Satyrianas 2008

Especial   |       |    28 de outubro de 2008    |    16 comentários

Criticamix – a ressaca

Relatos contraditórios de oito pessoas diferentes sobre o mesmo evento.
Você está convidado a deixar sua opinião também. Lá embaixo, nos comentários.

Satyrianas 2008. Na foto, ao lado do Espaço Parlapatões, estão todos os autores dos textos abaixo-publicados.
Com exceção do Marco Albuquerque, que foi substituído à altura.

Marco Albuquerque

Passei pela praça nos quatro dias das Satyrianas… Nem vi peças em todas as ocasiões. Várias das visitas à Roosevelt eram simplesmente pelo social: passar por ali, beber algo, cumprimentar os amigos.

Em qualquer dos dias, tudo estava cheio: os teatros, os bares, as calçadas, as ruas. Até o estacionamento estava cheio. Num dos dias avistei o Gero Camilo rodando no estacionamento lotado e procurando uma vaga pra estacionar. Aproveitei que estava saindo pra ceder minha vaga pra ele. Recebi até uma buzinadinha de agradecimento. Se eu tivesse um diário eu iria correndo pra casa pra escrever essa experiência nele.

A multidão superlotou a praça. Tinha tanta gente que nem consegui avistar os amigos bacantes no meio da multidão, que se esparramava por todos os lados. Uma variedade enorme de estilos, rostos e cheiros (curiosamente, a variedade de cheiros era a maior de todas…).

Mas, no final das contas, a Satyrianas era sobre teatro e dramaturgia, não é mesmo? Às vezes eu até esquecia disso. Tem tanta coisa na programação que você até se esquece do teatro. E isso fica bem claro quando você lê a programação oficial do evento. Sim, porque se você lê a programação das Satyrianas, você descobre que lá tem até o nome da ama de leite do câmera man de qualquer um dos curtas do DramaMix ou do CineMix, mas não tem NENHUMA informação sobre nenhuma das peças. Isso confere um grande grau de emoção na escolha dos espetáculos, porque você nunca sabe o que está indo assistir. Vá por sua conta e risco. Mas também é “pague quanto quiser”, né? Ninguém vai poder mandar depois uma cartinha malcriada pro Guia da Folha dizendo que quer o dinheiro de volta porque assistiu gato por lebre. No máximo vão mandar um e-mail malcriado pra Bacante…

Astier Basílio

A primeira Satyrianas, é que nem aquele comercial de sutiã, a gente nunca esquece. Ainda mais eu que na versão anterior acompanhei via blogosfera. As fotos dos balões coloridos. O Gerald. O público aplaudindo. Rostos de famosos. Notas na Mônica Bérgamo. Tendas lotadas. E a vontade de ir, comprar uma canequinha ou uma camiseta dizendo, “Satyrianas, eu fui”.

Quando eu voltei pra casa, do aeroporto de Recife até João Pessoa vim com Neto, um motorista que trabalha na televisão como iluminador. Quando esgotamos os assuntos, ele me explicou como funciona os filtros e como há todo um trabalho de manipulação da luz para o uso da imagem na TV. Eu disse: vocês falsificam a realidade. Depois me imaginando muito severo emendei: não, não, vocês melhoram a realidade.

Não vou dizer que o evento frustrou minhas expectativas porque não sei se as trouxe em meu matulão. “Se eu tiver me divertindo, tá valendo”, faço minha a fala de um dos principais personagens daquele teatro a céu aberto cujo sapatos – coturnos – lembram muito os que palhacinhos usam.

O que mais me agradou, a grande poesia do troço, foi o caráter precário, incompleto, sujo mesmo de algumas apresentações com atores lendo o texto e outros apenas comparecendo no palco como eles são numa mesa de bar – com direito a cerveja e tudo. Foi sob o prisma inacabamento que eu vislumbrei o Satyrianas, em sua validade e potencial de encontro, congraçamento e carnavalização (se segura Zé Celso!!!).

Posso dizer que a vi sem filtro.

E por causa disso, pensar no Satyrianas como resposta à polêmica da crise da dramaturgia contemporânea é algo que eu não compro. Não vou entrar no mérito conceitual da questão – fazer esse recorte aqui pode até ser reduzir demais o problema –, mas não consigo aceitar esse filtro. Ter mais de 70 espetáculos não se consolidou, ao menos no muito do que eu vi, em uma resposta de inquietação estética, nem de buscas ou caminhos ou possibilidades artísticas para uma renovação de linguagem do teatro.

Para o bem ou para o mal, mais uma edição do Satyrianas ratifica um projeto de invenção de um espaço mítico chamado Praça Roosevelt e o mito, como diria Fernando Pessoa, é o “tudo que é nada”.

PS. Sim, não tinha ninguém vendendo nem caneca, nem camiseta. Ao menos eu não vi.

Emilliano Freitas

Saio de minas pra usar minha coleção outono-inverno em sampa, e encontro um calor bravo, que aumentava uns 5 graus dentro dos teatros e uns 10 na tenda do Dramamix. Então entre tomar cerveja pra passar o calor a correr riscos de não saber o que me esperava nas apresentações (dica do dia: nunca aceite opiniões de amigos críticos) acabei tomando 6 cervejas para cada peça que assisti. Resumindo: saí no prejuízo visto que as peças eu pagava o quanto queria e a cerveja em São Paulo custa o dobro que em Minas (porém no cerrado não temos atendentes bonitinhas e educadas como as duas mocinhas dos Parlapatões que sempre procuravam a latinha mais gelada).

Resistindo ao calor da tenda do “maior evento de dramaturgia do país”, além de conferir no palco de besteirol as conversinhas sobre o teatro (com piadas internas), pude ter dois grandes prazeres: apresentar um texto inédito ao meio-dia, e esbarrar (sem querer querendo) na Cléo de Paris (ela é de verdade), pena que não tive a sorte de pedir desculpas (e quem sabe chamar pra tomar um drink, falar sobre o teatro paulista, se iria chover e tals).

Mesmo assistindo a peças que me ensinaram a ser um melhor cidadão, acabei estrapolando os limites de decibéis permitidos pelo PSIU depois das 5 da manhã. Ainda bem que existem diretores de teatro pra controlar a baderna de uma produção coletiva desorganizada (e dá-lhe Sr. Rodolfo carinhosamente falando com um certo paraibano e pedindo pra se divertir sem atrapalhar o sono dos bons moradores da Roosevelt).

Pode ser que um dos objetivos do evento seja proporcionar um diálogo sobre o teatro, pelo menos ouvi muita coisa de várias bocas (mesmo que pra isso tenha que alongar o pescoço pra ouvir conversinhas de outras rodas). Tinha atores na fila do Dramamix falando de seus conceitos pós-realistas em suas peças apresentadas pela manhã (horário de pouco público), reclamações sobre o barulho fora do teatro (que atrapalhava tudo), discussões de egos, troca de experiências entre a classe (muito bom ver que parte da galerinha só muda de endereço e RG) e até uma mulher indignada quando um senhor perguntou sobre o que era a peça. Ela me cutucou e disse: “como que pode, o negócio já é de graça e ainda quer saber sobre o que é! Tem mais é que entrar na fila e aproveitar. Eu já vi três peças hoje, e ainda vou ver umas duas.”

Resta-me esperar as próximas satyrianas, com mais sambinhas em caixa de fósforo, cerveja gelada, surpresas teatrais e o Corínthians na primeira divisão (e se não for pedir demais, um beijinho na Cléo e um abraço forte na Grace Passô lá na Vila Maria Zélia).

Maurício Alcântara

Confesso, essa foi a primeira vez que assisti a alguma peça nas Satyrianas (Show de Boate não conta como peça, né?). Na primeira vez, fiquei o tempo todo sentado numa mesa, em frente ao Satyros 1, me alcoolizando e rindo com amigos. Tipo, das duas da tarde do sábado até as 6 da manhã do domingo. Entre uma cerveja e uma ida ao banheiro do La Barca, umas puladas dentro de uma caçamba de entulho. Naquele tempo ainda era possível chegar às duas da tarde e era factível conseguir uma mesa. Naquela época, eu já havia visto boa parte da programação em cartaz no evento, e isso somado à minha extrema impaciência com filas me forçaram a ficar só na cerveja. Que chato!

No ano seguinte, fiquei apenas uma noite no evento, pois embarcaria no dia seguinte para o festival do Rio de Janeiro. E foi quase o mesmo tempo que pude ficar no evento deste ano (desta vez, os impedimentos foram ensaios e compromissos sociais, familiares e eleitorais). A diferença é que criei vergonha na cara (mentira!) e pude acompanhar um pouco do que acontecia na tenda do Dramamix.

Um evento nas dimensões das Satyrianas trazem muito o que pensar. A primeira coisa é em como faltam eventos culturais na cidade (quem me conhece sabe o quanto sou entusiasta de viradas culturais e cacarecos similares). Ver áreas normalmente inóspitas sendo preenchidas por pessoas que transitam tranqüilas no meio da madrugada faz pensar naquela velha história de que quem traz a segurança não é necessariamente a polícia, mas a presença das pessoas.

Isso automaticamente lembra o quanto o espaço bizarríssimo que é a Praça Roosevelt (agora ainda mais bizarro, depois que começou a se transformar em escombros) ainda requer uma ocupação maior. É bacana ver que o Dramamix revela à maioria das pessoas que existe um outro lado da praça, afastado das mesinhas da turminha descolada do teatro paulistano. É bacana ver uma pista de dança improvisada num canto da marquise. É bacana ver pessoas subindo e descendo da rampa – ainda que pra descobrir o que (não) acontece ali em cima.

E é bacana ver gente transitando pra lá e pra cá sem medo. Mas a praça Roosevelt, tão emblemática, continua sendo um elefante branco até mesmo quando ela é sede de um evento – ainda não se descobriu o que fazer com aquela marquisona e aquele pentágono de concreto.

E também não tem como não pensar na produção cultural que rola na praça (aqui embalada num grande laço festivo) – muito diversa e, ao mesmo tempo muito característica, e que atrai públicos igualmente muito diversos e, ainda assim, muito catacterísticos. Pensar nas pessoas que são atraídas também faz pensar nas pessoas que (ainda) não são atraídas – e isso aponta para o desafio das Satyrianas se firmarem definitivamente no calendário “civil” paulistano (e não apenas no calendário do pessoal do teatro paulistano).

Mas essas são mudanças que só o tempo pode confirmar. Enquanto isso não se torna evidente, toda primavera (e verão, e outono, e inverno, se possível) vou continuar indo lá na praça pra me alcoolizar. Só pra conferir, ano a ano, como anda aquela bagunça. E se voltarem os shows de boate bizarros, melhor ainda.

Leca Perrechil

– Tem uma peça à meia-noite nos Parlapatões que acho que vc ia gostar. Tá afim?

– Vamos.

РVoc̻ pode nesse finde?

– Vou ver, depois te falo.

– Ah, esqueci que vai ter as Satyrianas. Duvido que a gente consiga entrar meia-noite nos Parlapatões nas Satyrianas… Vamos semana que vem?

– Eu topo.

Praça Roosevelt abarrotada de gente. Muita bebida e comércio informal, com destaque para o hippie da pinga com mel (com direito a recarga, tipo pipoca do Cinemark, pra quem tomasse no copo de bambu). Tanta gente que dava até preguiça de passar muito perto da porta dos teatros, de tão aglomerado que se via por lá. Até tinha vontade de ver determinadas peças, mas como algumas continuariam em cartaz na próxima semana, resolvi não me estapear por ingressos e entrar no clima da festa, ou seja, da cerveja. Duas Satyrianas atrás, até dava pra gente sentar nas mesinhas dos Satyros pra beber e papear. Agora era impossível, então sentamos nas escadas da praça mesmo.

Em uma das madrugadas, como ainda não havia localizado os bacantes resolvi dar uma voltinha lá na parte de cima da praça. Subi a rampa (curiosamente a prometida “reforma” destruiu as paredes ou qualquer tipo de segurança da rampa) e senti um dos benefícios das Satyrianas – poder passear por ali, 1h da madrugada, sem ficar com medo ou ser assaltada.

Também pudemos usar o evento como pretexto pra reunir (quase) todos os integrantes da Bacante, inclusive aqueles de João Pessoa e Uberlândia, pra comer pizza e tirar a foto oficial pra pendurar na redação.

Já o Dramamix, que era pra ser uma das partes mais legais das Satyrianas – sem precisar ser um espetáculo longo e fechado, e por isso mesmo mais livre e aberto a criações e experimentações – acaba não conseguindo atender a forma e demanda (assim como um curta-metragem não tem a mesma estrutura de um filme de longa, traz uma estética diferente e alguns chegam a ousar mais na forma do que o longa, já que não precisam contar histórias de 1h e pouco. Peças curtas também não precisam trazer a estrutura de uma longa). Afinal, são 75 mini-montagens curtas. Fica parecendo que tudo foi organizado de última hora, com grupos lendo o texto na hora, ou apenas seguindo-o a risca, sem nenhuma estética ou preocupação com a cena. É claro que não dá pra generalizar, mas se alguém viu três ou quatro das 75 mini-montagens do Dramamix e não deu muita sorte, certamente preferirá a cerveja do que ver as outras 70. O que é uma pena, porque a idéia do projeto em si é muito bacana e mantêm as atividades teatrais o tempo todo, mesmo quando os espetáculos dos teatros ao lado estão tirando o ronco matinal.

De resto, o pessoal da Bacante continuará pela Praça Roosevelt acompanhando as Satyrianas… nem que seja pra beber cerveja (comprada da padaria de trás, que é mais barato) e pra tirar fotinhos pra encher nosso mural de casa.

Valmir Jr.

Com a minha participação nas Satyrianas do ano passado, com “Amores Dissecados” (já criticado aqui), experimentei a sensação de me apresentar em um evento diversificado e significativo para a cidade de São Paulo, afinal, às 16h do domingo, o Satyros 1 ficou lotado para nos assistir (veja só, também aqui). Acabei assistindo apenas um vestígio de peça, no Dramamix. Era um fragmento inacabado de um espetáculo.

Por outro lado, neste ano, apenas como espectador, vi uma representação maior de uma coisa que já acontece na Praça Roosevelt. Muita gente bebendo, menos movimento nos teatros. Era de se esperar que, em um evento com “pague quanto puder”, ou “pague nada” no Dramamix, fosse lotar tudo. Mas não. Lotaram as ruas. De gente bebendo.

O ápice foi encontrar gente que já pensa em como lucrar com o evento, vendendo cerveja a R$ 3,00. Ora, o Parlapatões anunciava com uma impressão de Word que sua cerveja estava a esse valor. Mas tinha gente com seus carros parados vendendo e anunciando a esse preço. Uma amiga, perguntada se havia assistido a alguma peça, me respondeu: “Não, vim beber”. Legal. É o pensamento reinante.

No Dramamix, fragmentos inacabados e peças se revezavam. Mas triste mesmo era a atriz lendo o texto, papel na mão. Ou a escola de samba em cima do “plenário gigante” da praça, com um som alto que nem as vozes altas dos atores podiam competir. Alguns textos pareciam acabar de repente. Tipo: “acabou, deu uma hora, amarremos as pontas”. Nope, nope. Assim não, né? Mas teve coisa legal sim, é verdade.

A iniciativa é do cacete, salve os Satyros, mas o problema mesmo é a educação do público ou o público. Se são as mesmas rodinhas freqüentadoras da Praça que freqüentam a Satyrianas, aí é o público-amigo. Quero o público-público. Aquele que caiu por ali porque quer teatro, assistir teatro, sem compromisso com a brodagem. O público-público parece ter vindo timidamente. Só se via carinhas conhecidas por ali. Não, esse não pode ser o evento na Praça Roosevelt feito para a Praça Roosevelt.

Minha impressão é de que a grande festa do teatro precisa ser DENTRO DO TEATRO. Não na rua, regado a cerveja barata, música, olhares e wannabes. Implode logo a praça, faz favor? Ou as Satyrianas vão se transformar em rave…

Fabrício Muriana

Esse foi o ano da minha terceira Satyrianas. A diferença da primeira (2006) pra essa, foi que passei de participante/performer/corneteiro, pra morador da praça (não do lado dos teatros, mas do lado negro da força). E o que vejo nesses três anos de mais interessante é o incontrolável.

No primeiro ano, havia uma caçamba e quem estava lá não vai esquecer de quanto ela foi a faísca pra estourar esse incontrolável. Havia também ovos caindo das janelas (em mim, inclusive), a mesma tentativa de conter a turba (presente em todos os anos). Sim, havia peças, muitas delas, nos três anos, mas somente no primeiro fui atrás de vê-las.

Acho que essa é a constatação mais plena, ao longo desses três anos pra mim: na Satyrianas, o teatro é uma desculpa. Talvez a melhor desculpa, pra fazer tudo que se quer, numa praça que nunca tem aquele movimento ao longo do ano e que tem que ser ocupada. Não porque assim os moradores de rua não vão ocupá-la (não é uma disputa com eles, até porque essa luta inglória eles já perderam pra GCM, pro povo que joga água na praça todas as noites e pra renovada gestão Serra-Kassab-Andrea Matarazzo, a mais higienista do Brasil), mas porque o espaço público, sobretudo no centro, tem de ser reocupado. E não só por meio da criação de salas de teatro, mas a rua tem que ser tomada, a praça, temos que nos sentir possuidores daquele espaço, como acontece na Satyrianas.

Mas e o Dramamix? O Astier simbolizou bem o que sinto com uma nova nomenclatura: Dramatrix. É o simulacro da dramaturgia nacional. Se os textos que passaram por aquela tenda forem a fagulha pra um incêndio que virá na dramaturgia nacional, aposto que o fogo seguirá brando. Fomentar a dramaturgia pede uma outra estrutura, menos fechada em tendas, sem palco italiano simulado e sem esse conceito de Se vira nos Trinta. O que vejo de excepcional na experiência do Dramamix é notar que é possível colocar amadores e profissionais circulando pelo mesmo espaço (por mais que os amadores fiquem com os piores horários) – coisa que não acontece na maior parte dos festivais. O que sinto falta é o novo. Dramaturgias que partam de imagens, de textos sem palavras, de situações menos reais, de trabalhos coletivos, de autores que se preocupam menos com qual leitura se fará de “suas obras”. Esses textos não cabem nem caberão naquela tenda e naquele palco.

O resultado geral? 10 latinhas de cerveja, uma garrafa de cachaça, muitos encontros potentes, amigos distantes circulando em casa, muita discussão não programada sobre o teatro e pouquíssimas peças vistas. Negando em parte a programação oficial, acabei encontrando exatamente a estrutura que propusemos para um festival utópico, em que as peças seriam o de menos e as conversas seriam o de mais.

Longa vida à bebedeira com gente que gosta de teatro!

Juliene Codognotto

O que deu

Nas Satyrianas 2008 (nona edição), eu consegui passar pela praça Roosevelt sem ter medo (e olha que eu passo quase diariamente e sem medo é bem raro) porque ocupação, muitas vezes, é igual a segurança; consegui tomar bastante cerveja e pinga com mel pra piorar/melhorar minha dor de garganta psicosomática; consegui fazer percussão corporal com caixa de fósforos depois de muito observar o Emilliano (expoente na prática); consegui rir muito; e consegui até ver o Gianecchini. Sem contar a foto com o Fabiano Augusto, um dos momentos mais emocionantes da minha vida e, sem dúvida, minha melhor atuação em teatro de rua. E, finalmente, realizamos – apesar de algumas ausências importantes – o Encontro Nacional dos Colaboradores da Bacante, com direito a Cartola (a sobremesa, não o chapéu), ônibus lotado, pizza e muita conversa. O suficiente pra entender mais ou menos que tipo de pessoa a gente atraiu pra essa bagaça. Que bom.

O que não deu

Só não consegui, mesmo, foi ver teatro, falar de teatro e essas coisas chatas que tem gente que ainda quer… dizem que muitos conseguiram e é mesmo provável, já que duas da peças que tentei ver estavam completamente lotadas. Até aí, maravilha. Bêbadas ou não, as pessoas foram ao teatro às 2h, 4h, 6h da manhã. Algumas viram peças bacanas como Ele Não é Meu Filho, outras viram leituras dramáticas eternas como História de Amor, do Vertigem, e a maior parte pareceu sair do teatro feliz com seu copinho de bambu na mão, a caminho do posto de abastecimento da pinga com mel. Mas, por mais que eu me esforce, não consigo entender o fato de chamarem o DramaMix de “maior festa da dramaturgia nacional”. Maior ou menor, há mesmo muita festa… já dramaturgia, há que se pensar, não? Dentro do calor da tenda branca, cenas curtas, parte delas ensaiadas ali mesmo minutos antes, boa parte delas auto-referenciais do início ao fim (coisas do teatro, coisas da Roosevelt, pessoas da Roosevelt… blablabla), boa parte delas assustadoramente clichês – como a versão masculina de As Olívias Palitam, com a ressalva de que lá são meninas esbeltas e gatonas e aqui são o Bortolotto e o Rubens Paiva.

Então, estamos falando aqui de abrir espaço para “todos os meus amigos” que fazem dramaturgia? Ok, muito legal. Mas aí não é a festa da dramaturgia. Ou é, mas é festa privada, tipo fechar a Roosevelt pra festa de aniversário. Devo destacar que não voto pela queimada da tenda branca para sempre, não é isso. Acho, desde o começo, uma puta iniciativa, até porque foi bem novo ver os senhores e senhoras que moram no meu prédio assistindo loucamente peças que rolavam durante toda a madrugada. No entanto, penso que passou da hora de pensar critérios de curadoria, mesmo. Não limitantes, mas que tragam um pouquito mais de conceito pro evento. Afinal, estamos falando de quê? De dramaturgia contemporânea? E o que é isso? Vamos pensar sobre isso? Vamos produzir isso? Vamos ressignificar isso? Eu, obviamente, não vi todas as cenas, mas de todas que vi nenhuma propunha qualquer inovação seja na dramaturgia ou na montagem, nem qualquer apropriação de texto (opa, foi mal, falar em apropriação na festa da dramaturgia deve ser como falar em demônio pra um pregador na Sé). Enfim, não sei se retratos do contemporâneo são possíveis de realizar em 15 minutos. Nem de preparar em cima da hora. Talvez possam ser. Não foram.

O que deu vontade

Fiquei com vontade de ver os curtas do CineMix, mas sempre perdia a hora. Tentei umas três vezes ler a história coletiva dos cartunistas e ainda tô curiosa, mas tava grande e no meio de uma calçada com pessoas passando o tempo todo. Queria ter visto mais manifestaçãoes artísticas-coletivas-espontâneas como a ciranda e a roda de samba, já que o maior valor dessa festa é, na minha opinião, a possibilidade do encontro, a tal da “mesa do café no escritório” de que falam os caras do Luna Lunera. Fiquei com vontade, mais do que tudo, de ver o Rodolfo García Vazquez caindo no samba às 4h da manhã – com o Astier pedindo a ele que maneirasse o tom por causa do PSIU.

'16 comentários para “Satyrianas 2008”'
  1. por que o fabiano está na foto e eu não!? : (

    rsrsrs. ficou linda a foto! ANTOLÓGICA!
    finalmente! achei que vocês tinham medo de aparecer! hahaha

    agora só falta a leca… ; )

    beijos muitos!!

  2. ah! falta o marco albuquerque também.

    se ele ainda quiser falar comigo. rs

  3. o ´dramamix´ com texto do joão fábio cabral foi bom. mas o melhor de todos para mim foi ´soltando os cachorros´. no programa consta como sendo texto do rodrigo murat. mas o conheci, e na verdade ele só organizou os textos de três autoras feras. entre elas, hilda hilst.

  4. e sim, julie: os curtas da ´Fuleragem´ no Cinemix foram INCRÍVEIS! todos os três. veja veja veja! assim que puder. muito bons!

  5. Astier Basílio disse:

    acho q a leca tá aí sim, com cara de assustada. Ela está ao lado do mau como sói a uma boa moça 🙂

  6. não gato, eu quis dizer que falta você me apresentar a leca e o marco… rs. 😉 beijo!

  7. ahhhhhhhhhhhhhhh
    sim. Mesmo. Foi massa “eu” ter te apresentado
    aos teus amigos de Sampa

  8. Valmir disse:

    Maria Clara,

    A Leca é a única moça da foto com cara de quem quer dar na cara do fotógrafo.

    E o Maurício o único bacante a fim de matar geral.

    Beijo!

  9. As pessoas abortaram a idéia de fazer cara de crítico sério e não avisaram.

    Isso é sério, poxa!

    hahaha

  10. RR disse:

    é o menino das Casas Bahia?

  11. Fabrício disse:

    Não! O Maurício é o da camiseta marrom “22 Kiev”.

  12. Leca disse:

    Oi, Maria Clara
    O Mau me disse que se eu tivesse chegado cinco minutos antes na Praça, teria te conhecido. Pena. Mas podemos ver um dia pra vc me conhecer e conhecer o Marco 🙂

    bjos.

  13. vou adorar, leca! se o marco quiser, claro. rsrs.

    beijos!

  14. Marco Albuquerque disse:

    Vamos marcar sim.
    E nem preciso comentar sobre a minha tristeza por não estar nesta foto histórica…

  15. Juli =) disse:

    Você está bem representado, Marco! rssss E deu trabalho pra conseguir isso! rssssssss

  16. Luh disse:

    Bom, melhor momento pra mim, como idealizadora do Fotomix, foi ver a Cléo de Páris querendo fotografar nós, os fotógrafos, trabalhando na projeção das imagens em baixo da marquise, em seguida o Fábio Penna também. Tenho fotos para comprovar!!! Foi lindo! Muitas coisas foram bacanas, atuar pela terceira vez nas Satyrianas e ter 17 fotógrafos dentro da tenda, desenvolver esse nosso projeto maluco pela segunda vez, conhecer um monte de entusiasta como fome de imagem e não querendo ir embora pra casa. Ver tanta gente bacana circulando e se sentir seguro naquele espaço que, em outras ocasiões é tão amedrontador! Ah, ver gente querendo “mostrar a bunda” voluntariamente e ainda querer ser fotografado por isso! Cada coisa que só as Satyrianas tem! Abraços!

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