Mammy vai à Lua

Críticas   |       |    16 de abril de 2007    |    0 comentários

Bia, conta uma piada!

Quem se lembra da Carolina, mãe de Lucas Silva e Silva, interpretada por Mira Haar? Sabem por onde ela esteve esse tempo todo? Pois a equipe Bacante descobriu! Ela continua no Mundo da Lua.

No monólogo Mammy vai à Lua em cartaz na sala Crisantempo (onde?), ela interpreta uma “fêmea cheia de hormônios”, envolvida pelos dramas e aventuras típicos de uma dona de casa de classe média diante do universo contemporâneo. Em outras palavras, a personagem fica a peça inteira reclamando dos filhos, do próprio corpo, da amiga com família perfeita, das cuecas do marido e, como não poderia deixar de ser, da sogra. O tema do espetáculo tenta mostrar de tal forma seu universo que os nomes dos personagens são: Mammy, que é casada com Pappy, mãe do Júnior e da Lindinha.

Sem querer desmerecer o trabalho das donas de casa, muito menos parecer insensível, o tema da peça é um saco. Tanto que, nem mesmo elas, espalhadas pela platéia, estavam achando a menor graça no que viam (ok, tinha umas que estavam se divertindo muito, mas tem gente que se diverte com cada coisa…). Além disso, a realização não ajuda nada para melhorar…

A peça é patrocinada pela Bombril, mas a impressão que se tem é que não se trata de um patrocínio, mas sim de uma encomenda: teria a peça nascido em uma reunião de marketing da empresa? A afinidade com o público-alvo da marca, a citação forçada à marca pelo diretor Elias Andreato no programa da peça, e a platéia repleta de mães de família (e possivelmente donas de casa) parecem indicar que há algo mais que patrocínio ali, ainda mais quando há o nome de Carlos Moreno, o garoto-bombril, encabeçando os créditos como realizador do espetáculo. Estranho…

Teorias conspiratórias à parte, a afinidade da temática da peça com seu público e seu patrocinador teria tudo para se caracterizar como um excelente projeto comercial: isso se não fosse um equivocado projeto artístico.

O monólogo se inicia com Mammy pendurando as cuecas do Pappy e esperando aflita por um telefonema. Ela se inscreveu na promoção da Margarina Maré, que vai levar uma dona de casa à lua, e este é o dia do resultado. Quando o público começa a acreditar que a peça tem um eixo narrativo, Mammy passa a reclamar de seus problemas como dona de casa e não termina mais, para desespero geral (ao menos da equipe Bacante ali presente).

Para gerar risos, o texto se utiliza dos velhos recursos do palavrão na boca de uma senhora. É só ela soltar um “fudeu” pra ganhar pontos com o espectador. Mas a inocência da personagem não se perde somente com os “puta que pariu” que ela solta: em uma das esquetes politicamente incorretas, a protagonista insinua que o atendente de telemarketing que acabara de lhe telefonar não foi parido, e sim cagado, e que ele tem aquela profissão por problemas genéticos. Nada mal, não?

É o início de uma série de esquetes entediantes, desconexas e intermináveis, que ora despertam risos da platéia, ora não empolgam a ninguém. Aliás, fica uma pergunta: alguém entende o porquê da platéia rir ao ouvir “Supermercados Futurama”? Eu juro que não entendo. Em vários momentos, esperávamos para que ela fosse de uma vez pro espaço e nos deixasse em paz.

A produção do espetáculo é caprichada: o cenário é bastante rico, bem-resolvido e possui movimentações ágeis, a iluminação condiz com a cenografia e com os movimentos de cena e a trilha sonora é bem pesquisada. Tecnicamente só não podemos falar bem das projeções, que são animações em flash feias de doer e que, em função do aparelho mal posicionado, ainda projeta um pedaço da cabeça da atriz.

A atuação de Mira Haar condiz bastante com a linguagem do espetáculo e com o tema proposto, sem muita grandiosidade mas também sem fazer feio (na medida do possível, em um espetáculo como esse o mínimo que se espera é uma atuação razoável, e a atriz não decepciona). O curioso é que o texto apresenta muito potencial de interação com a platéia, mas em nenhum destes momentos a idéia é comprada: a atriz prefere partir para a próxima fala a observar a reação da platéia, deixando o espetáculo, além de tudo, hermético e estéril.

Momentos antes do término, sem nenhuma transição, o foco da narração finalmente volta para o eixo narrativo inicial, da mesma forma como, do nada, havia fugido dele antes. E como brinde, a platéia ganha um efeito especial espetacular: o fogão, único elemento que permanece no cenário, se transforma em um foguete que (finalmente) leva Mammy ao espaço, com direito a roupa rosa de astronauta, fumaça cenográfica, luzinhas e tudo mais. É o prêmio que ela ganha depois de entupir a família de colesterol, de tanto comprar a tal margarina pra participar do sorteio.

Após os aplausos, a atriz dedica aquela apresentação à garota Bia, 8 anos, que segundo Mira, sempre conta uma piadinha quando a atriz está sem graça. Ah Bia, se soubéssemos disso teríamos pedido pra você contar várias piadinhas ao longo da peça…

Ah sim, o ingresso custa quarenta reais.

1 colher de Palmirinha Onofre ao molho pardo

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