Love and Blembers

Críticas   |       |    21 de julho de 2008    |    0 comentários

Uma peça de amor (?)

Depois de Gota D’Água, Anjo Negro com trechos de A Missão: Lembrança de uma revolução, pra ficar em algumas das montagens mais recentes de que ela fez parte, já fica claro que não se pode prever como será o próximo trabalho que conte com Georgette Fadel. Love and Blembers confirma a regra e, apesar de ser apresentado na meca culturete de São Paulo, consegue tensionar possibilidades de participação do público. Falo aqui mais de uma comunicação e menos de um espetáculo.

Love and Blembers é um monte de camadas, tipo a cabeleira do Walderrama. Pra quem quer histórias, tem as de amor, daquelas melosas, que estão em voga desde o tempo da vovó da vovó. Pra quem quer estranheza, tem bastante também, inclusive com as mesmas histórias de amor – aliás, esqueci de dizer, mas esse é o tema da peça (será uma peça?) – que se dá por diversas maneiras: repetição da mesma cena, coros de situações bizarras, ciclos infinitos, interação entre atores e vídeo, espaço cênico invariável para teatro, performance e dança.

O vídeo pré-gravado e projetado e a música ao vivo propõem mais camadas de complexidade: o primeiro por não sugerir uma atmosfera naturalista, tampouco narrativa, mas sim de lembranças ou de proposições futuras: a segunda, por ser ao mesmo tempo a radicalização do clichê e da multiplicidade de sentidos numa só linguagem, fora outras relações contraditórias, como música ao vivo e eletrônica, sincronizada ou independente.

Não há como acompanhar Love and Blembers como uma série de esquetes. E dá pra acompanhar Love and Blembers como uma série de esquetes. Tudo é atravessado e o incidental é parte da peça, portanto o encontro com o público é potencializado. Há, no entanto, dois pontos que parecem convergir numa síntese, enquanto a apresentação tenta produzir sentidos mais plurais. O corpo dos atores – e aqui não falo dos dançarinos – parece ainda comum e portanto limitado, quando em diálogo com as proposições em vídeo, música e iluminação do espetáculo. Não comento as falas nem o resto da interpretação, mas sobre o corpo mesmo: esse aparato que pode nos parecer estranho (como intérpretes ou como público) a cada nova montagem e que nessa, ao menos nas primeiras apresentações, não traz essa estranheza. Outro ponto que parece tornar redundante a mensagem geral da montagem é o figurino. Por vezes há linhas que tendem para múltiplas interpretações, como no caso do careca que entra de vestido. Mas de maneira geral, somos levados a crer que os personagens (seriam também personagens?) são algo de medíocres, de cotidianos, ou o que de mais trivial se vê nas relações humanas e essa caracterização está nas logomarcas e no naturalismo do figurino.

Gosto da idéia de se conceber uma montagem para se rever. Obviamente, a cada nova apresentação será possível deixar os sentidos percorrerem outras áreas do espaço cênico. A questão dessa opção ter um custo é uma barreira a ser superada com cada ingresso valendo duas entradas, idéia que já foi utilizada em A Exceção e a Regra. Essa é uma montagem que vale esta relativização do ingresso. Por isso termino o texto antes do tempo, como maneira de antever as impressões que virão de uma segunda visita ao 12º andar so Sesc Paulista. Ou mesmo as impressões que virão de outros da revista. Não sei ao certo. Só quero deixar incompleto. Como se fosse possível completar…

1/2 crítica

Ps: seguem algumas fotos do processo de ensaio, da Adriana Camargo.

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