O Homem Provisório

Críticas   |       |    7 de maio de 2007    |    8 comentários

Jamanta, Riobaldo e Diadorim

Você já ouviu falar de Cacá Carvalho? Segundo a Wikipédia, ele interpretou o Jamanta na novela Torre de Babel e o mesmo personagem em Belíssima – mais nada. Para a maioria das pessoas, essa informação é mais que suficiente (afinal o trabalho de um ator se mede pela sua participação na tevê, não é mesmo minha gente?). Mas quem vai além da mediocridade televisiva sabe (ou precisa saber) que além do personagem Jamanta, o ator paraense é possivelmente um dos maiores nomes do teatro brasileiro contemporâneo.

Atualmente ele assina a direção do espetáculo O Homem Provisório, em cartaz no décimo primeiro andar da unidade provisória do SESC Avenida Paulista. A obra partiu de uma proposta de resgate dos personagens Riobaldo e Diadorim, do universo de Guimarães Rosa. A angústia de entender melhor essas figuras em seus espaços geográficos levou o diretor e seu elenco a um retiro artístico de um mês no sertão do Cariri.

Mais do que resgatar os jagunços, o grupo (ou será que a essa altura já não seria mais adequado chamá-los de bando?) deu de cara com a riqueza da cultura popular, da música local, da literatura de cordel, de Lampião e seu bando, das imagens do xilogravurista Nilo, do universo imortalizado por Glauber Rocha e suas Cabeças Cortadas. Além, claro, de toda a riqueza de detalhes, sentimentos e sentidos que apenas os artistas dispostos a uma imersão como essa conseguem definir.

Todas estas impressões se condensam em um espetáculo que incorpora, além de toda a riqueza e sonoridade dos cantos do sertão, uma dramaturgia baseada em 120 sonetos de cordel de Geraldo Alencar – grande parceiro de Patativa do Assaré – escritos especialmente para este projeto.

Uma imagem de divulgação que não faz jus à beleza do espetáculo.

Contudo, o que mais impressiona na montagem são as imagens: a cenografia não se utiliza de nada além de cortinas transparentes que, somadas à iluminação precisa e criativa e à entrega de todo o elenco, constroem com um belo teatro de sombras a atmosfera deslumbrante de um sertão que dificilmente sairá do imaginário do público.

Ao sair do teatro após uma hora de viagem ao mundo de Grande Sertão: Veredas, a platéia passa pelos oito atores que, assim como Cacá Carvalho faz ao receber o público, agradecem a todos, um a um, pela presença. Mas agora o espectador está sem reação: é o silêncio de uma digestão que poucos espetáculos em cartaz são capazes de estimular em suas platéias.

5 diabos no meio do redemoinho

Adendo: Este projeto é promovido por um órgão de cooperação internacional da região da Toscana. Afinal quem mais promoveria uma viagem tão rica e tão intensa às entranhas do sertão brasileiro se não fosse o governo italiano, não é verdade?

'8 comentários para “O Homem Provisório”'
  1. Anonymous disse:

    E ainda tem aquelas cabeças que até confundem a gente de tão perfeitas ….

  2. Maria Clara disse:

    e afinal, vocês incluíram o conteúdo sobre Cacá Carvalho lá na Wikipédia? Se vocês não fizerem isso, quem mais vai fazer!?

  3. Maurício Alcântara disse:

    Pois é… Mas nós, ou particularmente eu, não tenho tanto referencial assim para o trabalho do ator, para atualizar com competência. Na tentativa de reparar uma injustiça eu certamente cometeria uma outra injustiça, falando apenas sobre o muito pouco que conheço…

  4. célia musilli disse:

    Vou assistir ao espetáculo dentro da programação do Festival Internacional de Londrina (FILO). Desde já, conhecendo a competência de Cacá Carvalho e de tudo o que cerca seu trabalho, sei que será, sem dúvida, um dos grandes espetáculos do evento. Um abço.

  5. Polyana disse:

    Bom eu particulamente tive o previlégio de conhece-lo.Sou de Assaré filha de Geraldo Alencar, o autor do texto O homem Provisório,assisti o teatro e asimplismente adorei.

    Um abraço!!!

  6. Polyana disse:

    Bom eu particulamente tive o previlégio de conhece-lo.Sou de Assaré filha de Geraldo Alencar, o autor do texto O homem Provisório,assisti o teatro e simplismente adorei.

    Um abraço!!!

  7. Polyana disse:

    Um dos sonetos do meu pai.Geraldo Alencar,que amo de paixão é:

    Meu coração

    Não sei por que meu coração padece
    Por coisas fora do seu próprio alcance na tentativa de fazer romance com quem romance fazer não merece.

    sem que me avise sempre me aparece
    com a surpresa de impossível lance,
    sem descansar não deixa que eu descanse,
    na busca inútil triste me entristece.

    meu coração você padece tanto!
    tanta quimera tanto desencanto
    e não se emenda pobre coração?
    não seja tolo deixe de aventura,
    todo esse intento,toda esta procura,
    são portadores da desilusão!

  8. Polyana disse:

    Um dos sonetos do meu pai.Geraldo Alencar,que amo de paixão é:

    Meu coração

    Não sei por que meu coração padece
    Por coisas fora do seu próprio alcance na tentativa de fazer romance com quem romance fazer não merece.

    sem que me avise sempre me aparece
    com a surpresa de impossível lance,
    sem descansar não deixa que eu descanse,
    na busca inútil triste me entristece.

    meu coração você padece tanto!
    tanta quimera tanto desencanto
    e não se emenda pobre coração?
    não seja tolo deixe de aventura,
    todo esse intento,toda esta procura,
    são portadores da desilusão!

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.