Alternativo? – Sérgio Roveri
Sérgio Roveri (jornalista e dramaturgo)
Entrevista concedida para o especial Alternativo?
O que é teatro alternativo para você? Alternativo a quê?
Há algum tempo que eu não acredito mais neste rótulo. Percebi que o que continua valendo, ainda, é a definição mais elementar que o teatro pode ter: ou ele é bom ou é ruim. Não existe isso de alternativo e mainstream. Posso falar isso com a segurança de, no momento, circular por estes pretensos dois mundos. Andaime, de minha autoria, está no Teatro Vivo, enquanto que Abre as Asas Sobre Nós, peça que me rendeu o prêmio Shell de melhor autor, e A Noite do Aquário podem ser vistas no circuito da Praça Roosevelt. Os três espetáculo foram feitos com o mesmo carinho, o mesmo empenho e a mesma dedicação por parte de todos os profissionais envolvidos. O que muda, então? O endereço e o valor do ingresso. Acho que isso não é justificativa para alegar que Abre as Asas e A Noite do Aquário sejam alternativos, enquanto que Andaime seja mainstream ou oficial. Eu acho que são rótulos que a imprensa criou para mapear a produção cultural da cidade, geográfica e economicamente, mas não é uma denominação que deva traduzir a qualidade do espetáculo em si. Classificar um espetáculo de alternativo é como justificar uma possÃvel ou provável falta de qualidade ou apuro técnico. E isso, seguramente, não é o endereço ou o horário de exibição que determina.
Você vê teatro alternativo em São Paulo? Que grupo ou companhia você conhece que está inserido no teatro alternativo?
Acredito que, até pouco tempo, o grupo Satyros era o principal sinônimo do dito teatro alternativo que se fazia em São Paulo. Mas, veja: nos últimos anos, eles foram contemplados com vários prêmios de incentivo, excursionam pelo Brasil e pela Europa, são referência na produção teatral da cidade e transformaram a Praça Roosevelt num pólo de produção cultural, onde as filas começam à s 18h e não terminam antes da meia-noite. Então, como dizer que um grupo como eles é alternativo? Eu tento acompanhar a programação teatral da cidade como um todo, desde os grandes espetáculos no Cultura ArtÃstica e Teatro Alfa até produções de muito, muitÃssimo menor divulgação e alcance, realizadas em porões no bairro da Bela Vista. Vou aos dois tipos de espetáculo com o mesmo interesse, movido pelo tema e pelo trabalho de pesquisa da companhia. Repito: o que muda é o endereço, a quantidade de público na platéia e o valor do ingresso. Se os espetáculos são bons, eles são bons para 6 ou mil e duzentas pessoas na platéia. E, na essência, quando o resultado é bom, ele supera os rótulos. E quando não é bom também.
Você costuma usar o termo “alternativo” para designar movimentos ou grupos em outras manifestações artÃsticas?
Não mais. Confesso que é uma maneira fácil de classificar os espetáculos e quando eu atuava somente como jornalista empregava esta palavra para designar os espetáculos de produção mais barata e apresentados em horários pouco convencionais ou em endereços insólitos. Veja bem: eu não tenho nada contra o termo e acho que, para ser sincero, ser chamado de alternativo hoje virou cult, é sinônimo de algo novo, provocador e visionário. O grande problema você levantou na primeira questão: alternativo a quê? Quando você diz que algo é alternativo, supõe-se que exista uma opção mais titular, mais oficial. E acho difÃcil usar isso nas artes. Prefiro usar alternativo em rotas de trânsito, quando ouço o rádio e o locutor diz: ouvintes, procurem um caminho alternativo, a 23 de maio está congestionada! Qual a lição que se tira disso? Que o caminho legal seria a 23 de Maio. Mas, na impossibilidade desta, vamos procurar outras saÃdas. Mas no teatro, espero, a coisa não funciona assim.
O que você acha?