O Avarento

Críticas   |       |    28 de maio de 2007    |    5 comentários

A avareza no palco e o dinheiro na bilheteria

Fotos: Priscila Prade

Nove meses após a estréia, a platéia de mais de mil lugares continua lotando o nonagésimo espetáculo de Paulo Autran, O Avarento. O público cativo do Cultura Artística também permanece o mesmo: muitas pessoas acima dos 50 anos de idade que gostam de fazer social no foyer do teatro enquanto tomam espumante ou vinho branco nacionais (ao preço módico de R$10 a taça – é sempre preciso ressaltar). E todas devoradoras de pizzas, possivelmente as melhores (ou mais caras, como preferir) da cidade, segundo Sandrinha Souto, nossa consultora de estilo. O figurino da platéia também continua o mesmo, atingindo uma das escalas mais altas de emperequetação da cidade, palavra também de Sandrinha.

O espetáculo, dirigido pelo carioca-curitibano Felipe Hirsch (sabe aquele que o Gerald Thomas acusa de plagiador?) continua tão lindo quanto na época de sua estréia. A cenografia de Daniela Thomas (sabe aquela ex-mulher do Gerald Thomas?) dá conta de converter todo aquele palco gigantesco (que beira a aberração) em um espaço cênico ideal para o espetáculo, reduzindo consideravelmente a profundidade do palco com uma estante torta e vazia, que traduz de forma subjetiva e eficiente o tamanho da riqueza e ao mesmo tempo as dimensões da avareza do protagonista Harpagon.

A incorporação de elementos clássicos como as pancadas de Molière ou o uso da ribalta, sem abrir mão da modernidade, tornam a encenação impecável: a linguagem estilizada da commedia dell’arte é incorporada sem soar pedante, falsa ou forçada. O elenco (excelente e sem ressalvas) se apropria do texto com total domínio, sem se render a ele. Só fica a impressão de que em alguns momentos ocorrem pequenos lapsos de concentração que não ocorriam no início da temporada. Talvez eu tenha revisto a peça em um dia ruim, mas pode ser também um sintoma de mecanização de um espetáculo que já está há bastante tempo em cartaz. Mas a platéia papa-pizzas se delicia da mesma maneira, sem perceber nada estranho.

Assistir o espetáculo sem o deslumbramento do ineditismo faz notar que o elemento mais impressionante não é o texto, as atuações, ou a cenografia isolada: mas sim a iluminação. Não tem como não se impressionar com a precisão e sutileza com que a luz do espetáculo é desenhada, contrastando o tom amarelado da cenografia e dos figurinos do lado “de dentro” da casa de Harpagon com o azul vivo do céu que existe do lado de fora. É feita com tanto cuidado que até mesmo as cenas de transição, iluminadas apenas pela ribalta, se tornam bonitas. Uma iluminação bem-feita como todo bom espetáculo deveria ter. Pena que deve ser caro pra xuxu contratar o Beto Bruel…

Então a gente chega no ponto crucial que não pode ser ignorado. Não tem como falar do Cultura Artística e das produções que ali aportam sem falar de dinheiro. Por incrível que pareça, raramente vemos naquele palco grotescamente grande e que só recebe atores globais produções à altura desta encenação de Molière: um espetáculo caro e indiscutivelmente comercial, mas que oferece uma qualidade que reflete o valor pago pelo ingresso. Não que seja um valor justo, porque eu não acredito que seja, mas ao menos ao sair do teatro é pouco provável a sensação de ter jogado dinheiro no lixo.

Não se trata de avareza (ahá!), mas de senso crítico (que a maioria dos papadores de pizza não tem). Absolutamente nada contra o teatrão, desde que por trás da futilidade dos espumantes e das conversas de foyer haja algo que reflita em qualidade o dinheiro investido. Uma pena que não exista muita cultura de que fomentar público é mais do que chamar gente pra ver gente da novela: é trazer qualidade para que este público se interesse por teatro. Neste raciocínio, O Avarento nos mostra que teatrão pode sim ser sinônimo de grande teatro.

5 pedaços de pizza

'5 comentários para “O Avarento”'
  1. fabi ross disse:

    sabe, me senti comedora de pizza por não ter visto esta mecanização da qual falou…

    Para mim a diferença foi enorme pq como disse, a platéia da última coisa q vi lá era composta somente de adolescentes (eu era uma) que estavam lá pra ver os rostinhos bonitos e corpos em colÃ¥ns dos mosqueteiros…

    Normal, coisa de gente normal.

    para mim a grande honra foi poder ver um ícone do teatro completando uma grande história de peças e total talento. Isso sim, foi bem emocionante…

    Obrigada pela oportunidade, mais uma vez.

    bj

  2. Anonymous disse:

    O título da crítica, artigo, matéria, depoimento, comentário… “Avareza no palco e Dinheiro na bilheteria”, além do sensacionalismo barato de que vem carregado, não condiz com o texto do próprio autor(Maurício). Pelo que entendi, há sim esses casos (eu já vi vários!) mas não é o caso do “Avarento”. Então, porra, qual o propósito de uma manchete dessas em cima de uma foto da peça?! A intenção é fuder a imagem do espetáculo ou simplesmente atrair leitores ávidos de polêmicas para a dita crítica, crônica, artigo, depoimento… hein? (curiosidade jornalística mesmo) Mas o blog é muito legal! Uma delícia ler textos que exatamente por atravessarem os limites da crítica, da crônica, do depoimento, da ciência e dos ‘achismos’ são tão humanos e mais conversam com o leitor do que nos convencem de algo. Prosa franca e feita por quem ama o teatro! Parabéns! MERDA!!! Abraço, Gustavo Machado

  3. Maurício Alcântara disse:

    Oi Gustavo!

    A intenção do título não era a de polemizar não, acontece que eu tenho uma grande implicância com ingressos exageradamente caros. Apenas quis aproveitar o gancho irônico (e um bocadinho sensacionalista, sou obrigado a concordar) entre o fato deste excelente espetáculo falar justamente sobre economia e avareza, e a produção cobrar até 90 reais por ingresso.

    E quanto a “fuder a imagem do espetáculo”, eu realmente não me preocupo tanto com isso porque escrevo pensando que os leitores não se apegam às figurinhas, e ao ler, percebam que o título foi uma ironia mesmo… Se eu fosse me preocupar em transmitir minha mensagem apenas pela combinação do título e uma foto eu não escreveria esse texto todo e iria procurar emprego em algum jornal de grande circulação ou em alguma revista de fofoca…

    E que bom que você curtiu a Bacante, nossa proposta é essa mesmo, falar francamente de teatro mas sem deixar de lado uma pitada de provocação…

    Grande abraço e MERDA!

  4. isabelle disse:

    acho uma porcaria porque o que procuro nao eu acho!!!!!!

  5. natalia disse:

    Eu precisoso de um video nao uma escrita ne mi polpe (affi)

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