Comunidad
Hermanos de saco, nada más
Fotos: MaurÃcio Alcântara

Comunidad são seis caras de terno cinza, garbosos, enfileirados, olhando pra platéia no proscênio. Eles não são nada, até que começam a se entreolhar. Tudo começa nessa mirada, sempre demonstrando o ridÃculo dos gestos humanos. A peça vai esquentando, já estamos soltando gargalhadas e, não fosse pelo palco italiano, talvez nem reparássemos que a coisa toda é um espetáculo, de tão simples que é.
Os seis praticamente não usam palavras, e isso é um ponto altÃssimo da adaptação. Esqueci de dizer no primeiro parágrafo, Comunidad também é um conto homônimo de Franz Kafka, de onde tudo começou. Neste conto, muito pouco se explica com palavras, por mais incrÃvel que possa parecer. No palco, quando um dos seis solta uma única palavra, a platéia vem abaixo. Não são exatamente palhaços, mas podemos dizer que há muitÃssimos paralelos com a montagem de Plan B, que esteve em cartaz no Sesc Pinheiros. Com a diferença que na montagem porteña o mÃnimo prevalece.
Em certo ponto, um dos seis é expulso da roda, pra não voltar mais. Ao tentar o retorno, é repudiado diversas vezes, sempre de uma maneira mais patética, o que reflete – no sentido de uma reflexão, e também no de uma reprodução – tanto [sobre] nossas ações cotidianas, quanto, vendo por um espectro mais amplo, [acerca d]a forma como grupos se organizam “corporativamente” em qualquer sociedade. Não há uma explicação para o grupo dos cinco não querer o sexto e isto é demonstrado no palco de todas as formas cômicas possÃveis.
Atingindo aquele ponto sublime, em que uma obra tem sentido desde a sua casca até a gema molinha, Comunidad se mostra, junto com EspÃa una Mujer Que se Mata, um dos mais bem resolvidos espetáculos que assisti no Porto Alegre em Cena. Ambos argentinos.
PS: Recomendo com veemência a leitura do conto curtÃssimo de Kafka que linko aqui, para compreender a genialidade do grupo argentino na hora de adaptar. Essa versão está em espanhol, mas se alguém souber do link de uma em português, não se acanhe nos comentários.

“desde a sua casca até a gema molinha”… o vc toma antes de escrever?
desculpa, não resisti.
É, vou ter que voltar com o Gardenal.
Linka nada 🙁
Dani, a metáfora do ovo só não supera a do bolo… vc lembra da do bolo? Vou procurar, depois coloco o link… era ótima! rssss
Má, vc não conseguiu abrir o link? Pra mim rolou…
Beijos..
Tive de ir pesquisar o texto para poder imaginar melhor a tal dinâmica do espetáculo,não resisti. Parece texto feito especialmente para inspirar “dramturgia”,génial.
Encontrei, em português, neste link: http://paginas.terra.com.br/arte/ecandido/mestre41.htm
beijos a todos!
Po, que legal, Deca. Complementando o texto. Na época, não encontrei em português.
Inspira uma dramaturgia, mas de cena, isso que acho demais da adaptação. Não há uma palavra. Mó vontade de ver mais coisas de Buenos Aires.
Valeu pelo comentário e pelo link.
Abração.
Ps: Quando você vai escrever pra gente?