Próximo Ato 2009 – Dois últimos dias: Livres de Teatro
Foto: MaurÃcio Alcântara
Os dois últimos dias do Próximo Ato foram marcados, sobretudo, pelo debate polÃtico entre os grupos. E, por outro lado, pela ilustre presença de Hans-Thies Lehmann pelejando com Nicolas Bourriaud, Paulo Arantes e com sua taça de vinho.
As discussões entre os grupos tiveram inÃcio na sessão do Espaço Aberto ocorrida nas sedes do Teatro da Vertigem e do Teatro de Narradores. Os temas foram muito diversos, desde: ‘Como utilizar a crise de convivência interna a favor do crescimento do grupo’ até a necessária pergunta: ‘Pra que serve o sindicato dos artistas?’, passando por controversos debates como o ‘Teatro polÃtico, modos de produção e polÃticas públicas’. As discussões foram intensas (pelo menos no grupo em que escolhi participar) e era nÃtida a dedicação das pessoas em superar o “lugar-comum†onde facilmente caem tais temas. No debate sobre polÃticas públicas e teatro polÃtico as falas enveredaram por aspectos conceituas e filosóficos da questão com uma profundidade impressionante, o que denota uma inegável evolução no pensamento sobre arte e cultura dos grupos de teatro. Principalmente no que diz respeito ao reconhecimento histórico dessa forma de produção de arte: a compreensão sobre o lugar (ou o “não-lugarâ€), marginal/periférico/contraponto, em que esse movimento encontra-se.
Na manhã ensolarada de sábado a discussão continuou só que agora em forma de plenária. Depois da relatoria de cada discussão da véspera todos os grupos reunidos num casarão da Vila Maria Zélia (sede do Grupo XIX de Teatro) passaram a discutir justamente o que havia ali de convergência polÃtica (cuja ausência foi bastante sentida na intervenção de quinta – leia aqui). As falas foram muito interessantes, vivas e enfáticas.
E, a despeito das deliberações, o momento mostrou-se de uma riqueza fora do comum. Um potencial incrÃvel de organização polÃtica, reconhecimento histórico, força coletiva na produção de “contraponto†etc. Obviamente, todas as dificuldades de organização de movimentos sociais em assembléias estavam ali presentes, o que não invalida de forma alguma o nÃvel polÃtico de debate alcançado.
Como ponto a ser destacado, devemos citar a auto-nomeação daquele encontro como: Conferência Livre de Teatro (garantindo certa independência do evento a que estávamos vinculados: o Próximo Ato do Itaú Cultural)
Outra deliberação a ser destacada é o esforço dos grupos ali presentes em promoverem condições para a organização de um encontro brasileiro de teatro de grupos. (Tendo em vista o término do evento Próximo Ato, promovido pelo Itaú Cultural, e sua transformação no Programa Rumos Teatro). Tal decisão aponta para um inÃcio de reorganização mais do que necessária do movimento de teatro de grupo no Brasil – e se o Próximo Ato desse ano proporcionou tal fato só por isso deve ser comemorado.
A dificuldade do diálogo se dá, todavia, no abismo entre as particularidades produtivas das regiões. Principalmente entre a região Norte e o resto do Brasil (fundamentalmente devido à s problemáticas do chamado “custo amazônico†e a luta dos grupos da região em inserir essa pauta como nacional e não “especificidade regionalâ€). No entanto, mesmo sobre essa questão espinhosa e de difÃcil acordo, enxergamos importante evolução.
Resta aguardar (e torcer) para que a motivação existente ali se dissemine ao longo do próximo ano e que a organização consiga de fato ampliar-se e criar condições de um debate frequente e programático sobre as principais questões que afligem a arte dentro dos modos de produção capitalista.
Observação: outros temas do Espaço Aberto de sexta-feira foram: “Como circular teatro brasileiro no Brasil?â€; “Direção e criação em grupoâ€; “Como estabelecer uma polÃtica de estabilidade para o teatro brasileiroâ€; “Como estabelecer uma rede de comunicação entre os grupos?â€; “Como o Próximo Ato pode influenciar na Conferência Nacional de Cultura?â€; “Sabemos produzir mas não sabemos assistirâ€.
O que você acha?