O Casamento do Pequeno Burguês

Críticas   |       |    17 de dezembro de 2007    |    2 comentários

Festas de Família

Foto: Pablo Pinheiro


Festa de Família, de Thomas Vinterberg, foi o primeiro filme do movimento Dogma 95, que propunha uma radicalização estética no sentido de reduzir o fazer cinematográfico ao mínimo e de alterar a relação ator-câmera, colocando o primeiro no comando. Muito mais pelo enredo do que pela linguagem, Festa de Família nos faz lembrar O Casamento do Pequeno Burguês, que esteve em cartaz no Tusp, com o Grupo de Natal (cidade do Rio Grande do Norte, não a festa do gordo barbudo) entrevistado pela Bacante, Clowns de Shakespeare.

Em O Casamento, Bertolt Brecht revela o que está nas entrelinhas dos diálogos em festas familiares e, por meio do humor, nos faz refletir sobre aquilo que a vida não deveria ser. Talvez fosse isso que os Clowns gostariam que entendêssemos ao iniciar a peça, já que a moral da história nos é apresentada antes mesmo da fábula. Descontado o desacerto na fala do personagem de Marco França, embarcamos numa releitura do universo familiar muito mais divertida (no sentido de dar risadas sinceras) do que a releitura de Festa de Família – mas nem por isso menos niilista.

Os Clowns radicalizam as tensões sexuais na história de Brecht e adicionam um pouco da picardia nordestina de que eles comentam na citada entrevista. Lembro da minha vovó começando a frase que nunca acabava “por fora, bela viola…”. Enquanto a festa vai passando, vão desmoronando literalmente todas estruturas que sustentam os personagens, no caso, os móveis.

Com partituras que se assemelham à dança, gags incorporadas que quase sempre funcionam e uma trilha que conduz a peça tanto quanto ou mais do que boa parte da coreografia, os Clowns conseguem se apropriar do texto de Brecht com autonomia. Tal e qual a peça Festa de Abigaiú (tão notando como a palavra festa tá em todas quando o criticado é o burguês?), refletem a platéia em cenas que chegam a ter luzes acesas sobre o público.

Talvez o ritmo da peça, mesmo com a ajuda da música, ainda não tenha atingido a velocidade a que pode chegar. Esta opção nos faz ao mesmo tempo pensar que existe a sugestão da monotonia e/ou a coisa pode ser mais rápida mesmo. Fica, ao fim e ao cabo, a imagem da cristaleira, que emperra e não mostra o que esconde a burguesia, sugerindo as agressões presentes em Festa de Família e o que não é dito, mas está no palco em A Festa de Abigaiú. Os Clowns deixam então a sua marca com Brecht, dialogando com muita gente do seu tempo.

3 festas que parecem da mesma família

'2 comentários para “O Casamento do Pequeno Burguês”'
  1. karen eduarda pavao disse:

    oie eu adorei esssa peça gostaria de ver de novo bjsss

  2. quero receber todas as noticias do casamento do pequeno burgues

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