Alternativo? – Pedro Martins
Pedro Martins (ator do Grupo TUCAM)
Entrevista concedida para o especial Alternativo?
O que é teatro alternativo para você?
Eu colocaria nesta “categoria” todas as criações que não pensam em se encaixar no lado comercial da arte, que priorizam a pesquisa para sua concepção, que misturam gêneros, linguagens, estéticas…. Que se apresentam em espaços alternativos, não por que isso esteja na moda, mas por que precisam agregar esta informação ao discurso de seu trabalho. Creio que o teatro alternativo está experimentando uma outra relação com o público, diferente do fazer gostar ou entreter, e por este motivo muitas vezes se reduz o número de espectadores, se aproxima a platéia e até integra esta ao evento. Se eu tivesse que restringir meu texto sobre o que é o Teatro Alternativo eu diria que é o Teatro que provoca, que se importa e que mistura despudoradamente.
Você vê teatro alternativo pelo Brasil (em BrasÃlia ou aqui em São Paulo)? Que grupo ou companhia você conhece que está inserido no teatro alternativo?
BrasÃlia tem poucos grupos estáveis de teatro, mas existem pessoas que fazem montagens alternativas ou peças alternativas. Mas isso não restringe a totalidade das obras destas pessoas. Posso citar Hugo Rodas pelo discurso e encenação e utilização de espaços outros em suas peças, Adriano e Fernando Guimarães pela majestosa relação e interação com as artes plásticas e por isso muitas vezes convidados com suas obras a se apresentar em salões de artes plásticas. Diego Bressani e o grupo A Muleta com sua montagem de A história do Jardim Zoológico (peça de BrasÃlia que se apresentou recentemente pelo SESC SP) e que adapta a peça a espaços bem diferentes dos teatrais e coloca uma relação do realismo com o absurdo muito bem pontuada,
Sérgio Sartório, Artur Tadeu Curado e Raquel Mendes: um núcleo muito forte do teatro de BrasÃlia. Este grupo experimentou espaços bastante alternativos com sua peça Dois perdidos, recentemente rodou o Brasil pelo Palco Giretório com duas peças: Dois Perdidos e Dois de Paus. O Teatro Caleidoscópio, de André Amaro, se encaixa muito bem no termo alternativo, tanto pelas escolhas dos textos, como pela forte pesquisa presente em cada montagem. James Fensterseifer, que gosta de transformar contos literários em
peças teatrais. Suas escolhas pelos textos e a própria encenação me fazem colocá-lo nos alternativos. SÃlvia Davini e seu Teatro Acústico são, com certeza, uma vertente do
teatro alternativo, pela própria criação de uma linguagem diferente. Gostaria de ressaltar que quase toda a nova geração de teatro brasiliense vem das faculdades de teatro, tanto da Universidade de BrasÃlia, quanto da faculdade Dulcina de Moraes. Creio que essa vertente já chamada de Teatro Universitário (sem pejorativos) se integra muito bem no espaço do teatro alternativo, pois a pesquisa costuma estar em primeiro lugar, se aproveita e se incorpora a mistura de linguagens e técnicas e se apresenta em espaços diferenciados do teatro de entretenimento (por escolha e o por impossibilidade de escolha também).
Você considera que seu grupo está inserido no teatro alternativo? Por quê?
Creio que podemos estar inseridos no teatro alternativo, mas não levantamos essa bandeira. Para nós a pesquisa é muito importante, mas a recepção do público é mais importante ainda. Todas as misturas de linguagens que utilizamos, a escolha de uma dramaturgia autoral a mistura de estéticas, tudo que poderia nos colocar no conceito alternativo foi feito em função de um conceito e uma estética: a morte e a estética teatral. Nós não querÃamos fazer um trabalho realista, mas a peça tem momentos realistas.. nós não querÃamos fazer comédia, mas a peça tem vários momentos engraçados. Nós trocamos de personagens inúmeras vezes, dançamos, cantamos, brincamos. Tudo é jogo teatral, ou seja, fazemos teatro no sentido mais antigo do termo. Creio que informamos, divertimos e emocionamos, e esse é o nosso fazer teatral. Se para isso precisarmos inovar em algo…
Seu grupo tem algum apoio (fomento, patrocÃnio)? Se não, como vocês se viram para conseguir estrear uma peça?
Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo foi criada sem apoios financeiros, depois conseguimos um apoio do Fundo para Arte e Cultura do DF, via edital público, para uma temporada em BrasÃlia de quase dois meses, em 2005. Conseguimos, em 2006, um apoio da Caixa, via edital público para apresentar um final de semana em Curitiba. E quase todas as nossas apresentações foram em eventos e festivais que contam com algum tipo de patrocÃnio. Em 2007, fizemos uma temporada de 6 semanas no Centro Cultural São Paulo (23/03 a 29/04), sem apoio algum, totalmente por nossa conta e risco. E vamos fazer uma temporada de 10 semanas no Rio de Janeiro no Centro Cultural da Justiça Federal(03/08 a 07/10), sem apoio ou patrocÃnio até o momento. Nós tentamos nos organizar financeiramente e sempre guardar algo de um cachê ou de uma temporada para permitir o inÃcio ou a manutenção de outro projeto ou temporada. Ou seja, vivemos duros!
O que você acha?