MSTesão

Críticas   |       |    22 de abril de 2008    |    2 comentários

Quem tem medo de ser exposto na banca de revista?

Já dizia a propaganda da Sprite: “imagem não é nada, sede é tudo”. Mal poderiam saber os criadores daquela propaganda que estavam prevendo uma nova maneira de fazer uso, não somente das próprias imagens, mas também das alheias. Hoje, com a chuvinha de “fotos e vídeos mais incríveis de todos os tempos” que nos chegam todos os dias por email, o valor atribuído às imagens é certamente bem diferente dos tempos em que sua tataravó colocava a melhor roupa pra posar pra um fotógrafo que vinha pra fotografar a família toda de uma vez, e mais diferente ainda da concepção indígena segundo a qual fotografias roubavam as almas das pessoas registradas por elas. Nos nossos loucos tempos, convenhamos, a GaLeRa TdA coloca a FoTuXa do FoFuXo no Orkut na boa, mesmo que o FoFuXo escolhido mude se-ma-nal-men-te. Tem de tudo, biquíni, sunguinha, galera dormindo, tudo ali, pra todo mundo ver, ou seja, tudo transformado em conteúdo público. E o que nós pensamos, afinal, das imagens pessoais tornadas públicas? Quais são os nossos limites? O vídeo da Cicarelli dando uma na praia? (Desculpe, não tem mais link direto pra esse vídeo, pois ele foi tirado do ar, mas com certeza você vai encontrar um amigo que tenha guardado) Ou vídeos de pornografia não autorizados pelos próprios protagonistas, mas divulgados por aí? A exploração da imagem de crianças morrendo de fome na África? Ou slides de fotos da Isabella Nardoni exibidas na telona da TV ao som de Eu sei que vou te amar? Quem sabe uma mega-missa do Padre Marcelo que misture, tudo ao mesmo tempo agora, a Xuxa, a Ivete Sangalo e a Isabella Nardoni?

É evidente que, sobretudo no que tange a Internet, nossa Justiça – num reflexo da sociedade de maneira geral – está bem atrasadinha, pra não dizer perdida com relação a esse tema. Não é à toa que mandaram tirar do ar o WordPress todo por conta de um único blog. E é nesse contexto que Aimar Labaki traz ao Teatro Experimental do Sesc Anchieta a peça-trocadilho MSTesão, que ele jura ser mais sobre como nos relacionamos com as imagens do que sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Que o tema é pertinente, não há dúvida. Os exemplos, até já dei os mais clichês no primeiro parágrafo. Resta saber como um texto escrito há oito anos pretende dar conta de uma temática que muda a cada instante, talvez a cada post. Sim, Aimar escreveu esse texto há oito anos e além disso dirige ele próprio a peça, que conta a história de um garoto convidado para fazer fotos nu para uma revista homossexual. Tião, o tal rapazote estilo gostosão-rústico, só topa a parada pra ajudar financeiramente a família, pois estão começando a passar fome no assentamento, por não terem conseguido financiamento para o primeiro plantio na terra recém-conquistada. Lembra da Débora Rodrigues, que posou nua? A comparação é inevitável, mas a moça não era mais do movimento quando fez as fotos e não estava em discussão a masculinidade de quem posa para revistas homossexuais.

A problematização da causa do MST, considerada aqui como uma retomada do teatro político, é consistente porque expõe, no mesmo patamar e sem concessões, as fragilidades e os méritos das lutas pela reforma agrária. À primeira vista, pode-se pensar que a idéia é defender os coitadinhos que não têm terra nem dinheiro pra plantar, mas a peça não se limita a essa abordagem, expondo cruelmente os problemas ideológicos contidos em idéias que parecem estar passando do tempo e tornando-se mais violentas do que profundas e baseadas na lei. Por outro lado, o típico leitor da Veja também não se sentiria satisfeito com o que é exposto na obra, pois o movimento não é tratado como “bando de criminosos invasores”, mas compreendido na coerência de parte de suas reivindicações e na dificuldade de, mesmo depois de ter um lugar num assentamento, conseguir começar a plantar num país que está ora voltado à soja, ora voltado à cana, mas raramente disposto a investir em agricultura que não seja agronegócio.

O rolo todo dessa história se dá porque o padrinho do gostosão-rústico tenta impedir que ele faça as tais fotos, com medo, sobretudo, de manchar a imagem do movimento. Nesse momento, o intérprete dá as “melhores” falas do espetáculo, que preciso reproduzir aqui mesmo sob risco de estragar a fruição de quem resolver assistir. Sobre as possíveis chamadas das fotos na revista, ele sugere, irônico e maldoso: “sem terra e sem cuecas” e “invadindo o invasor”. Entra, então, a tal questão dos direitos de imagem e de como até os movimentos políticos sentem a necessidade de uma boa apresentação na mídia.

Labaki coloca em evidência os contratos mirabolantes (o rapaz teria de pagar algo como 100 mil reais se desistisse das fotos – argumento juridicamente fraco, mas essencial para a peça), a diferença entre as gerações no modo de encarar a manutenção de uma “boa imagem”, as contradições do moralismo exacerbado (o padrinho não quer que o garoto tire as fotos, mas se dispõe a comer a dona da revista em troca da liberdade), entre outras. Falta, no entanto, aprofundar essa discussão. Com tantos trocadilhos e um texto tão antigo (não é tãaaaaaao antigo, mas considerando a temática de que trata, posso me referir a ele assim), perde-se a chance de falar da complexidade dessa utilização da imagem. Perde-se a chance de entender, por exemplo, que direitos ainda persistem? Quais ainda fazem sentido? E de quais fazemos questão com relação ao nosso próprio rostinho (e outras partes, se for o caso) exposto publicamente? Não é querendo puxar a sardinha pro lado da Bacante, mas nesse tema, nesses tempos, não dá pra ignorar a Internet e privilegiar a “incrível visibilidade das bancas de revista”. Desse jeito, Aimar, o que acaba ficando mais forte mesmo é a questão do MST, que não é lá a mais original, mas que, ao menos, está colocada de maneira mais complexa.

2 mil votos para essa peça na categoria Piada de Pai do I Prêmio Bacante AOCA.

'2 comentários para “MSTesão”'
  1. Patricia Aguille disse:

    E ISSO?
    QUANTOS VOTOS DÁ???

    “Terça-feira, Junho 05, 2007
    Arte de escrever muito sem dizer nada ou Release Padrão
    Estréia no próximo semestre em São Paulo a nova trama do grupo de teatro Sagomadarrea. O elenco encabeçado por Juliene Codognotto e Tarzan Corrêa é uma demonstração do vigor dos jovens da nova geração.

    O espetáculo mostra as trapalhadas de uma mulher em busca de sua independência. No caminho, encontra diversos conflitos que podem mudar sua vida. Será que ela se deixará levar por eles?

    Para realizar seu destino, nossa protagonista conhece Nelson, um rapaz de família disposto a conforta-la da melhor maneira possível. Ela resistirá a tal tentação? Entram em sua vida também Rebeca, mulher fogosa de uma voz encantadora; Bruna, menina perturbada por misteriosas criaturas; o médico, responsável e cativante; Sofia, mulher forte e desafiadora; além de muitos outros.

    A peça é estrelado ainda por Fabrício Muriana, Daniela Landin, Marcela Mastrocola, Chico Estrela, Sandrinha Souto e grande elenco.
    Leca Perrechil | 21:09 | 0 comentários ”

    retirado do blog SAGOMADARREA

  2. Fabrício disse:

    Patricia, você continua com essa mania de criança de postar com nome falso?
    Olha, pra ficar bem fácil de assimilar. Se você continuar a encher o saco e postar informação que não tem qualquer relevância pra quem lê, nós teremos que alterar nossa política de liberdade de comentários pra banir somente você da revista.
    Esse é o último aviso.

    E não se esqueça de ir ser feliz em qqer outro canto da internet.

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