Por Elise
A vida cotidiana, seus cachorros e abacates
Foto: Divulgação
O abacate (Persea americana) é um fruto de alto teor calórico, nativo do continente americano. Quando maduro, o abacate atinge de 15 a 20 centÃmetros de comprimento e pode chegar a pesar até 1,5 kg. Aos trinta anos, o tronco do abacateiro, árvore que dá origem ao abacate, pode atingir um metro de diâmetro e 20 metros de altura. Por isso, adverte Grace Passô, atriz, dramaturga, diretora e mulher de infância traumatizada com o convÃvio com abacateiros: “Cuidado com o que você planta”.
Por Elise tem inÃcio com uma dança, seguida de uma cena muda incompreensÃvel até aquele momento. Então entra Grace, no canto esquerdo. Ela vem contar histórias. Suas falas são interrompidas por abacates que caem sem aviso (até porque não é do feitio dos abacates avisar alguma coisa). Tudo que menos se esperava naquele momento eram histórias, por mais que tivessem sido anunciadas. De fato, por um bom tempo do espetáculo, somos levados a imaginar que aqueles personagens que começam a se apresentar não estão no mesmo tempo e espaço. Mas logo, como anunciado no princÃpio, tudo se explica e a aparente desconexão torna-se uma forma de explicitar momentos ducaralho, sempre relacionados à vida cotidiana.
Dialogando – sobretudo em atuação – com o filme Eu, Você e Todos Nós, o espetáculo encontra formas de ser incompleto. Uma menina que precisa sacrificar o próprio cachorro. Um homem que recolhe cachorros e quer ir pro Japão. Um lixeiro que imagina estar correndo para o mar enquanto faz o seu trabalho. Uma senhora que vai revelar segredos da vida do lixeiro. Ok, aqui tá parecendo falas de trailer de filme de suspense. Mas é assim mesmo, tudo sem uma congruência, sem um “pra onde vão”. Eles simplesmente são e por isso merecem estar no palco. (Cuidado! Não tente isso em casa! Não é qualquer história em que o simples existir justifica a presença de personagens no palco).
Cenas de lirismo profundo (e por essa expressão não entenda que é uma serenata feita num submarino) são apresentadas sem explicitar uma técnica especÃfica. Como foi falado no dia seguinte à apresentação, em encontro no Espaço Parlapatões, um trabalho corporal intenso é feito para que sobre somente o necessário. A peça nos coloca a pergunta: o que traz toda aquela empatia para o espetáculo? São os próprios atores que imprimem caracterÃsticas muito pessoais na história? Os personagens, que trazem somente momentos memoráveis por mais que efêmeros? O jogo que se estabelece entre palco e platéia? Não há um ponto que aparecça mais e o todo surge como poesia, do inÃcio ao fim.
Por Elise foi parte do encontro Cabeça, Corpo e Membros, organizado pelos Parlapatões neste feriado mega prolongado e teve apresentação única no dia 18 de novembro. No entanto, o grupo Espanca!, de Belo Horizonte, deve entrar em cartaz com seu segundo espetáculo Amores Surdos, em algum espaço aqui de São Paulo nos próximos meses (conforme anunciado no debate). Trabalhos iniciais de grande resultado, como Por Elise, aumentam a responsabilidade para os próximos. O grupo sabe disso e relatou como “fiasco” a estréia do segundo espetáculo, nas palavras de Paulo Azevedo, ator que interpreta o coletor de cachorros. Mas estréia é uma merda mesmo, outros grupos que o digam. Mesmo assim, se a preocupação com a poética da cena continuar a mesma (e o número de abacates diminuir), já será motivo pra continuar acompanhando a trajetória do Espanca!
5 ou 6m de queda livre do abacate até o chão. Ou até a cabeça de algum ator.
Minha infância numa micro-cidade foi recheada de lixeiros correndo nas ruas, cachorros que latem quando a gente fala, abacates caindo no quintal, e “Por elise” tocando no caminhão de gás. Não imaginava que daà pudesse sair tanta poeia quanto saiu na fábula contemporânea do pessoal do “Espanca”.
Mostram com essa peça, que o velho “Less is more” funciona, e que teatro pode ser simples, mas nunca simplório.
Ainda não vi “Amores surdos”, mas o que escuto é que conseguem manter a qualidade poética do primeiro trabalho.
A Grasse Passô escreve uma coluna no jornal “O Tempo”, e quem se interessar é só acessar o http://www.otempo.com.br/otempo/colunas.
Ah, e foi bem jóia o encontro dos Parlapatões! Pena que no meio de tanta peça em sampa só pude conferir da mostra “O Prego na Testa”.
Algo que “Por Elise” não é, é ser simples.
“Simples”, lembra “fácil”. Remete aquela idéia de que “se eu tivesse pensado nisso antes”. E outras cositas mas.
Não vi simplicidade nenhuma nas concepções de figurino, personagens e dramaturgia.
Por Elise consegue ser intenso e fugaz.
É o mais perto do que ouço chamar de “teatro conteporâneo”, que já assisti.
Emiliano, seu cara de pau.
Passou pela roosevelt e não chamou pra tomar cerveja. Que isso não se repita.
Ventura, eu fiquei com uma impressão parecida com essa sua. Mas acho que se a gente pudesse falar de uma contemporaneidade, eu diria de ausência de história, de personagens bem definidos, de ação (a tal da pós-mudernidade, que no teatro se traduz de um monte de jeitos, mas aqui to citando o tal do teatro pós-dramático). Enfim, tudo em por elise aponta, creio, no inÃcio, pra isso. Mas depois se rearruma e passa a ser, em boa medida, uma história (composta por várias histórias e multicortada). Mas ainda prefiro a definiçñao da Adriana Colasanti pra esses nomes. “Eu tenho dois sobrinhos, o Roberto e o pós-Roberto”. Abração
Ah, FabrÃcio! A maratona teatral foi tão grande em sampa que nem tomei cerveja direito! Da próxima vez perco a timidez mineira e vamos tomar uma cerveja lá na roosevelt (putz, aquilo lá bomba!).
Ronaldo, quando digo simples, não digo simplório, que é o que lembraria fácil.
Mas sim, simples quase como mÃnimo (nem vou falar em minimalismo, porque acho que seria uma astúcia).
Parece que tudo foi construÃdo assim: temos um problema, então qual é a solução? Como o FabrÃcio disse: fazer sobrar somente o necessário!
Utilizam de elementos em voga no tal “teatro contemporâneo”, (projeção, gente fazendo bicho, e objetos caindo do teto) mas com uma delicadeza imensa. A projeção da frase: “eu vou cuidar do seu jardim” (acho q é essa a frase) é de uma grandeza poética imensa (sem a sofisticação do power point by Daniela Thomas e Hirsch), a partitura de cachorro do ator é meticulosa, e em vez de qualquer outro simbolismo complicado caindo do teto (pra intelectual sair buscando em sua memória o que aquilo ali tem a ver com suas últimas leituras)colocam abacates, frutinha tão corriqueira em minas.
Fazer o simples, é muito mais difÃcil! É bem complicado quando se tem que achar a essência das coisas.
Diferente de algumas coisas que vi nesse feriado, onde queriam ser tão pós-alguma coisa que caiam na tal complicação poética.
(O mais legal disso tudo é que é a primeira vez que vejo uma discussão sobre teatro por aqui – Bem, eu acho legal. – É legal, não é?)
(claro que corre o risco de ficar igual aqueles debates que começam bacanas e se tornam issonssos de algumas[?] comunidades do Orkut)
(Vamos marcar uma cerveja?)
A Tica Lemos falava algo assim:
“O complicado é fácil. DifÃcil é o simples.”
Eu nem tô na discussão, mas poso estar nessa cerveja aÃ? hehe…
Opa, to com a Juli… rs.
Quando a gente menos esperar, vai parecer estranho a gente tr pensado um dia na Grace Passô como uma menina negra que contava histórias e recebia abacates na cabeça. “Por Elise” é inesquecÃvel, mas é só o começo- apesar do desastre da segunda peça, que parece com a maldição do segundo dia. Olho nesses caras.
É verdade… A gente também vai lembrar do nome engraçado!
Por Elise figura no meuo TOP 3 de coisas mais absurdas que assiti esse ano. Foi no festival de Prudente, há um bom tempo e ainda lembro daquele vestido vermelho que corria de uma lado ao outro do palco. Ou do cachorro que só descobri embasbacado no meio da peça. Enfim, maravilhoso. Pago pau.
Cerveja! Precisamos marcar essa cerveja!
Que engraçado…Eu estava em Prudente, eu estava no debate dos Parlapatões…logo, os conheço de vista – e, agora, de teclado!
Por Elise me tocou profundamente. Amores Surdos me chacoalhou intensamente, me fez rir e chorar – ao mesmo tempo. Amei o grupo, a linguagem, e essa simplicidade difÃcil de encontrar.
[…] jornal cearense apoiador do festival, Angélica Feitosa, que relatou como foi a apresentação de Por Elise do Espanca no dia […]
[…] começou falando da confusão que se instalou quando após a estréia do primeiro espetáculo, Por Elise, as perguntas dos jornalistas se a obra era um processo colaborativo, que tipo de teatro era […]