My Fair Lady
Minha Querida Dama
As imagens desta peça só entram na próxima terça-feira, em respeito à semana iconoclasta.
Tarde de domingo, três da tarde. Uma pequena multidão de pessoas de todas as idades (em sua maioria adolescentes e pré-adolescentes) se aglomera em frente ao marmóreo Teatro Alfa, lá longe. Apesar de faltar uma hora inteira para o inÃcio daquela matinê, todos já estavam lá e ansiosos para assistir à quele que possivelmente seja o espetáculo em cartaz com os ingressos mais caros da cidade: o musical My Fair Lady, adaptado de O Pigmaleão de George Bernard Shaw.
Sandrinha Souto, consultora de estilo da Revista Bacante (ou As Bacantes, segundo constava no envelope com nossos ingressos) também estava presente e constatou que aquela platéia é uma das mais chiques da cidade e mostrou que adora bater palmas (inclusive em cena aberta e para coisas tão bobas quanto um personagem estender o braço para que uma personagem o acompanhe).
A Broadway em São Paulo
Aguardar o inÃcio da peça ouvindo a orquestra afinando os instrumentos dentro do fosso me fez lembrar a temporada do musical Lés Misérables, que reinaugurou o Teatro Abril, antigo Paramount – que até a reforma (pra não dizer demolição e reconstrução) dividia seu imenso espaço entre peças infantis (para as crianças) e filmes pornô (para seus pais).
Naquela época, o Abril era uma locomotiva que dava suas primeiras apitadas para uma tendência que faria um imenso sucesso na cidade. As megaproduções musicais ainda não tinham a mesma visibilidade e o mesmo público que têm hoje: os ingressos não eram tão caros, o elenco era inteiro de desconhecidos talentosÃssimos e Daniele Winits ainda não havia mostrado seus peitos com vida própria (não em um musical da Broadway) e tampouco seu pouco talento (ainda estou me restringindo aos musicais da Broadway – produções do Wolf Maia não contam).
Hoje o musical caiu no gosto dos paulistanos e tudo indica que tão cedo a cantoria não vai acabar (e que o céu é o limite quando o assunto é o preço dos ingressos). O presidente Lula já não conseguiria contar nos dedos das mãos a quantidade de franquias e produções da Broadway que já passaram pelos palcos paulistanos nos últimos dez anos, e esse mundo mágico das dancinhas continua em ebulição: foi considerável a evolução dos musicais desde que Cláudia Raia era o maior nome do gênero com sua trilogia (composta por Não Fuja da Raia, Nas Raias da Loucura e Caia na Raia, que eu era pequeno demais para assistir – o que certamente me salvou de algumas boas horas de análise), até a chegada do know-how estrangeiro.
Agora os musicais estão dando um passo a mais (ou seria um pulinho coreografado?). Assim como ocorreu com a recente montagem tupiniquim de Sweet Charity (estrelado por uma Cláudia Raia menos espivetada e inspirado nas Noites de CabÃria de Fellini), a versão paulistana do clássico My Fair Lady não é uma franquia importada, daquelas que são tiradas da caixa, ligadas na tomada e já saem funcionando, sob supervisão das detentoras dos direitos de produção e sem um único neurônio queimado para releituras locais – a única exceção são os neurônios do tradutor, que acaba sempre sendo o Claudio Botelho.
Finalmente My Fair Lady
Neste espetáculo os belos e originais figurinos foram todos desenvolvidos por Fábio Namatame para a produção local, e os dez cenários criados pela cenógrafa Daniela Thomas. Tudo novo, tudo feito exclusivamente para esta montagem. Mas as diferenças e as liberdades criativas param por aÃ. As letras e as músicas permanecem as mesmas (traduzidas pelo mesmo Botelho das montagens da CIE Brasil, dona do Abril) e, apesar de não ser uma franquia da Broadway, a montagem assume o mesmÃssimo formato das produções da rua que atravessa Manhattan (sem, no entanto, ficar atrás na qualidade técnica e, sobretudo, no desempenho dos atores).
A maior ressalva está na decepcionante cenografia, que apesar de possuir um ou outro cenário bastante bonito, é tão naturalista que só serve para indicar à platéia onde se passa cada uma das cenas, sem agregar ou dialogar com a linguagem do espetáculo. Talvez tenha sido exatamente a encenação e esta linguagem “Broadway-wannabe” que tenha impedido Daniela Thomas de criar com a ousadia que vemos em seus outros trabalhos. A troca dos cenários também é pouco explorada, deixando claro que a cada vez que os atores vêm ao proscênio e cantam/dançam em frente a uma tela branca ou preta, é sinal de que lá vem troca de cenário. Enfim, perderam a chance de ousar para fazer um pouco mais do mesmo, mas c’est la vie.
Apesar de todas estas ressalvas, seria injusto demais dizer que o espetáculo não funciona ou que não tenha havido muito capricho e talento em sua criação e execução. Acontece que estes pontos todos na verdade não passam de observações de um chato perfeccionista que, apesar de tudo, confessa ter se divertido à beça com a peça (uia,rimou! Será que se colocar uma música algum dos atores cantaria isso?).
A montagem está ótima: o elenco inteiro está afinadÃssimo, tanto nas vozes como nas coreografias, e o texto traz sutilezas e ironias deliciosas que são muito bem apropriadas pelos atores. Daniel Boaventura (um dos protagonistas prediletos dos produtores nacionais, ao lado de Saulo Vasconcelos), está excelente no papel do professor de fonética Henry Higgins, desafiado a transformar a vendedora de flores Eliza Doolittle (interpretada aqui pela ex-Trem da Alegria Amanda Acosta) em uma Lady. Outros ótimos destaques são as hilárias e competentes atuações de Francarlos Reis no papel do pai de Eliza, e de Frederico Silveira no papel de Fred, um jovem apaixonado que acabou tão pouco explorado que deixou um certo hiato na história. Na verdade, existem outros hiatos, sobretudo na transformação da abóbora em princesa, mas deixa pra lá. O que importa é que My Fair Lady vale muito a pena, mesmo.
18 reais de estacionamento
legal isso o prf passou liçao e isso me ajudou muito mesmo
obrigado acho q vou levar 1 dezzzz!!!