Aída

Críticas   |       |    18 de março de 2008    |    1 comentários

O Mundo Maravilhoso de Walt Disney

Foto: Divulgação
Essa semana temos duas críticas para a mesma peça – e acreditem, nem combinamos!
Leia também a crítica da Leca e do Maurício.

Foto divulgação

Noite de sexta-feira e eu me dirijo ao Cultura Artística para conferir o musical Aída. Sou um fã confesso de musicais e imagino que corro o risco de não assistir ao espetáculo por não ter comprado antecipadamente o meu ingresso e por chegar com apenas quinze minutos de antecedência. Chego ao Cultura Artística e estranho o fato de não ter filas e não ver ninguém comprando ingressos. Imagino que a sessão foi cancelada e que perdi minha viagem. Questiono a bilheteira e ela confirma que haverá espetáculo normalmente. Ao pedir uma meia entrada eu recebo a informação que o preço é R$ 75,00. Não, ela deve ter entendido errado, eu só queria uma meia entrada!! Quando ela responde que o preço da meia realmente é R$ 75,00, eu fico tentado a perguntar se existe a opção de pagamento em 5 vezes no boleto. Estendo a mão com o cartão de crédito entre meus dedos e a moça da bilheteria tem que fazer certa força para tirá-lo de mim. Dou uma nova olhada ao meu redor e entendo porque não tem ninguém comprando ingresso para Aída.

Com dor na consciência e um pouco mais pobre, me dirijo ao botequim em frente ao teatro Cultura Artística para comer rapidamente alguma coisa. Peço uma coxinha, uma esfiha e um refrigerante e o gasto total foi de R$ 5,00. Enquanto como os salgadinhos, ainda me torturo com o preço do ingresso adquirido. Gastei R$ 75 no ingresso e R$ 5 nos salgadinhos, R$ 80 no total. Opa!! É isso!! Preciso apenas mudar a maneira como estou encarando as coisas. Entrando no espírito dos livros de auto-ajuda, repito diversas vezes que o meu gasto de R$ 80 incluiu o teatro e o jantar. Olho para a esfiha e penso em sofisticação, nomes de queijos franceses e mentalmente aumento o valor da esfiha de R$ 1,50 para R$ 20,00. Ao final dos salgados, eu estou bem mais aliviado… não é que essa coisa de auto-ajuda funciona? Bem alimentado e em paz com o meu bolso, eu entro no teatro e percebo que o número de espectadores vai ser realmente pequeno. Assim que ouvimos o terceiro sinal, todos mudam de lugar desesperadamente e volto a me torturar pensando que se tivesse comprado o ingresso da última fila, provavelmente estaria sentado no mesmo lugar em que estou agora, e o ingresso seria bem mais barato. Volto a lembrar que fui ao teatro e jantei iguarias francesas por R$ 80 e recupero um pouco da paz interior.

A peça começa num museu de arte egípcia. Três atrizes sobre praticáveis representam estátuas egípcias (difícil de acreditar, já que duas delas se mexem sem parar). De repente vários atores, interpretando turistas, entram no museu. Entre eles estão um homem e uma mulher que olham as estátuas, aproximam-se e olham-se demoradamente. Uma estátua começa a cantar e a ação muda para o Egito Antigo.

No Egito Antigo descobrimos que o homem e a mulher da primeira cena são Radamés, um capitão egípcio, e Aída, uma princesa rebelde que é capturada por Radamés e transformada em escrava. Ela fala alguma grosseria para ele, ele responde com outra grosseria e subitamente eles se apaixonam. Abro o programa da peça (pelo qual paguei R$ 20,00, elevando meu gasto total para R$ 100,00…) e descubro que o musical é uma produção da Disney. Agora tudo faz sentido…

O espetáculo é desigual. O figurino e a cenografia compõem belas imagens, com riqueza de detalhes e de cores (Disney, né?). Por outro lado, a história não se desenvolve minimamente, deixando muito difícil acreditar na motivação das personagens (Disney… Disney…) As coreografias lembram um espetáculo infantil (Disney!!! Disney!!! Disney!!!), o que me deixa com muita saudade de qualquer espetáculo com coreografia baseada no trabalho de Bob Fosse. Os melhores números sÃ¥o aqueles que abusam do humor, como um engraçado (e luxuoso) desfile de moda egípcio e o número “Roupa é o principal” em que a princesa Amnéris mostra, com muito humor, toda a sua futilidade. Impossível não rir e não lembrar de Patricinhas de Beverly Hills ou Legalmente Loira.

Em sua maioria, entretanto, as letras parecem não se encaixar de maneira harmônica nas canções e fica uma sensação de estranheza no ar. Somente após o término do espetáculo o público é apresentado à banda, um dos pontos altos do espetáculo, mas que ficou escondida durante todo o tempo e me fez acreditar que a música era cantada sobre uma base instrumental pré-gravada.

Saio do teatro feliz com algumas coisas e infeliz com outras. A única certeza é que, definitivamente, estou R$ 100,00 mais pobre.

2 salgadinhos que salvaram a noite

'1 comentário para “Aída”'
  1. Rodrigo disse:

    Vale lembrar que AIDA é apenas licenciado pela Disney. A produção precária é 100% nacional, com uma equipe de quinta categoria.

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