AÃda
Quando a cantoria não basta
Essa semana temos duas crÃticas para a mesma peça – e acreditem, nem combinamos!
Leia também a crÃtica do Marco Albuquerque.
Foto: David LaChapelle
Era uma vez um prÃncipe que se apaixonou por uma moça de uma cultura diferente – e por esse motivo, não puderam ficar juntos. Ele era compromissado e ela não podia decepcionar a famÃlia, mas o amor dos dois era tão grande que ultrapassou tudo isso e foi capaz de trazer a paz e a harmonia entre os dois povos. Se essa história se passasse no Vietnã, poderia ser Miss Saigon. Se fosse na Ãndia, seria Aladdin. Se fosse num castelo esquisito, seria A Bela e a Fera. Se fosse no oceano, seria A Pequena Sereia. Mas como é no Egito, é AÃda – a superprodução musical da Broadway. Mas como a ambientação é pobre e estereotipada, bastaria trocar os nomes dos personagens, os adereços e os cenários para que qualquer uma das histórias citadas funcionasse com o mesmo grau de convencimento.
O Brasil ainda é, tipassim, um bebezinho nestas produções. Em comparação com a “matriz” de Manhattan, aqui ainda são poucos os artistas que possuem o preparo para chupar cana, fazer teatro, dançar e cantar, tudo ao mesmo tempo. Além deste preparo, é preciso estar disposto a fazer parte do showbusiness (que acaba sendo mais business do que show, embora para o público, por sua vez, interesse mais o show do que o próprio teatro). Megaproduções que, em vez de franquias, assumem o risco de subverter criativamente o formato que já funciona há décadas lá fora também não apareceram ainda – a predominância é do sentimento provinciano do “Broadway-wannabe”.
O fato é que já estava demorando pro vizinho da Kilt (puteiro de luxo, pros desavisados) entrar nessa festa – afinal seu palco é grande e seu público é endinheirado demais para ficar de fora. Se o Abril já segue com sua quinta megafranquia, o Alfa está com seu segundo espetáculo e apostando nos clássicos, e as casas de espetáculos não perdem a oportunidade para caçar nÃqueis com o que sobra pra elas, por que não o teatrão da Nestor Pestana? E foi pegando carona nesse moda que optou-se por trazer pela primeira vez para a América do Sul a adaptação da Disney para a ópera de mesmo nome de Giuseppe Verdi. E não basta ser Disney, é preciso dizer que é de Tim Rice e… Elton John! Que infelicidade…
Como não conhecemos a ópera, o mais sensato é nos atermos ao que vimos no palcão do Cultura ArtÃstica mesmo. O elenco demonstra talento e competência, e a tradução, bem… ela fez o que pôde. Acontece que o musical não ajuda: a narrativa é recheada de furos e a construção dos personagens é sofrÃvel. Um exemplo? A princesa egÃpcia que numa cena mostra-se uma fútil que só pensa em roupas e em sua aparência – no (pior) estilo High School Musical, de uma hora para outra torna-se a personagem mais sensata da história, capaz de tomar decisões para trazer a paz ao seu império. Ou ainda o mocinho, o prÃncipe guerreiro conquistador que, só de olhar pela primeira vez para AÃda, a escrava (que ele não sabe que é uma princesa do povo inimigo), se derrete todo e vira um bocó sem tamanho. E a “bocózice” é retribuÃda por AÃda. É o amor vencendo a escravidão, os preconceitos, ultrapassando todos os estereótipos rasos e, claro, todos os limites da cafonice. Tem coisas que só a Disney traz para você.
Sobre as músicas, são a clássica mistura Disney + Elton John + tradução para o português (o resultado da soma fica a seu critério, querido leitor). As coreografias são terrivelmente mal-elaboradas e descontextualizadas (era pra ser egÃpcio, contemporâneo, broadwayano ou só picareta mesmo?), e boa parte do espetáculo nos mostra os dois protagonistas parados no palco, um de frente para o outro, parados, cantando seus diálogos. Que é isso, minha gente? Tentativa de burlar a verborragia com cantoria? Safadinhos! Por melhores que sejam as vozes, não cola!
E ao final, bem maior do que o “amor que supera todos os desafios” (ai, que lindo), fica aquela pergunta clássica: Pra quê, deus do céu, por quê fazer uma versão brasileira de algo tão ruim? Com tantos musicais bons dando sopa pela Broadway, não existe uma resposta plausÃvel pra essa pergunta.
2 defuntinhos cantando eternamente no sarcófago
O brasileiro ainda não entendeu que conteúdo não precisa ser necessariamente algo entediante como uma aula de história daquela professora de 101 anos que mal se aguenta em pé.
Existem tantas possibilidades de unir o útil ao agradável… Criatividade não tem preço.
E não compreendo como a alta sociedade consome tanta inutilidade e ainda acha imundice quem tenta sobreviver fazendo algo muito mais criativo do que ir comprar seus ingressos pela internet.
Quem? O “brasileiro”? Qual?
esta virando um vÃcio
venho aqui sempre
Parabéns!
Edu, num espalha, mas a gente põe droga pras pessoas viciarem. Essa peça é um exemplo…
hahaha
Abraço!
AIDA, mesmo versão Disney e Elton John, poderia ser muito melhor. A versão 100% tupiniquim que está no palco do Cultura ArtÃstica (por poucos dias, graças a Deus) é a união do que há de pior no teatro musical de São Paulo. Produtoras incompetentes. Coreógrafo da Rede Globo. Uma comissão de cenógrafos sem visão de unidade. Atores vindos de reality shows e outros que cantavam no chuveiro até ontem. Versionistas que deveriam arranjar emprego em um açougueiro. Um diretor musical que já foi demitido de Sweet Charity pela incompetência e arrogância. E o diretor, que ainda não descobriu que não adianta apenas gostar de musicais para dirigir. Com tanta falta de talento, ele deveria continuar só na platéia. E olhe lá!
Rodrigo, valeu pelas informações. Só nos deixam com mais medo… hehehe…
Durante o espetáculo eu só pensava: “E esse foi o último palco onde Paulo Autran se apresentou…”.
Abraço!
adoooooooooooorooo!!!