O IncrÃvel Menino da Fotografia
Uma montagem intencionalmente chata
Foto: Roberto Setton
A segunda peça do jornalista, roteirista, dramaturgo, cineasta, escritor e diretor teatral Fernando Bonassi resenhada essa semana também é um monólogo. Ele realmente está engajado na sua procura da aposentadoria precoce. Dessa vez quem dirige é ele próprio, no alto do 13º andar da unidade “provisória” do Sesc Avenida Paulista. Tomo a liberdade do parêntese aqui: em texto publicado no Caderno 2, Marcelo Rubens Paiva critica as demolições que o Sesc faz para construir novas unidades. Imagino que a administração da unidade “provisória” da Avenida Paulista não seja algo fácil e que por isso a adaptação do prédio seja necessária. Mas o que será que farão ali? Por favor, não façam outros teatros italianos como o do Sesc Santana.
E, bem, é foda mais uma vez falar desse cara. Agora eu tô falando do Bonassi novamente. Ele teve a cara de pau de fazer um espetáculo inteiro com um único ator imóvel, imitando uma fotografia. De longe foi a peça mais chata de toda a minha curta vida. E o pior é que isso não é um grande problema.
Os fluxos de pensamento de O IncrÃvel menino da fotografia não dão conta da atenção do espectador. Há, sem dúvida, um crÃtica exacerbada à inatividade de toda uma geração que cresceu do meio para o final da ditadura (aquela dos militares, não a do consumo) e que até hoje parece presa na fotografia de um tempo burro da nossa história.
Com esse problema estrutural posto na dramaturgia, todos os outros elementos parecem querer gritar pra você “olha pra mim, olha pra mim”. A iluminação quer fazer daquela imagem algo que vai do mais angelical até o mais diabólico: naufraga, entretanto, por conta da quantidade de sombras que gera e por atrair demasiadamente a atenção. A trilha é bastante criativa ao juntar recortes que vão de sons da paisagem, até temas da década de setenta: estaria perfeita não fosse um arroubo de humor que bateu em Marcelo Pellegrini (que assina a dita cuja) ao colocar no inÃcio do espetáculo uma narração quase integral da tradução da música “I started a joke” por um locutor de rádio, numa chave extremamente cômica, mas que nada tem a ver com a peça. A direção de arte reconstrói a fotografia, com o ator suspenso no ar. Basicamente chega ao limite do literal.
O fato de a peça ser chata não se apresenta, então, como um grande problema, na medida em que o Bonassi (jornalista, roteirista, dramaturgo, cineasta, escritor e diretor teatral) sabe que quer passar essa sensação de tédio e inatividade do seu personagem, como forma de representar uma geração. O problema está nos outros elementos da montagem que não estão afim de corroborar com o espetáculo chato.
Como diz o ator César Figueiredo, ao final de Eu não sou cachorro, do mesmo Bonassi (jornalista, roteirista, dramaturgo, cineasta, escritor e diretor teatral) em cartaz no studio 184: “Divulguem este espetáculo, pois a mensagem dele tem que ser ouvida por muita gente”, definitvamente o conteúdo de O incrÃvel menino na fotografia é pra ser ouvido por muita gente e ensinado nas escolas primárias (ops, desculpem o autoritarismo momentâneo). Pena que a forma seja tão monótona e não tenha sido totalmente radicalizada.
2 horas de sensação de peça em 50 minutos
Resenhasinha picareta ein. Aff, hoje em dia virou moda qualquer um achar que pode falar sobre coisas que não tem aptidão alguma para tal.
Rapaz, é que você ainda não viu o nÃvel dos comentários que a gente recebe na revista.
A coisa tá feia mesmo.
Não foi a peça mais chata que vi na minha vida, estou acostumada a ver muitas peças ruins. Mas foi chata. A mais chata provavelmente foi a que vi do Bonassi ano passado.
Vi um espetáculo há um tempo, acho que chamava “Olhos recém-nascidos”, em que a atriz, Denise Stoklos, só fazia uns três movimentos a peça inteira. E era mto boa. Então, “O IncrÃvel Menino da Fotografia” realmente não é uma boa peça… e nem inovadora… e nem desafiadora… e nem nada.
Estava pesquisando sobre novas apresentações da peça e encontrei esta resenha sobre. Ao ler, não me contive.
Essa foi uma das melhores peças que já assisti, que com o ótimo ator (Eucir de Souza) suspenso no cenário, sem poder ao menos se levantar, consegue fazer uma crÃtica maravilhosa relacionada ao perÃodo da ditadura, mas, que se encaixa totalmente aos dias de hoje e ainda, apesar de se repetir várias vezes (intencionalmente), consegue prender totalmente a atenção dos telespectadores. Desculpe, FabrÃcio, mas, “chata” é uma palavra que não se encaixa a essa peça.
Ok, Emily.
Respeito sua opinião. O que não muda a minha.
Mas revendo hj a crÃtica, foi pobre mesmo a análise.
Abraço