Os Sertões

Críticas   |       |    15 de outubro de 2007    |    1 comentários

Conex̣o Jaceguai РBaṛo de Tef̩

Fotos: Maurício Alcântara

Vamos combinar uma coisa? Esse texto não vai ser exatamente uma resenha (muito menos uma crítica) sobre Os Sertões. Não vou falar sobre a direção de Zé Celso, ou da dramaturgia, que, juntas, converteram o livro de Euclides da Cunha em um musical épico com quase trinta horas de duração. Em vez disso, quero apenas dividir minhas impressões sobre a apresentação de O Homem II numa réplica do Teatro Oficina que foi construída dentro do Centro da Ação e da Cidadania, galpão gigantesco no centro da cidade maravilhosa.

Logo de cara, não tem como não se impressionar com a semelhança do espaço com o Oficina da Jaceguai. Claro que há diferenças: a fonte da Eternidade ficou esquisita, improvisada com uma caixa d’água enfeitada com folhas de palmeira; o grande jardim aos pés da parede de vidro do Oficina se resumiu a um quadradinho do lado da banda; logicamente não há aqui uma enorme árvore cujo tronco começa dentro do teatro e cujos galhos invadem a “área-tabu” onde Sílvio Santos quer seu shopping especulativo. Mas o grande corredor-palco está lá, com suas galerias subterrâneas e sem o declive que há no espaço paulistano.

Aqui também não tem os andaimes, que dão lugar a uma arquibacada mais profunda (e que, apesar de não ter luxo algum, é bem mais confortável do que as cadeirinhas de madeira do Oficina). Ponto para o Rio, onde a visibilidade da peça é ótima e cabe mais gente – e todos sabemos que pro Zé, quanto mais gente assistindo, mais gostoso. Nesse novo lugar, o vídeo até perde um pouco da força graças a essa ausência de pontos cegos (em São Paulo é inevitável assistir algumas cenas no telão por falta de visibilidade), e isso, no fim das contas, é bom.

O público carioca reage empolgado com o espetáculo, ouço ao meu redor muitos comentários de maravilhamento diante daquilo que é visto. Sou fã d’Os Sertões e foi ótimo rever o espetáculo com pessoas diferentes da turma sujinha que eu via sempre lá no Oficina. Não que não haja os sujinhos cariocas assistindo também, mas aqui percebi muito mais gente curiosa do que gente que já sabe o que vai ver. Talvez seja por isso que o ritual do “beija” tenha sido aqui muito mais bonito e ritualístico do que nas vezes que vi em São Paulo – acho que aqui o pessoal não saiu de casa com a intenção de beijar os atores, ou melhor, nem sabia que isso aconteceria, e isso dá outro contexto à cena. A receptividade, no entanto, é a mesma – senão mais calorosa: prova disso é a forte adesão de naturistas de última hora na cena dos adões e evas comandados por Anna Guilhermina.

O elenco aqui também está um tanto mudado. Por um lado, não estão no elenco nomes como Haroldo Ferrari ou Patrícia Aguille, por outro lado, o grupo conta com as crianças cariocas que embarcaram na festa do Zé através do projeto Bixigão, e recebe de volta alguns atores que participaram de temporadas anteriores do espetáculo mas que não estavam na temporada das cinco peças simultaneamente, ano passado, como Adão Filho e Célia Nascimento. Algumas substituições foram felizes, outras nem tanto, mas isso o público carioca nem tem como comparar. E vamos combinar que no quesito qualidade de atuação o elenco colossal do Zé não é exatamente a coisa mais uniforme do mundo, né?

Algumas coisas do texto, sobretudo os enxertos paralelos que Zé faz na obra de Euclides da Cunha, podem não fazer muito sentido para quem não conhece São Paulo, o Bixiga e a eterna briga com senhor Senor: o Anhangabaú da Felicidade talvez tenha menos contexto, assim como a cena de Libertas, em que a escrava interpretada por Célia vira dona das terras “daqui até a avenida Paulista”. Nesse ponto, só o fato de estar ali na Jaceguai ao lado do Grupo Silvio Santos já ajuda a entender melhor as ironias. Mas paciência, não dá pra falar “daqui até o bondinho”, né?

Uma porrada de cariocas pelados, e não era na praia

'1 comentário para “Os Sertões”'
  1. Camila Bastos disse:

    Evoéh!

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.