Plan B

Críticas   |       |    23 de julho de 2007    |    21 comentários

A Gravidade é Relativa

Em respeito à Semana do Anônimo Feliz, não identificaremos o autor deste texto.
Foto: Aglaé Bory/ Divulgação.

Novo circo é o nome que se dá a um movimento em que novas linguagens são incorporadas à técnica circense, ampliando suas possibilidades e seus sentidos para além dos tradicionais números de palhaços, mágicos, acrobatas e malabaristas. Um grande exemplo deste movimento é o espetáculo Plan B, da companhia francesa 111, encenado por Phil Soltanoff e integrante do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto.

No lugar das roupas coloridas e cheias de lantejoulas, austeros ternos pretos. Trapézios e picadeiros são substituídos por uma parede inicialmente inclinada a 45 graus, que depois fica totalmente na vertical e despenca para o chão, para a terceira parte da performance, na horizontal. Em vez de uma lona e de arquibancadas, o imenso teatro do SESC Pinheiros, por apenas duas solitárias e insuficientes apresentações. No lugar de anões e leões, quatro atores/trapezistas que brincam com a linguagem do teatro, da dança e do vídeo – este é usado para subverter de forma genial até mesmo os papéis da parede e do chão em um palco tradicional.

Com a ausência de texto, também não há muita preocupação com a composição de personagens – e no contexto do espetáculo isso não faz a menor diferença. Basta perceber que os quatro atores incorporam executivos em sua luta pela sobrevivência, pela posição do topo, pelo status, pela garantia de proteção e segurança e pela demonstração de força e virilidade.

O espetáculo é a segunda parte de uma trilogia iniciada pelo estudo dos vetores – em IJK – e concluída pela exploração das linhas – em Plus ou Moins L’Infini. Explora o conceito da superfície plana (independente da posição em que esta se encontra), mas poderia muito bem ser uma contestação genial e bem-humorado da lei da gravidade. A performance é tão natural e intensa que em diversos momentos o espectador imagina que sair flutuando por aí é extremamente fácil.

A platéia fica o tempo todo sorridente, maravilhada, incrédula daquilo que assiste. Vez ou outra, entre as risadas de todos, uma risada de criança, e eu ficava me perguntando o porquê de não haver mais crianças assistindo àquilo. Afinal, para elas que são educadas (ou moldadas ) para se tornarem líderes, executivos, milionários e vencedores (assim como os personagens apresentados), seria fantástico crescer sabendo que, quando quiserem, também é possível flutuar.

Depois de pouco mais de uma hora de apresentação, e de aplaudir muito, todo mundo se levanta das cadeiras e se dirige à saída do teatro, ao estacionamento ou à rua frustrado com a entediante obrigação física de caminhar com os pés no chão. E no dia seguinte é impossível não pensar em quão sem-graça são as roupas de trabalho (não me refiro só aos ternos) e tudo o que se refere a elas quando não são usadas de forma extraordinária como fazem os franceses da Cie 111.

1000 pessoas aplaudindo em pé

'21 comentários para “Plan B”'
  1. Carolina disse:

    Nossa, é degradante ler o que você escreve. Desde quando a arte se resume ao que vc não consegue fazer?
    Além do mais, milhões de pessoas já fizeram espetáculo como esse, como vc se atreve a escrever sem ter uma única referências.
    Hohe em dia, qualquer um mesmo pode escrever sobre teatro! Muita ignorância!

  2. Ana Patrícia disse:

    Concordo com a Carolina.
    Plan B é uma das piores coisas que já (na verdade vejo desde a década de 80). Burrice….

  3. Anonymous disse:

    Carolina e Ana Patrícia (se é que vocês não são a mesma pessoa, inaugurando uma modalidade nova de comentário anônimo, o anônimo-esquizofrênico),

    Sobre o espetáculo, não vi em lugar nenhum dizendo que a arte se resume ao que não se consegue fazer. Mas sim, achei o que a Cie 111 faz muito bacana, seja inédito ou não. Aliás, realmente é ingênuo demais achar que aquilo é inédito – o que não anula necessariamente a qualidade do trabalho corporal. Mas quando você(s) dizem que não temos referência, também não está(ão) erradas, estamos realmente buscando por novas (ou antigas) referências, e inclusive pedimos que você(s) nos indique(m). Quem sabe da próxima vez não acertamos na hora de falar do próximo espetáculo como esse? Mas por enquanto, a opinião permanece.

    Concordamos também em outro ponto: hoje em dia qualquer um pode escrever sobre teatro, até mesmo nós da Bacante. Se somos ignorantes e burros como você(s) diz(em), sugiro arrumar algo mais inteligente e menos degradante pra fazer do que trazer argumentos tão ou mais vazios do que nossos textos, que tal? Tá cheio de gente escrevendo bem por aí.

    Mas olha só que bacana, estes são os primeiros comentários reclamando de algo que nós falamos bem, os outros anônimos só reclamam quando falamos mal daquilo que eles gostam. Acho que isso é um bom sinal…

    Bitocas,
    Anônimo.

  4. Paulo disse:

    Eu não sei quem é esse anônimo aí, nem Carolina nem Ana Patrícia, mas realmente concordo com as meninas quando elas dizem sobre Plan B.
    É muito complicado escrever sobre teatro e sobre festivais importantes sem ter conhecimento do que já feito antes, enaltecendo grupos que repetem padrões e não dialogam com a contemporâneidade.
    Nessa, a revista realmente pecou. Plan B é muito ruim, muito entretenimento e pouca arte.

    Abraço a todos,
    Paulo

  5. Paulo disse:

    Esqueci de dizer, que se vocês querem alguma referência sobre teatro contemporâneo, podem procurar saber mais sobre o grupo françês Theatre du Radeau, por exemplo. Ou assistir vídeos do Tadeus Kantor ou Kazuo Ohno.
    Realmente não é possível que sejam colocadas meras opiniões pessoais na revista. O público aplaudir em pé realmente não é um problema, mas esperar isso de uma revista especializada, é muito pouco.
    Mas, de jeito nenhum quero ofender. Apenas desejo que a revista de especialize mesmo com a situação do teatro atual.
    Paulo

  6. Anonymous disse:

    Olha só como quando a pessoa tá afim de dialogar as coisas mudam…

    Valeu pelas indicações, Paulo. Por enquanto a opinião permanece, até que nos convençamos do contrário. Não por teimosia, mas por coerência mesmo, sacou?

    Agora quanto ao fato de não ser possível ter meras opiniões pessoais na revista, bem… isso é basicamente o que há em todos os textos!

    Abraços,
    Anônimo

    PS: Esta semana só estamos respondendo aos comentários anonimamente, em respeito à Semana do Anônimo Feliz.

  7. Anonymous disse:

    Outra observação importantíssima que eu estava ignorando nessa discussão, e que é um elemento que não merece ser ignorado.

    Há algum tempo tenho observado uso do vídeo e da projeção no teatro, sobretudo quando o vídeo propõe novas formas de se encarar o palco, sobretudo o tradicional palco italiano.

    A brincadeira que eles fazem com o vídeo no instante em que a superfície está na horizontal permite uma quebra do conceito tradicional do chão e da parede do fundo do palco, e mais que isso, oferece novas possibilidades de concepção cênica com essa sobreposição de imagens.

    Até então, a experiência mais bacana de uso de vídeo que eu havia visto era a proposta por Frank Castorf, que escondia cenas inteiras do público. Este espetáculo vai além, conferindo um novo significado a elementos cênicos quando vistos de outro ângulo.

    A câmera ganha um papel de criar uma nova significação para tudo aquilo que eles utilizam em cena, criando uma sobreposição sensacional de pelo menos três imagens (os atores/elementos, a projeção destes atores e elementos e o universo projetado).

    Independente da originalidade do espetáculo em si, já questionada pela galera, esta utilização da linguagem do vídeo em função da proposta cênica já vale pelo menos umas quinhentas pessoas aplaudindo de pé.

    Abraços,
    Anônimo.

  8. paulo disse:

    Eu concordo que a cia. executa muito bem o que ela se propõe a fazer, mas isso é muito pouco se tratando de arte! Como entretenimento, super vale a pena ver os atores e claro que não ignoro as habilidades dos meninos.
    Mas, o que eu queria que você percebesse é que o espetáculo não condiz artisticamente com o nosso tempo, em que outras questões (que dizem respeito a estados e impermanências do corpo e da fala) estão sendo discutidas por artistas no mundo inteiro! E em todas as áreas, desde as artes plásticas até a música, a dança enfim.
    Eu queria até te perguntar se você já assistiu o Momix. O Momix tem uma linguagem muitíssimo parecida com a cia do Plan B, só que é muito mais arrebatador, virtuoso e deslumbrante do que o Plan B. Estou falando isso mas nem gosto do Momix. É só pra vc ter idéia de muitas outras pessoas fazem esse tipo de espetáculo. E é exatamente por isso que não podemos enaltecer o Plan B! Mesmo dentro da linguagem que vc gostou é pouco! Dizer que eles executam bem, tudo bem! Mas considerar o espetáculo incrível, a melhor coisa do festival, é até feio!
    Enfim, continuamos nosso diálogo.
    Abraço!!!!

  9. Anonymous disse:

    Chonheço o Momix sim (inclusive, eles estarão em SP novamente logo mais), e realmente eles possuem um formato que se aproxima bastante do Plan B. Bem lembrado.

    Mas enfim, tenho menos referencial para falar criticamente do Momix, até por ali haver uma linguagem de dança mais evidente do que os demais elementos (em Plan B o que se evidencia é a linguagem circense), e de dança eu realmente não posso falar.

    Quanto ao “melhor do festival”, quem está dizendo isso é você, hehehe. Tanto que eu nem o vi no festival, e tampouco estive em Rio Preto (pronto, denunciei qual anônimo eu sou, saco).

    Abraços,
    Anônimo

  10. carolina disse:

    opa! como vc escreve sobre algo que não viu????
    não entendi!

  11. Anonymous disse:

    Ai meu pai…

    Carolina, cê num entendeu mesmo. Lógico que eu vi o espetáculo, só não foi no FIT. Ainda não aprendi a escrever sobre as coisas por dedução.

    Anônimo.

  12. carolina disse:

    ah, mais uma coisa, é evidente que que Momix é também circo novo.

    procura na internet

    não sei como esse paulo aguenta teu papo furado

  13. Anonymous disse:

    É Carolina, Momix tem influências do circo novo sim, mas é essencialmente dança. Não entendi onde você quer chegar, mas tudo bem.

    Quanto ao Paulo, sabe que eu também não sei como ele tá aturando? Sério. Porque realmente é bem chato ficar lendo alguns comentários furados que num levam a lugar nenhum. Como esse seu. E o meu em resposta, também.

    Preciso começar a me policiar.

    Beijos,
    Anônimo.

  14. carolina disse:

    eu quero que você pense anônimo, pense! só!

  15. Anonymous disse:

    hahahahahahahahahahahahahaahah

    Anônimo.

  16. carolina disse:

    se engasgou?

  17. Luciana Romagnolli disse:

    Tenho recebido uns comentários semelhantes no jornal onde trabalho (depois comento com vocês). A conclusão a que cheguei é de que só existe uma coisa que irrita mais uma minoria (espero) da classe teatral do que não escrevermos sobre teatro. É escrevermos sobre teatro.

    “Realmente não é possível que sejam colocadas meras opiniões pessoais na revista. ” Já foi dito, mas cabe repetir… TODAS AS OPINIÕES SÃO NECESSARIAMENTE PESSOAIS. E isso é bastante óbvio, não?

    Abraços!

  18. Anonymous disse:

    Ganhei um ingresso para Plan B, de um amigo editor de uma revista de teatro. Cheguei 3 minutos atrasado, sem saber direito porque tinha corrido por dois quarteirões, depois de 40 minutos de ônibus para ver algo que eu não tinha referencia nenhuma.

    Cheguei e meu lugar já estava tomado por algum desses ratos de espetáculo, fui obrigado assim a sentar na primeira fileira onde havia um lugar central e vazio. Muito satisfeito com meu lugar privilegiado comecei a me irritar com algumas risadas que surgiam logo no inicio do espetáculo, quando para mim a critica ao ser humano pós-moderno ainda era muito dolorosa. Sem perceber, percebi que involuntariamente eu sorria, encantado. Desapeguei das defesas com a comedia e me diverti o quanto eu pude.

    Falar de arte vai ser sempre subjetivo, e se me perguntarem se eu senti falta de arte em Plan B, não. Sai encantado com o espetáculo, inspirado, motivado e com um sorrisinho no rosto.

    Ah, que bom às vezes é não ter referencias, pré-conceitos e nem a obrigação de abstrair o sentido da vida de um espetáculo singelo e bonito. O teatro nasceu para entreter, o circo então nem se fala. Sem esquecer que no palco eram 4 clowns, e a ausência de máscara não garante a ausência de deboche. Traduzam toda essa discussão para francês e mande para eles, e vocês terão 4 palhaços felizes.

    Bacantes continuem assim, no final das contas existem pessoais como eu que se interessam muito pela opinião dos outros, não para mudar ou formar a sua própria, mas sim perceber como a mesma coisa afeta e emociona de maneira diferente em pessoas diferentes.

    Como pede a revista, escrevo hoje como…

  19. Anonymous disse:

    Então a arte segue uma linha evolutiva em que, a partir de uma coisa nova, todas as outras ficam velhas? Que visão de mundo pobre. Quando um artista inaugura uma técnica ou explora uma visualidade, os outros têm que pagar royalties? Todo o resto é pastiche?
    A grande narrativa da arte (moderna), que pressupõe uma cronologia e uma evolução, teve seu fim lá pelos anos 60… A arte contemporânea passa longe dos conceitos de novidade e ineditismo. Os critérios – diga-se de passagem – são, principalmente, pessoais.
    Vamos colocar de outro modo: a primeira vez para uma pessoa ou a primeira vez em um lugar não deixa de ter impacto porque outras pessoas já vivenciaram uma primeira vez similar em outros lugares.
    E não somente a opinião é pessoal, mas a experiência estética também. E a beleza da crítica está no compartilhamento desta experiência estética, de qualquer um para qualquer um, não de um especializado para outro especializado que se contentam em gozar com o pau dos outros.
    Abraços bacantes para o qualquer um!
    Anônima feliz

  20. Anonymous disse:

    É pessoal (Luciana, anônimo e anônima feliz), não engasguei e tô com vocês…

    Abraços,
    Anônimo.

  21. Maria Eduarda disse:

    Eu tbém estou com a revista Bacante. Nem acho o Plan B um bom trabalho mas admiro o respeito e a seriedade da revista com o público, com os artistas e com os leitores. Espero que seja sempre assim. Não concordo com o deboche da Luciana quando ela fala das “meras opiniões pessoais” porque apesar, obviamente,de concordar que as opiniões sempre são pessoais, eu acho difícil que uma pessoa sem referenciais sobre um assunto possa escrever dignamente sobre um assunto. Acho um pensamento imprudente e até adolescente. Desculpe a irritação momentânea (ossos do ofício, sou professora de literatura).Mas em nenhum momento acho que a revista Bacante faz isso, pelo contrário, vcs estão de parabéns pela seriedade.
    Dou nota 10 para a Anônima Feliz porque percebo as referências dela no texto sobre a arte. Arrasou mesmo! Dou nota 10 tbém para o anônimo, que precisa ficar agüentando os babacas que não sabem conversar.
    Sou admiradora de teatro e das artes e adorei quando um amigo me apresentou a revista. Espero que vcs continuem fofos assim!

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