DVD do Grupo Galpão

Críticas   |       |    21 de outubro de 2008    |    10 comentários

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Crítica do DVD do Grupo Galpão – Da brasília branca à carretona

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Esta crítica não foi contemplada com nenhuma bolsa ou lei de incentivo. E a Bacante não remunera colaboradores. (obs: a editoria mandou dizer – nos pitacos – que também não é remunerada)

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Pitacos:

Alessandra Perrechil (conceituais)
Juliene Codognotto (virgulais)
Fabrício Muriana (transcendentais)
Maurício Alcântara (gerais)

Prêmio AOCA e Revista Bacante
apresentam:

Da brasília branca à carretona

Uma produção OBiLPAL – Osanma Bin Laden Produções Artísticas Ltda.)

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João Pessoa, Paraíba, 2008

A compra

Encerra-se a apresentação de Pequenos Milagres no Paulo Pontes. Levo minha mulher pelo braço. “O que foi?”, pergunta ela, “Vamos esperar pelo aplauso não. Bora correr senão vão comprar o DVD do Romeu e Julieta no Globe'”. Quando chego, arfando ainda, digo: “Teuda, me dá um DVD”. Ela me entrega um. Faço uma cara com ação interna. Só a minha mulher percebe o Stanislavski ali. “O que foi?”, quer saber. “Nada não”, dissimulo. Mas, a mulher da gente (ou o homem) parece que tem um chip que… “Diz pra ela que você não quer esse e pega o dinheiro de volta”, ela propõe. Minto dizendo que queria aquele mesmo, mas pra uma média digo: “Teuda, o do Romeu e Julieta cês não têm mais não, né?” – “Tem não meu filho, a gente vai fazer o pedido. Esgotou”.

Minha mulher reclama. “Você não poderia conseguir com eles não, dizendo que era da imprensa?”. Falei que nem sempre funciona e não queria arriscar. “Era melhor você ter comprado uma camisa, então”, sugere. “Não ia dar. A camisa era R$ 30. O DVD R$ 20 e eu só tava com aquela nota”. Minha mulher, sempre atenta às finanças, “nossa, eles vendem tudo, né? E é caro!”.

O dvd

Com direção de Kika Lopes e André Amparo, o documentário Grupo Galpão constrói uma narrativa convencional, linear, cinemão mesmo. Toda estrutura vai sendo costurada por falas dos integrantes e ex-integrantes que discorrem sobre o início deles no grupo, como entraram e, assim, as vozes se entrecruzam reconstituindo a história, espetáculo atrás de espetáculo, cronologicamente.

A fotografia se dá ao luxo de inverter um signo. Ao invés do passado, colorido e estourado em super oito e VHS, o presente, no qual os atores prestam depoimentos posando pra câmera, é que é todo preto e branco. Impressiona o cuidado que o Galpão teve em registrar os espetáculos, parece que filmavam tudo. Não sei não, mas o Eduardo Moreira novinho é a cara do Samuel Rosa, do jeito que o Emilliano Freitas parece com o Elano, ex-Santos.

Há imagens de praticamente todas as peças do grupo. Desde E a Noiva não Quer Casar, que marca a inauguração do grupo. Todavia, o pontapé inicial aconteceu, um ano antes, quando uns alemães do Goethe Institute encontraram a turma que fundaria o grupo e com eles realizaram algumas oficinas. O resultado foi a montagem A Alma Boa de Setsuan, do Brecht. Depois disso, os gringos foram embora e o Eduardo procurou o pessoal e disse “vamos continuar, pessoal. Eu tenho uma mala com roupa do meu tio…”

Da brasília à carretona

Paulinho Polika, ex-ator e diretor do Galpão, diz que os espetáculos do grupo eram feitos com duas brasílias: a dele e a de Eduardo Moreira. “Outro dia passei por aí e vi uma carretona com o nome Grupo Galpão… E pensar que a gente começou (risos) com as brasílias. Levávamos o elenco dentro e o cenário e o figurino em cima”.

Foi a presença desse carro como elemento nas apresentações de rua que chamou atenção de Gabriel Villela. Ele procurou e disse: “quero dirigir um espetáculo de vocês”. Com a condição de que se mantivesse o carro. Foi daí que surgiu Romeu e Julieta. É uma pena que Gabriel Villela não apareça em nenhum momento do documentário pra contar como foi pra ele aquilo tudo. Talvez seja o único dos tantos diretores com quem o Galpão trabalhou que não dá as caras em todo o documentário. Não aparece nenhuma vezinha. Por que, hein?

Pelo que o documentário apresenta, o Galpão lembra muito a Penélope. Não a da MTV, mas a da Odisséia. Construindo e desconstruindo a idéia de uma imagem, uma cara. O teatro de rua, colorido e vivo, foi negado e reafirmado numa espécie de pêndulo em que sucesso e fracasso alternaram-se e cuja força propulsora pareceu ser o risco.

EXTRAS

1. Papo sobre a natureza dessa crítica no gtalk:

eu: me explica melhor, Muirak…
desculpa é q tem dias q eu fico meio travado

Fabricio: é assim

Eu: 🙂

Fabricio: não vale tanto falar do espetáculo
você não viu
os leitores não vão ver
vale colocar que pontos são relevantes desse registro histórico, que é o DVD

eu: ah tá…
entendi agora
ótimo
a crítica do documentário
então, como um todo

Fabricio: o quanto ele mostrou pra você o que você esperava e o que não esperava da peça
que é toda mítica
exato
mas aí tb tem que se pensar uma forma específica pra essa crítica
pq afinal é um outro meio

eu: sei…

2- Parceria do Grupo Galpão com a Petrobras

(*) todas as falas foram captadas da faixa homônima do DVD

“Foi um ano preparando o Grupo Galpão para Petrobras. Eu demorei um ano para levar o grupo. E quando isso aconteceu e… e… Foi de uma vez só e aí estamos aí com 6 anos de patrocínio”

Mauro Maya, assessor do patrocínio Petrobras

“Eu acho que o patrocínio da Petrobras é um patrocínio ideal, né? A Petrobras é uma empresa que ela te dá… Estabelece com você um diálogo que é um diálogo extremamente… te dá toda liberdade de trabalhar. Eu acho que é um patrocínio realmente que vê, vê longe, muito respeitoso com o artista com uma relação muito madura que ela estabeleceu, quer dizer, as duas partes estabeleceram entre si e estabeleceu bases excelentes que ambas as partes ganham muito com este patrocínio”

Eduardo Moreira, ex- sósia do Samuel Rosa

Adesivo com a marca do grupo, R$ 1,00; Camiseta 25 anos – Disponível nas cores preto e branco, R$ 25,00; Camiseta Elvira Matilde, R$ 50,00; Camiseta Martielo Toledo, R$ 30,00; Camiseta Pequenos Milagres, R$ 30,00; Camiseta Ronaldo Fraga, R$ 30,00; Camiseta Ronaldo Fraga – Romeu & Julieta, R$ 50,00; CD Trilhas sonoras – Romeu e Julieta e A Rua da Amargura, R$ 15,00; CD Trilhas sonoras – Um Molière Imaginário e Um Trem Chamado Desejo, R$ 15,00; CD Trilhas sonoras originais- O Inspetor Geral e Um Homem é Um Homem EM BREVE R$ 15,00; Coleção textos Galpão; R$ 15,00 (cada exemplar, são 7); DVD Documentário Grupo Galpão R$ 30,00; DVD Romeu & Julieta – Direção Geral do dvd: Paulo José R$ 30,00; Livro “Grupo Galpão 15 anos de risco e rito” R$ 35,00; Livro “Diários de Montagem” R$ 30,00; Livro O Palco e a Rua, R$ 35,00; Livro Pequenos Milagres e outras histórias R$ 15,00; Quebra-cabeça decorativo – Design Marcelo Alvarenga R$ 30,00 (Cores variadas). Ter toda a coleção da Loja do Galpão = R$ 620,00. Ver a Vanessa Redgrave dançando ao som da musiquinha do Romeu e Julieta, do Galpão, não tem preço. Para todas as outras coisas (que não são vendidas na loja do Galpão através de depósito bancário) existe a Petrobras.

'10 comentários para “DVD do Grupo Galpão”'
  1. Paulo disse:

    Hoje na aula de direção teatral, grande surpresa: vamos assistir o dvd do galpão, as partes do Romeu e Julieta no Globe.

    é emocionante não é?
    ver quanto eles eram pobrinhus e depois viajaram o mundo todo (16 países)! me lembrou todas as histórias de superação tipo Silvio Santos vendendo carnê do Baú de porta em porta, o menino de rua que virou trapezista (sei lá) do Circu soleil etc..

    E aí, a apoteose!
    chegam no Globe Theater.
    “Nós somos a primeira Cia. brasileira a nos apresentar aqui!”
    A câmera faz questão de focalizar a perplexidade dos gringos frente a “formalizada” estética mambenbe do grupo. É quase patético… “quase” não…
    Aí começa o barato.
    E nossa querida camêra (formada pelos grandes dramas de superação pessoal em Hollywood scholl Ltda.) passa a, incesantemente, focalizar a transformação facial dos gringos: de cara de merda, ao riso generalizado e aos aplausos delirantes. (me lembrei daqueles filmes de tribunal, que o cara vai lá sozinho se defender frente à corja e é tão bom na sua retórica da liberdade que convence a todos, e, no fim, arranca aplausos até do juiz!)

    E, inevitável, Final Feliz!!
    Os chefes do Globe exaltando a montagem, o público na saída tirando fotos, um muleque gordinhu diz “num entendi nada (a peça era em português sem legendas) mas adorei”, a Vanessa Redgrave falando “Oprigradu por isso meninos…”…

    Fogos de artifício.

    Sorte que somos brasileiros e nossa energia é Petrobrás, e que nossa Lei é Rouanet, pra manter viva essa essencial parte da cultura(!) popular(!) brasileira (!).
    É ou não é?

  2. Amanda França disse:

    gente peraí…
    não pode mas ganhar dinheiro?
    qual o problema de vender o material, vc consegue uma camisa de graça por aí?
    pobre é realmente uma desgraça!
    Brasileiro não gosta de ver ninguém se dar bem, artista gosta da pobreza, maconha e uma mesa de bar
    Saravá!

  3. ronaldo disse:

    Taí uma coisa que entendo… Olha, acho que sou um dos maiores “paga-pau” (não sei o plural disso) do Galpão. Tenho (tive?) 9 camisetas – e por mais mentira que pareça estou usando uma agora (peça “Partido” – que comprei na estréia em São Paulo, SESC Pompéia com menos de cem (bem menos) pessoas na platéia), tenho o DVD, um livro, e um monte de programas.

    AHH, tenho até a fita K-7 do Romeu e Julieta – É crianças… não havia cd naquela época!

    O DVD em questão não tem muita função. Claro que é bacana ver imagens das peças antigas como aquela infatil tosca e a que deve ter sido belíssima, a versão de Album de Família, e também ter nos extras um registro histórico de uma apresentação na íntegra (o mais interessante é saber que quem filmou foi um “plano do governo”)
    Mas a vontade de saber mais – ok, isso é pessoal demais – faz parecer o DVD pobre. Fico cheio de dúvidas, tais como: “Como é que eles foram para Italia pela prmeira vez?”, “Como realmento foi o encontro com Grotowski?” , “Como foi que o grupo “perdeu” os direitos pelo FIT, já que foram eles que criaram?”, “Como foi o encontro com atores no Peru para fazer uma homenagem a Grotowski?”, “Foi no Peru?” e por aí vai…

    É um registro bacana – não mais. Mas se pensarmos que não temos registros bacanas de nada por aqui…

    Sobre a questão da grana, eu penso: “Os caras estão com patrocinio da Petrobras, porque tem que cobrar tão caro o ingresso?”,mas eu fico pensando.. “O que será que a Petrobras paga?” Tem o galpão do Galpão, tem o cine-horto, tem uma grande estrutura de apoio ao fazer teatral que alguém tem que pagar! Sem contar os atores… Então, eu relevo.

  4. Paulo disse:

    Algumas dessas respostas que você pergunta Ronaldo estão no blog do Galpão: http://www.grupogalpao.com.br/blog se não me engano…
    Eu queria muito ter assistido a montagem do “Album de Família” com direção do Eid Ribeiro, mas você sabe que a peça quase levou a um racha no grupo e muitos deles acharam que a “estética” da peça não tinha a ver com os “ideias” do grupo… enfim pfffff

  5. Paulo V. Bio Toledo disse:

    ixii.. dois Paulos…
    (só pra constá que são diferentes, né?, e que eu sô o di cima)

    fico por isso mesmo, curtindu minha pobreza numa mesa di bar… enrolando um baseadinhu … e pensandu.. “como sou invejoso”

  6. Paulo V. Bio Toledo disse:

    ficô ambiguo né?
    de cima eu quis dizer o primeiro, não o “logo acima”…

    (foi meio mala isso né? foi mal… mas é essa necessidade de autoria da contemporaneidade, sabe?)

  7. João Luis disse:

    esse dvd é muito bom e é um registro muito importante. o teatro é uma arte limitada pelo tempo. se não é possível transpor as montagens do galpão para as telas (e não é…cada meio tem suas especificidades), mas um documento desse caráter, que pode não ser perfeito, tem, pelo menos, uma função histórica muito valiosa.

    para o amiguinho que associou o Grupo a Senior Abravanel…não, eles nunca foram pobrinhos. Os integrantes do Grupo não começaram na rua porque não tinham grana. Também não ensaiaram Romeu e Julieta (que posteriormente seria apresentada no Globe) na cidadezinha de Morro Vermelho porque eram pobres. Da mesma forma como o carro não era feito de palco porque era tudo que eles tinham. Esses caras não teriam necessidade de estar no teatro. Eles fizeram e fazem porque amam. Não há nenhuma superação pessoal e melodramática na trajetória deles como grupo…há a acensão artística (artística, OK? ARTE) e um reconhecimento que eles ganharam com muito trabalho. muito trabalho.

    eles vendem cds, dvds camisetas porque há quem compre e quem queira ter…e não há nada de errado nisso.

    o patrocínio da petrobrás não é nenhuma caridade. da mesma forma como os ingressos cobrados. eles mereceriam muito mais.

    aliás, nessa questão de ingressos…o grupo se reveza entre montagens para palcos e para rua. no palácio das artes paguei menos de 10 reais para ver “pequenos milagres”. além disso, aqui em bh acho que eles já apresentaram todas as peças na rua, até as concebidas pra teatros fechados.

    e eu me orgulho de ver alguém cantando ciranda no Globe. e eu entendo um gringo perplexo…sabe porque? porque isso é maravilhoso, isso É cultura, cultura POPULAR. mesmo.

    mas essa discussão já é tão antiga que acho que gastei meu tempo…

  8. […] não era pra menos, afinal quem abriu o evento foi o queridinho Grupo Galpão, a referência número um quando se fala em teatro pelas bandas das Minas Gerais. E como todo mundo […]

  9. samuel rosa de alvarenga

    samuel rosa é traido pela – angÊla,
    ia agora o que ele vai fazer
    com jornal.
    tá falando a angÊla esta traindo
    samuel rosa abisoluta
    mais jornal.
    entrega na mão dele agora

  10. Paulo Ribeiro disse:

    gostaria de saber onde compro o DVD?????????????

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