Alternativo? – Rodolfo García Vázquez

Bate-Papos   |       |    1 de maio de 2007    |    0 comentários

Rodolfo García Vázquez (fundador e diretor do grupo Os Satyros)

Entrevista concedida para o especial Alternativo?

Como você define teatro alternativo?

Eu não costumo usar este termo, eu costumo pensar em “teatro vivo”, um teatro que não se apega a uma regra tradicional, que busca refazer os limites do teatro dentro das suas possibilidades na relação palco-platéia.

Por que e como ele se diferencia dos outros?

Porque existem espetáculos que ficam preocupados primeiro com a relação comercial, o resultado comercial; depois em ter uma fórmula de como agradar ou como divertir o espectador, mas sem fazê-o entrar em contato consigo mesmo de uma forma aprofundada; e terceiro porque esse tipo de teatro subestima o potencial de vida, de vitalidade que o teatro traz. Então, é nesse sentido que eu acho que existe outro teatro…

O “teatro vivo” é o teatro que os Satyros fazem?

Não sei, não. Não sei se é o que a gente faz, mas é o que a gente e muitas outras pessoas estamos tentando fazer no cenário teatral.

Quais pessoas você citaria além dos Satyros que estão tentando fazer “teatro vivo”?

Oficina, Vertigem, Latão, Paralapatões, Cemitério de Automóveis. Nossa, são tantos grupos…. É muita, muita gente fazendo isso.

Existe realmente uma concentração na Praça Roosevelt?

Existe, existe um pólo na praça Roosevelt, mas não acho que seja o único lugar.

Da pra fazer “teatro vivo”/ teatro alternativo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo ou isso desqualifica?

Eu acho que uma coisa é o retorno financeiro da arte, outra coisa é a arte, né? Existem espetáculos de teatro que dão muito mais dinheiro do que os espetáculos deste teatro de pesquisa, mas as montagens não trazem uma contribuição tão importante pro próprio desenvolvimento das artes cênicas no Brasil. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Como este teatro se diferencia de teatro experimental?

Olha, o experimental busca uma pesquisa de linguagem, está preocupado em experiências, em fazer experiências nos limites do teatro, na relação com o espectador. O teatro alternativo nem sempre busca essas experiências de linguagem, muitas vezes ele já tem uma maneira própria de ser produzido e ele tá se mantendo assim, nesta produção.

É quase como uma fórmula de fazer teatro alternativo que é reutilizada? Não se experimenta necessariamente uma coisa nova?

Eu acho que o teatro experimental, o sentido do teatro experimental tem mais a ver com a coisa de experimentar linguagem teatral e o teatro alternativo inclui isso também e inclui outros trabalhos que não estão preocupados, necessariamente, em fazer experiência, estão mais preocupados em expressar verdades dos artistas.

A mídia tem usado cada vez mais o termo alternativo, que você falou que evita. Existe algum uso errado? Você considera que o uso e muito banalizado?

Eu não me preocupo muito com isso, porque eu acho que, mutas vezes, a maneira como as pessoas usam as palavras é uma forma de também diminuir o tamanho das coisas, é uma forma de encaixar em categorias como se fossem caixotes, pequenas caixas, porque aí você evita se confrontar com o potencial subversivo e transformador que aquilo traz. Eu acho que muita gente tá preocupada com isso agora, porquê não sabe muito bem como definir o que estamos fazendo e o processo de transformação que está acontecendo na cena teatral de São Paulo.

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.