Fábulas

Críticas   |       |    12 de novembro de 2007    |    0 comentários

O crítico de teatro infantil não lava o pé…


Foto: www.clowns.com.br

Quando pequeno, meu pai não me levava no circo. Cresci sem essa lembrança então acho que não fui ou fui cedo demais, daí que não lembro. Eu não era muito fácil nessa idade, então considero que meus pais tenham feito um bem pros atores. No teatro, o primeiro espetáculo infantil que assisti, foi levando minha sobrinha há pouco mais de um ano. Lembro de um longo diálogo em Proibido para Menores, no qual os Parlapatões avacalhavam com a figura do crítico de teatro infantil. É um negócio meio de outro mundo mesmo essa história de ir ao teatro infantil sem crianças. Talvez por isso os Clowns de Shakespeare tenham se preocupado tanto em dialogar com adultos e crianças no espetáculo Fábulas.

Angústia de três integrantes em especial, Fábulas é uma vontade antiga de Rogério Ferraz e foi parte do TCC de Nara Kelly. Seleção de histórias de Esopo e La Fontaine feita por Monteiro Lobato, a peça não tem personagens humanos. A bicharada toda aparece, mas sem zoofilia, seu depravado! E vêm com soluções super simples de cenário e figurino.

Nara Kelly interpreta o camaleão-vai-com-as-outras, além de vários outros bichos, na primeira história, e surpreende com um corpo totalmente adaptado ao universo de Fábulas (lembrando que é a mesma atriz que horas depois vai interpretar Hero, em Muito Barulho por Quase Nada). Complementa o universo do seu personagem com guarda-chuvas multicores, uma das soluções simples encontradas no processo de montagem. Rogério Ferraz toma então o centro do palco para desconstruir seu rosto e corpo, e remodelá-lo na forma de uma onça dona do terreno. Essa, inclusive, é a história mais politicamente incorreta que já vi no teatro infantil, na qual a onça oferece um boi a quem resolver o seu problema, e o coelho ganha, e comemoram todos da floresta com um churrasco!!! Marco França, diretor musical do espetáculo, é o terceiro ator no palco e será o “perseguido” pelos companheiros ao contar sua história do porco, que depois vira gavião que voa alto, e depois voa baixo. Tudo ao gosto dos outros dois atores, que nesta hora estão na platéia.

Aliás, interação não falta. Não foram poucas as vezes em que o grupo incorporou as falas das crianças, nem foram escassas aquelas em que se juntaram à platéia. Eu, que cara de velho não tenho nenhuma, advirto que se lave os pés antes de levar as crianças para essa peça. Não é nenhum Zé Celso, mas sobra interação pros adultos também. Interação com os pés, sacou?

Num ritmo que não é nem lento demais pro adultos, nem rápido demais pras crianças, Fábulas demonstra que o ato de contar histórias sempre pode ser renovado e que fazer teatro infantil não é definir um público, mas trabalhar outros personagens e outras formas nos corpos. Um espetáculo para testar se o seu tigre é de pelúcia, ou se você consegue mantê-lo vivo, ali, sempre ao lado.

4 pais rindo tal e qual crianças

PS: Tira do Calvin retirada do blog do Inagaki e, claro, ele tirou de outro lugar. Eu, no seu lugar ia lá conferir.

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