoas na platéia
[…] ainda é mentirosa. E não é só no caso dos Parlapatões. Studio 184 teve verba pra montar Heleny, Heleny, Doce Colibri (Não me pergunte por que, mas teve). E, por fim, os Satyros, pelo que eu me lembro, se […]