Alternativo? – Ângela Dip e João Roncatto

Bate-Papos   |       |    1 de maio de 2007    |    0 comentários

Ângela Dip (atriz e dramaturga) e João Roncatto (ator e assessor de imprensa)

Entrevista concedida para o especial Alternativo?

A peça Barril é alternativa?

Ângela: É, é. Total. Barril é super-alternativo.

Por quê?

Ângela: Porque… porque não tem nenhum… porque custou super barato! (risos)

João: Se a gente for falar o que é alternativo por isso, com relação a dinheiro, então é totalmente alternativa.

Ângela: É super-alternativa nesse sentido.

João: As produções que estão rolando hoje e estão dando certo, por incrível que pareça, são as mais baratas.

Ângela: Eu acho que, pra fazer teatro, você não precisa mais do que um puta texto, me elogiei, e uma puta atuação, me elogiei de novo. (risos) Eu detesto cenário, por exemplo, ficar gastando uma puta grana só pra fazer cenário.

João: Acontece muito lá na praça Roosevelt, peças a qualquer hora. Meia noite, duas da manhã. O que ta acontecendo em São Paulo hoje, a minha geração não viu isso.

Ângela: A minha viu, de uma certa maneira, a gente tem vinte anos de diferença. Até quando eu tinha 25 anos, há vinte anos, tinha o Espaço Off, que era um pouco isso que tem a praça Roosevelt, tinha show às duas da manhã… Edson Cordeiro, a primeira vez que eu vi ele cantando na vida… ele cantava na rua, né? E ele foi se apresentar lá.

E era referência pra você?

Ângela: Era assim: olha esse menino como ele canta, ele vai se apresentar hoje aqui, às duas da manhã. Era um cara que cantava na rua que a gente jogava dinheiro (eu não, mas…) e aí era um espaço que você podia… assim, eu fazia teatro em Porto Alegre, mas foi onde eu pude começar a me apresentar, eu, a Grace, o Marcelo, … A Grace tá fazendo Terça Insana, que ta um puta sucesso. Era um lugarzinho super-pequeno, super-cult, tinha coisas que aconteciam fora do teatrinho, coisas dentro, às duas da manhã, nove, enfim… a Marisa Orth começou ali… um monte de gente começou ali.

Falando em vanguarda, nem da pra dizer que a Praça é vanguarda, então?

João e Ângela: Não existe mais vanguarda!

Ângela: Os gregos já inventaram tudo. Já existiam os performáticos dos anos, sei lá eu, 70. Ao surrealistas…

Você é alternativa a que? A que você faz questão de ser alternativa?

Eu já tive oportunidade de fazer outros trabalhos que tem alguma coisa que eu tenho que dizer que eu não gosto… apesar de eu ser atriz, é o personagem que tá falando e não eu, a atriz, mas tem umas coisas que eu acho que são deserviço a quem vai assistir. Aí, até hoje eu consegui não participar, o mais batido que eu fiz foi novela, talvez, sei lá, Estrela de fogo, Pérola Negra, que eu fiz personagens… sei lá, televisão é uma coisa nociva, então… Mas teatro, até hoje eu consegui… porque teatro é uma coisa que, tipo, é seu corpo, é sua voz, então, me dá alergia participar de certas coisas, eu evitei e até hoje eu consegui não fazer determinadas peças, assim, que eu acho preconceituosas. Tenho um pouco de vergonha de estar tirando o dinheiro deles pra tá fazendo certas coisas… mas assim, é uma coisa, eu, a artista Ângela, não tenho nada contra quem faz, tem um monte de gente que faz, que tá empregado. É legal que pelo menos é entretenimento. Vai lá, sai de casa, levanta, vai lá pro teatro, tal. E, depois, tá formando público pra um outro tipo de peça. Então, eu sou alternativa a isso aí.

Alternativo tem que ser cult?

João: Não. Hoje falaram isso. Cult, inclusive, é o nome da matéria da Mônica na Vejinha, é “Cult e Agitada”. Olha, acho que não tem que ser. Pra mim, alternativo é isso… é o lance dos horários, da facilidade de ver.

Ângela: E não ser o mainstream.

O Barril, por exemplo, é um espetáculo cult?

Ângela: Não sei…. não sei mesmo. Eu acho que o Barril é cult.

João: É cult, com certeza.

Ângela: Eu acho que também tem uma coisa, assim, quanto a ser alternativo: o cara inventa uma palhaçada, uma piada, uma coisa sem nenhum trabalho e vai lá e faz, só porque tá num espaço que é alternativo. Aí todo mundo tem que assistir e achar que aquilo é moderno, é cult, é alternativo. Acho que tudo, qualquer coisa tem que ter um trabalho. Então, às vezes acontece isso também, neguinho começa a fazer qualquer coisa, só porque não é conhecido ou é pobre… Também não tenho preconceito com coisa rica. Tem críticos que acham que só as coisas pobres é que valem a pena.

J: O problema é o rótulo. Não é legal você rotular, porque você tá excluindo. E, na classe artística, rolar isso? Pô, que feio… Então, não é legal rótulo.

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