O Continente Negro

Críticas   |       |    11 de junho de 2007    |    0 comentários

Amores negros

Fotos: Lenise Pinheiro

Quatro estrelas. Essa era a cotação (a máxima) estabelecida por um famoso guia de São Paulo, desses que vêm em jornal, sobre a peça O Continente Negro, em cartaz no Teatro Faap.

Nós da Bacante não somos muito adeptos à cotação convencional. O negócio é tão subjetivo e superficial que 22 estrelas e dois patinhos na lagoa podem significar a mesma coisa.

Porém, dessa vez até acreditamos na classificação do jornal e fomos assistir ao espetáculo. Bom, o causo é o seguinte: fiquei a maior parte da peça tentando entender o porquê das malditas quatro estrelas do tal guia. Seria pelo extremo naturalismo? Pelo cenário com ar experimental? Pelo Ângelo Antônio de cueca? Pela Débora Falabella andando de bicicleta?

Depois de abusar do direito à divagação, vamos à peça. A montagem é composta por várias esquetes amorosas intercaladas, tendo em comum apenas a temática das relações tumultuosas entre casais heterossexuais e a África. Os três atores, Ângelo Antônio, Débora Falabella e Yara de Novaes, se revezam em diversos personagens, que não conseguem manter um relacionamento estável e acabam fugindo. E é ai que entra o nome da peça.

A África, ou o continente negro, é a rota de escape para os amores interrompidos. Distante de clássicos românticos como França e Itália, é para a África que se refugiam os corações abandonados, traídos, solitários, impossíveis e desiludidos. Essa metáfora pode até parecer bonita, mas é pouco representativa no espetáculo. O significado fica perdido no contexto das histórias e parece forçar uma amarração entre as esquetes. Um exemplo disso são as ligações telefônicas recebidas por grande parte dos personagens. Eles recebem chamadas da África, de alguém à procura de seu amor perdido.

Poucas das narrações trazem algum tipo de inovação e a maioria esbarra em estereótipos: a Lolita apaixonada pelo professor, o marido canalha, a mulher traída, o romance com a cunhada, e por aí vai. As atuações naturalistas embasam os personagens e correspondem aos seus propósitos.

O ponto alto da peça é o cenário de André Cortez. No imenso palco do teatro Faap, foi construída uma grande estrutura oca de metal, intercalada na parte superior por janelas, proporcionando a divisão das partes de uma (ou várias) residências. Ainda compõe o ambiente um táxi, e na parte central do palco, um microfone.

Nada melhor na semana dos namorados do que ver uma peça recheada de amores destruídos, romances inacabados e paixões proibidas. Assista e traga seu namorado.

22 patinhos na lagoa

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