Ferro em Brasa

Críticas   |       |    29 de outubro de 2007    |    0 comentários

Aquela peça portuguesa, ó pá!

Tarde de domingo, último dia da temporada de Ferro em Brasa, de Antonio Sampaio com adaptação de Newton Moreno. Pára em frente ao teatro Arthur Azevedo, na Moóca, um ônibus turístico que desembarca dezenas e dezenas de velhinhas simpáticas, uma beleza.

O espetáculo, escolhido para comemorar os 55 anos do teatro, faz parte da pesquisa do grupo sobre o circo-teatro e traz um texto que já havia sido apresentado no bairro há 65 anos, em uma tenda circense. Conta a história de uma jovem camponesa que desconfia que o noivo, fidalgo, não a ama mais. O pai da moça – um ferreiro – descobre que o genro não só não ama sua filha, como a trai, oh que horror, com a mãe da moça.

Essa história melodramática é apresentada em um formato melodramático e ambientada em uma aldeia portuguesa, com certeza, com direito até a fados tocados e dançados ao vivo. Ao contrário de outros projetos recentes que se propõem brincar com o melodrama, Os Fofos Encenam (esse é o nome da companhia, não é fofo?) optam por adotá-lo a sério. O resultado? Uma peça que há 65 anos seria fantástica, mas que hoje não tem nada de especial.

O cenário, caprichadinho, é aquela estrutura manjadíssima em que os cômodos estão dispostos em forma de tríptico, que diz pra platéia “faz de conta que essas paredes na diagonal compõem um cômodo quadrado, tá?”. Ao fundo, um tecido pintado que nos mostra mais detalhes sobre o cômodo, deixando ainda mais claro aquilo que já estava claro (haja claridade!).

Até mesmo o discurso político do texto, que critica a ditadura de Salazar e a opressão sofrida pelas mulheres em uma sociedade machista e retrógrada soa estranho. O discurso final da personagem que tenta justificar toda a peça é muito mais cheio de razão que a peça em si, dialogando pouco com tudo o que o precede.

2 pasteizinhos de Belém

PS: uma beleza mesmo foi assistir a essa peça em meio a um mar de velhinhas que não paravam de falar a peça toda, tricotando. Teve direito até a um sonoro “ai meu deus” no momento do beijo que comprova o adultério da trama!

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